Frejat faz show voz e violão no Palácio das Artes

Ídolo de gerações, músico famoso pela atuação no Barão Vermelho realiza apresentação em formato intimista e com quase 100% de músicas autorais neste domingo

por Walter Felix 29/09/2018 08:52
Agência News/divulgação
Frejat faz show intimista no PA (foto: Agência News/divulgação)
Aos 56 anos e com quase quatro décadas dedicadas à música, Frejat está na estrada com um novo show. Desta vez, porém, ele dispensa a banda, abandona a guitarra e sobe ao palco no formato voz e violão. O ex-líder do Barão Vermelho rechaça, contudo, a hipótese de que a atual fase seja menos rock ‘n’ roll. “Não há a menor condição de eu abandonar essa linguagem elétrica, que faz parte da minha vida”, garante o cantor, que se apresenta neste domingo (30), no Palácio das Artes.

Em paralelo ao novo formato, o som pulsante e os solos de guitarra ainda têm espaço na agenda de Frejat. Foram justamente os shows com banda, em que revisita antigos sucessos, que despertaram no artista o desejo por uma apresentação mais comedida e autoral. Quando subia ao palco prometendo o rock em sua forma clássica, parte significativa do repertório era formada por letras de outros compositores.

“Esta é uma outra possibilidade de relação com o público, com uma proximidade que me agrada bastante. O show acontece só em teatros, ambiente necessário para esse tipo de apresentação, em que o artista está muito exposto, e o público precisa estar concentrado. Não dá para o cara assistir enquanto fala alto e bebe cerveja”, diz Frejat.

Íntimo da guitarra, o instrumentista encara o violão como um desafio. “Como guitarrista, sempre toquei violão com paleta. Nesse show, toco a maior parte do tempo com o dedo, o que configura uma mudança técnica muito grande”, comenta. “As possibilidades de solo são mínimas. Trabalho outros tipos de elementos para poder ter um pouco de diversificação musical. Tudo que faço fica maior neste show, parece se ampliar.”

TUDO AINDA 

No setlist, apenas duas canções não foram compostas por ele: Carpinteiro do universo, de Raul Seixas e Marcelo Nova, e Trocando em miúdos, de Chico Buarque e Francis Hime. Todo o restante do repertório é de sua autoria, a exemplo de seu mais recente single, a romântica Tudo ainda. “É uma música que compus ao violão. Nunca consegui ouvi-la com outra moldura além desta, mais orquestral.”

“Cada música tem o seu som. Com o show Voz & violão, busco justamente essa liberdade de apresentar um trabalho em que não estou acompanhado por uma banda. Não poderia gravar Tudo ainda com o Barão, por exemplo. Já pensou: enquanto canto e toco violão, o que faria o restante da banda – baixo, bateria, percussão e teclado?”, brinca o cantor. Cofundador do Barão Vermelho, Frejat esteve por mais de 35 anos à frente do grupo, do qual se desligou em 2017. Desde então, dedica-se à carreira solo, ensaiada paralelamente à agenda do Barão, desde 2001.

“Já fiz música de várias maneiras e estou sempre aberto a outras que possam aparecer. Com o tempo, fui cristalizando minha forma de trabalhar e dizer as coisas. Minha verve artística caminha por essa linha divisória entre estar no padrão de qualidade e quebrá-lo para ir a um outro lugar, fazer músicas diferentes. Não por conta da qualidade, mas para alcançar outras formas e porque ficar enjaulado em um padrão pode levar à mesmice”, diz Frejat.

JOSÉ 

Filho do advogado José Frejat, de 94 anos, que foi candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro e deputado federal por dois mandatos, Frejat conviveu com a política desde cedo. Do pai ele acredita ter herdado a visão nacionalista e o ímpeto de querer ajudar o Brasil, à sua maneira. “Sempre tive uma preocupação em saber se fazia algo representativo, em ser um artista brasileiro e poder acrescentar à nossa cultura. Não com aquela postura xenófoba, que existiu por muito tempo, e minha geração acabou enterrando, que entende o rock como música do imperialismo. Conseguimos quebrar isso e mostrar que o rock faz parte da música popular brasileira”, afirma.

Neste momento em que artistas se veem no olho do furacão eleitoral, tendo suas posições questionadas e, vez ou outra, cobradas pelos fãs, Frejat opina que não é obrigação de um artista se posicionar politicamente em público. “Arte e política dificilmente se misturam bem. Acredito que todos têm a obrigação de ter uma posição política e eu, como cidadão, tenho a minha. Mas não é bom identificarem sua posição política com sua arte, porque o público tende a deixar de gostar do seu trabalho por conta de sua posição. Mesmo no caso contrário, a relação estará deformada.”

Por outro lado, ele defende seus colegas que têm tido as opiniões políticas desqualificadas por pressupostos infundados. “Vejo, dentro dessa discussão política, a colocação dos artistas como parasitas da sociedade, como se vivêssemos às custas do Estado. A Lei Rouanet tem seus defeitos, mas também tem muitos méritos. Assisti a muitos espetáculos bons que foram financiados por ela.”

Frejat reforça que o partidarismo não o atrai, mas não se furta em opinar sobre o atual cenário. “Estamos em um momento muito sério da política brasileira, em que devemos ter claramente na cabeça que a democracia é um grande passo da civilização. Não podemos abrir mão dela, isso é fundamental. Temos que aprender a respeitar as diferenças, discutir esse assunto e chegar a um consenso. Assim é a política dentro de um ambiente democrático. Fora isso só existe a barbárie e prefiro estar longe dela.”

FREJAT – VOZ & VIOLÃO
Domingo (30/9), às 19h. Grande Teatro do Palácio das Artes. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400. Plateias 1 e 2: ingressos esgotados. Plateia 3: R$ 110 (inteira) e R$ 55 (meia-entrada). Recomenda-se verificar a disponibilidade no site ingressorapido.com.br. 

Palavra de músico 

 
"Já fiz música de várias maneiras e estou sempre aberto a outras que possam aparecer. Com o tempo, fui cristalizando minha forma de trabalhar e dizer as coisas. Minha verve artística caminha por essa linha divisória entre estar no padrão de qualidade e quebrá-lo para ir a um outro lugar, fazer músicas diferentes”


Acredito que todos têm a obrigação de ter uma posição política e eu, como cidadão, tenho a minha. Mas não é bom identificarem sua posição política com sua arte, porque o público tende a deixar de gostar do seu trabalho por conta de sua posição. Mesmo no caso contrário, a relação estará deformada”


Estamos em um momento muito sério da política brasileira, em que devemos ter claramente na cabeça que a democracia é um grande passo da civilização. Não podemos abrir mão dela, isso é fundamental. Temos que aprender a respeitar as diferenças, discutir esse assunto e chegar a um consenso”

Frejat, cantor e instrumentista

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