Banda Boogarins volta a BH com novo repertório

Os goianos, que se apresentam hoje e amanhã na cidade, comparam o palco à situação mista de criar e julgar ou não julgar o que foi criado

por Guilherme Augusto* 02/08/2018 07:00
A AUTENTICA/DIVULGAÇÃO
(foto: A AUTENTICA/DIVULGAÇÃO)
Não é de hoje que uma das cenas de rock autoral mais férteis do Brasil é a de Goiânia. De lá já saíram os Hellbenders, a Banda Uó e Carne Doce. Mas, se fosse possível escolher um nome para representar o rock goiano atual, certamente seria o quarteto Boogarins, que tem três discos de estúdio e uma notável carreira no exterior. Dois anos após sua última passagem por BH, o grupo desembarca n’A Autêntica para dois shows – nesta quinta (2), numa sessão extra agendada depois de os ingressos para amanhã terem se esgotado – com as músicas do disco Lá vem a morte (2017).

No palco, Dinho Almeida (voz e guitarra), Benke Ferraz (guitarra e voz), Raphael Vaz (baixo e synths) e Ynaiã Benthroldo (bateria) fazem uma espécie de jam session lisérgica de suas canções neopsicodélicas, presentes também em As plantas que curam (2013) e Manual ou Guia livre de dissolução dos sonhos (2015). “O desenvolvimento das versões ao vivo é constante e como fazemos muitos shows, toda vez que voltamos a uma cidade a coisa toda volta modificada”, diz Benke. “Tomar rumos inesperados e conseguir voltar para lugares seguros se tornou uma característica fundamental dos nossos shows.”

A segurança que eles têm para improvisar também lhes dá a liberdade para escolher um repertório diverso, em que cabem não só canções mais conhecidas, como Lucifernandis, Doce, Infinu e Foimal, como também o lado B representado por Selvagem e as experimentais Lá vem a morte partes 1 e 2. “A escolha prioriza o que costuma bater bem na galera. Costumamos combinar setlists e esquecê-los depois da terceira música, brincando de ‘adivinha’ com o pessoal da iluminação e projeção”, diz o guitarrista, que, no estúdio, também assume o papel de produtor.

Para Dinho, esses momentos servem para expandir suas habilidades como compositor. “Músicas únicas surgem desses momentos. Tem sido um reciclar no modo de fazer as coisas muito importante para nós como banda. É como se botar na situação mista de criar e julgar ou não julgar o que foi criado. É como perder o medo de botar as coisas para fora e ter que arrumar tudo na hora”, compara.

SENTIMENTOS
O quarteto não se limita a temáticas subjetivas e envereda pelos caminhos sinuosos dos comentários sobre o cotidiano, em tom crítico e político, como na música Elogio à instituição do cinismo. “Mais do que apontar o dedo para quem ou o quê está errado ou certo, quando a gente aborda esses sentimentos é mais sobre enxergar para dentro e aceitar que isso vive quente e espumando dentro da gente também. Na música, na vida, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo tem cinismo, tem amor verdadeiro, tem hipocrisia de todos os tipos, tem verdade. Enfim, a gente quer é conseguir sentir e viver melhor com esse emaranhado de sentimentos”, afirma Benke.

O status internacional, adquirido antes mesmo de eles colocarem o pé na estrada, fez dos Boogarins uma banda que surfa na crista da onda. “Sempre somos bem recebidos aonde vamos. Acreditamos na nossa música e entregamos uma coisa muito especial toda vez que vamos fazer algo juntos, como banda. Acho que quem assiste ao show, ou até ouvindo as músicas em casa sente isso, e é o que nos motiva a seguir fazendo as coisas assim, com entrega total”, diz ele.

Conhecidos pelas letras que parecem ter saído de um disco perdido da Tropicália, algo que mistura Tom Zé, Caetano Veloso e Mutantes, o grupo surpreendeu os fãs com o lançamento da música A pattern repeated on, a primeira com letra em inglês. “Pensamos e fazemos música acreditando na força dela como linguagem, o que vai além de palavras, dialetos e é algo mais primitivo, sobre sentir as coisas mesmo”, comenta Benke, ao ser questionado sobre a recepção dos fãs brasileiros, que se sentiram traídos, de certa forma. “Antes, a gente tinha mais pé atrás na hora de fazer música em inglês, pensando em como o pessoal aqui ia reagir. Entretanto, a gente está num ritmo de produção bem bacana e muito disposto a aproveitar esse fluxo criativo do jeito mais amplo possível. Essa é a prioridade do momento. Pro pessoal ficar tranquilo, a cada música em inglês podemos fazer um disco inteiro em português”, conclui.

*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes

BOOGARINS
Com Mineiros da Lua. Quinta-feira (2), às 22h, n’A Autêtica (Rua Alagoas, 1.172, Savassi, (31) 3654-9251). Ingressos: R$ 30, à venda no site Sympla. O show de sexta (3), com participação da banda Não,
Não Eu, tem ingressos esgotados.

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