Uai Entretenimento

Cantora Iza estreia turnê do seu primeiro disco, 'Dona de mim', em BH


“Se o deles é chique/ Nosso é pau a pique/ Que não mata o pique/ Fortalece equipe/ O som do repique/ Peço que amplifique/ Toca da Rocinha/ Chega em Moçambique.” O poema ritmado das letras da carioca Iza revelam uma trajetória de luta que atravessa o racismo e evidencia a importância da presença da mulher negra para a articulação de novas formas de pensar. Esses versos compõem Pesadão, parceria com o cantor Marcelo Falcão. A canção já ultrapassa a marca de 167 milhões de visualizações no YouTube e figurou entre os 50 hits mais tocados no Spotify.

Nesta semana, a cantora chega a Minas para três shows da turnê do primeiro álbum, que carrega no nome uma autoafirmação: Dona de mim. O disco reúne composições que vão desde a celebração da capoeira e da cultura afro – Ginga, com participação de Rincon Sapiência –, ao retrato do poder feminino de Esse brilho é meu. Nesta quinta (23), Iza é atração principal da 11ª edição do Proação Fashion Day, desfile beneficente promovido pela ONG O Proação. A cantora participa também, no sábado, do Breve Festival.

De Olaria, no Rio de Janeiro, Iza – nome artístico de Isabela Lima –, mudou-se ainda na infância para Natal, onde teve o primeiro contato com a música. Na capital potiguar, começou a cantar no coral de uma igreja, mas não investiu no ramo e, de volta à capital carioca, formou-se em publicidade e propaganda pela PUC-Rio. No entanto, não demorou a atender aos incentivos familiares para embarcar na carreira artística.
Em entrevista ao EM, a cantora de 27 anos conta que a paixão vem do berço. “Minha família é muito envolvida nesse meio, minha mãe é professora de música, mas eu não achava que poderia ser a minha profissão”, diz.

Há dois anos, Iza se projetou por meio do canal YouTube, no qual publicava covers de artistas renomadas – Nina Simone, Rihanna e Adele. Na rede social, a releitura de I put a spell on you alcançou mais de 3 milhões de visualizações. Em preto e branco, a produção foge de distrações estéticas para destacar a potência de uma voz que não se intimida frente a tarefa de reproduzir a clássica canção norte-americana. Mesmo com o inglês na ponta da língua, ela afirma que ainda é cedo para pensar em carreira internacional.

O primeiro trabalho inclui parcerias com Ivete Sangalo, Ruxell, Carlinhos Brown, Gloria Groove, Marcelo Falcão e Thiaguinho em canções que não se prendem ao pop e passeiam pelo rap, trap, blues e R&B. As músicas foram feitas pensando em cada artista, e as parcerias tiveram papel importante para que o disco caísse nas graças do público. “São pessoas que estão há bastante tempo no mercado, são respeitadíssimos, então, com certeza, isso atraiu novos públicos, o público deles.
Muitos fãs desses artistas começaram a acompanhar meu trabalho a partir disso”, admite. Além do repertório do álbum, o set list dos shows inclui, para a alegria dos fãs, a performance de Arrasta, parceria entre Gloria Groove e Léo Santana.

DONA

Minas será o terceiro estado a receber a turnê Dona de mim, que estreou em São Paulo e segue até novembro. Durante a apresentação, um telão exibe trechos do famoso discurso de Martin Luther King “I have a dream”, momento de emoção para quem sente na pele os ecos do racismo ainda hoje. “Foi um show que me deu muito trabalho pra montar, os vocais, os vídeos, a coreografia, então fico muito feliz vendo isso ser reconhecido, foi o assunto mais comentado do Twitter e os fãs elogiam a todo momento”, revela a intérprete.

Em Linha de frente, canção de abertura, um recado: “Saímos do gueto mas o gueto nunca vai sair de nós”. A letra remete à infância, período no qual sofreu racismo por ser a única negra da escola. Dessa época a cantora conta que tomou como missão lutar contra a ignorância e por respeito. “Ali começou o racismo, não foi bullying. Isso influencia na autoestima de qualquer pessoa, mas, com o tempo, aprendi a responder e a não me calar, a não me sentir inferior por isso.” Apesar da militância, não pretende se confinar nesse nicho.
“Nesse álbum, falo de sexo, traição, dor, obstáculos, perseverança, acho sempre bom cantar sobre tudo”, explica.

Ao citar suas influências – Etta James, Donna Summer, Elza Soares, Alcione e Zezé Motta –, fica clara sua postura de afirmação da mulher negra na música. “São todas mulheres poderosas que se comunicam muito bem pela música, por isso me inspiram.” Conhecida pelas longas tranças, Iza compartilha com seus mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram diversos estilos de penteados. Conta que, quando criança, sentia falta de referências e se diz contente ao receber mensagens de meninas que colocaram as tranças por sua causa. “Significa que estou fazendo certo e que o mundo está mudando”, comenta, acrescentando que as mídias digitais são importante meio de contato e diálogo com seu público.

Atualmente, a cantora pode ser vista no programa Música boa ao vivo, do Multishow, e confirma ter descoberto um novo gosto apresentando TV. “Tenho tido a oportunidade de conhecer músicos incríveis, cantar com artistas com os quais nunca tinha dividido o palco e, apesar de minha agenda ficar mais complicada, tenho gostado muito”, destaca.

* Estagiária sob a supervisão do subeditor Pablo Pires Fernandes

11ª EDIÇÃO DO PROAÇÃO FASHION DAY
Show com Iza. Amanhã, a partir das 20h. Mix Garden (Rua Projetada, 65, Jardim Canadá, Nova Lima, (31) 3658-5798). Ingressos: R$ 190 (1º lote), pelo site goo.gl/fzVrwq.

BREVE FESTIVAL – MÚSICA PRA DURAR
Sábado (25), a partir das 15h. Mirante Beagá (Rua Gabriela de Melo, s/nº, Olhos D’Água, (31) 3889-2003). Ingressos: Passaporte para os dois dias: a partir de R$ 220 (inteira) e R$ 120 (1º lote/meia).
Sábado: a partir de R$ 120 (inteira) e R$ 80 (2º lote/meia). After oficial: R$ 20. Informações: goo.gl/4wcg3Z..