Braz é dos cantores que equilibram a lágrima na voz sem deixá-la cair. Fica o fio de choro o tempo todo. Aprendeu com Milton Nascimento. Sua escolha de repertório parece passar por um critério poético apurado, sem desperdiçar sílabas.
Abençoado Gilberto Gil. Quando percebeu os 50 anos a caminho, o cantor resolveu fazer sua comemoração em disco e mandou os convites. Milton aceitou, Chico aceitou e Gil aceitou. A festa se converteu em um encontro de pessoas que há muito não se cruzavam em um estúdio. “Como fizemos coisas bonitas nessa vida, né meu parceiro?”, disse Chico a Milton, depois de ouvirem o resultado de Levantados do chão. “Eu queria ter essa foto na minha cabeceira para sempre”, conta Braz. “Olha aí o violão mais bonito do Brasil”, falou Milton olhando para Dori Caymmi.
O resultado é um álbum dos mais belos, sobretudo, pela voz de Renato Braz. As pessoas que estão a seu redor não vieram por pagamentos ou piedade, mas por o conhecerem de tempos. São mestres que se tornaram patrimônio pessoal. Milton, Chico, Gil, Dori, Cristóvão Bastos, Alice Passos, Cezinha Oliveira, Eduardo Gudin, Guinga, Karine Telles, Miúcha, Proveta, Nelson Ayres, o saxofonista norte-americano Paul Winter, o português Roberto Leão e o baixista Rodolfo Stroeter estão entre eles. Mario Gil fez com Renato a direção e Carolina Gouveia, a produção. “Há um ano e meio falei com Mário Gil: ‘Cara, preciso encontrar o Milton Nascimento, ele é minha maior referência, o cara que mais ouvi na vida’.” Inspirado pela ideia de Mario Gil, o que seria um disco com Milton se tornou um álbum com todos.
De Milton e Chico, Levantados do chão, no vocal aberto e cheio de brilho de Renato, ganha pegada mesmo na bateria leve de Jurim Moreira.
Quando chega Cálice, outro momento de encontro entre Chico e Milton, já passaram Pajé (Mario Gil e P.C. Pinheiro); Longe de casa eu choro (de Gudin e Paulo Vanzolini), com o violão de Gudin; e Ne me quitte pas (com Miúcha no canto). Mas Cálice é um arrebatamento, atualizada em cada palavra, reforçada em cada compasso. Além de Braz, cantam Milton, Chico, Roberto Leão e Mario Gil, com solo de sax de Paul Winter.
Não há nada de milagreiro no jeito de Renato Braz tocar seu barco. Cada nome está ali ao seu lado por saber o quanto tem de verdade na voz do anfitrião. O vento faz o resto.
CANTO GUERREIRO – LEVANTADOS DO CHÃO
• De Renato Braz
• Independente
• Preço médio: R$ 30.