Em 'A pele do futuro', Gal Costa cai na balada com Marília Mendonça: 'Não tenho preconceito'

Inspirado na onda disco dos anos 70, álbum traz canções de Djavan e Gil mescladas ao repertório de novos compositores

por Cecília Emiliana 14/10/2018 06:00

Bob Wolfenson/divulgação
(foto: Bob Wolfenson/divulgação )

E se eu estiver distante/ Não quer dizer que eu não te ame (...) Amar sozinho também é amor.” Os versos são de Marília Mendonça, uma das divas da sofrência brasileira. Quem os ouve, no entanto, não sente ímpetos de cortar de pulsos. Muito antes pelo contrário, a canção desperta a vontade de balançar os braços e os cabelos à la Sônia Braga na saudosa novela Dancin’ days.


Quem “vira a chave” do modo fossa para o modo dançante é Gal Costa, de 73 anos. A faixa Cuidando de longe integra o repertório de A pele do futuro, o novo disco da veterana da MPB. Com direção artística de Marcus Preto e direção musical de Pupillo (ex-Nação Zumbi), traz 13 canções inspiradas nos ritmos que embalavam as discotecas nos anos 1970.


“Existiu um certo preconceito por parte do meu público quando anunciei o convite a Marília Mendonça. Mas sou tropicalista, né? E não tenho preconceito. Estava decidida a gravar uma sofrência em ritmo de dance music, achei que nada era mais genial do que isso. A primeira pessoa que pensei chamar foi a Marília. Menina muito talentosa, ela se distancia dos outros artistas de seu estilo, na minha opinião. Tem uma maneira de compor e cantar maravilhosa. Tenho profunda admiração por Marília”, elogia a baiana.

GABRIEL Curiosamente, a fagulha setentista que deu origem ao CD veio de um garoto nascido quase meio século depois dos áureos tempos das meias de lurex com sandália. Foi Gabriel, de 13 anos, quem despertou o desejo da mãe de gravar disco music.


“Um dia, ele veio pra mim com uma gravação da Glória Gaynor, I will survive. Disse assim: ‘Mamãe, você gosta? Aposto como você não conhece esta cantora’. Então, falei: ‘Conheço, filho. É da minha geração’. Gabriel é louco por tudo dos anos 70, a turminha dele também. Foi aí que me veio o estalo de que esse negócio está voltando”, conta Gal.


A balada dance da baiana é aberta por Sublime, criação do compositor Dani Black, que, logo nos primeiros segundos, explode feito um globo espelhado. Vida que segue, de Hyldon, mantém a pegada ao se aproximar do balanço de Tim Maia. Dentro da lei, de Djavan, e Puro sangue, de Guilherme Arantes, remetem ao R & B de Michael Jackson.


O momento de dançar agarradinho no salão fica por conta de Livre do amor (Adriana Calcanhotto) e de Viagem passageira (Gilberto Gil). A saideira da noite é Abre-alas do verão, dobradinha de Erasmo Carlos com o rapper Emicida. Um jovem talento que marca presença no repertório é Tim Bernardes, de 27, destaque da banda O Terno.

DONA MARIAH Outras canções são assinadas por Paulinho Moska, Silva e Jorge Mautner, autor da belíssima Minha mãe, que Gal canta com Bethânia. O parceiro de Mautner é César Lacerda, de 31 anos, mineiro de Diamantina.


“Mautner fez essa música pra dona Canô e pra minha mãe (Mariah Costa Pena, falecida em 1993), de quem era muito amigo. Jorge a visitava com frequência, passou muitas tardes tomando chá com ela. Então, resolvi chamar a Bethânia pra cantar comigo. Achei linda, até chorei quando ouvi a canção. E ele gostou da gravação. Outro dia, mandou um e-mail dizendo que estava maravilhoso”, revela Gal.

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