Jorge Drexler embarca em longa turnê para divulgar disco novo

Roteiro começou por Nova York; músico já teve cinco indicações ao Grammy e ganhou um Oscar em 2005


Com um novo disco caprichoso, feito apenas com violões, Jorge Drexler, o músico uruguaio de maior sucesso no exterior  – ele acumula um Oscar e cinco indicações ao Grammy –, está embarcando em uma longa turnê, cujo pontapé inicial ocorreu com pompa em Nova York, no sábado passado (10).

O otorrinolaringologista que deixou Montevidéu e a medicina aos 30 anos para tentar viver da música em Madri, a capital espanhola, apresentou seu 16º álbum, Salvavidas de hielo (Salva-vidas de gelo), no lendário Teatro Beacon, onde tocaram David Bowie e os Rolling Stones. “Estou realmente muito feliz, embora isso pareça um pouco apressado e desproporcional para mim”, disse ele, antes do show.

RIO DE JANEIRO

“A vida é muito generosa comigo”, afirma o compositor de 53 anos, que, após um primeiro disco que vendeu apenas 33 cópias, no ano passado cantou no Teatro Colón de Buenos Aires, neste ano já se apresentou no Liceu de Barcelona e, em abril, deve subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em Salvavidas de hielo, que lhe rendeu sua quinta indicação ao Grammy, Drexler fala de migrações, de desfrutar o efêmero, da maravilha das comunicações, da necessidade de silêncio e da magia das canções. E também agradece a Joaquín Sabina, que em uma “noite louca” em Montevidéu o aconselhou a ir para Madri.

Em tempos de pouca paciência e de pular de um disco a outro e de um artista a outro no Spotify, “queria mergulhar profundamente em uma coisa só, por isso no disco não há nenhum outro instrumento além dos violões”, explica o músico em uma pausa de sua turnê, que percorrerá 28 cidades da Espanha, Inglaterra, Estados Unidos e América Latina.

“Acredito que sim, é meu disco mais caprichoso”, mas “não é um exercício de ascetismo musical”, esclarece. “É um dos discos mais carregados que fiz, com muitas camadas de som”, incluindo as que cinco percussionistas arrancaram de violões durante a gravação no México.

Em três canções, ele é acompanhado por cantoras famosas: as mexicanas Julieta Venegas e Natalia Lafourcade e a chilena Mon Laferte em Asilo, a sensual súplica de um amante.

Drexler protagonizou um momento histórico no Oscar em 2005, quando Prince lhe entregou a estatueta pela canção Al otro lado del río – do filme Diários de motocicleta, do brasileiro Walter Salles – e o uruguaio, em vez de fazer um breve discurso, cantou a música a capela, em protesto contra os organizadores, que não o deixaram cantá-la na cerimônia, escolhendo para isso os mais conhecidos Antonio Banderas e Carlos Santana.
Ronaldo Schemidt/AFP
(foto: Ronaldo Schemidt/AFP)


A faixa que abre o disco, Movimiento, criada após uma palestra do TED que deu em Vancouver (Canadá), é para o músico a mais importante neste momento, quando cresce a retórica anti-imigrantes do governo Trump. “Estamos vivos porque estamos em movimento/ Nunca estamos quietos, somos transeuntes/ Somos pais, filhos, netos e bisnetos de imigrantes”, canta Drexler, um “desenraizado crônico”, filho e neto de alemães que fugiram dos nazistas, bisneto de um polonês e imigrante morando em Madri há 23 anos.

Embora não interesse a ele “o conceito de canção de protesto”, viu-se escrevendo canções mais políticas ultimamente, como Movimiento, cujo vídeo mostra a corredora rarámuri Lorena Ramírez, vencedora de uma ultramaratona de 100 quilômetros em julho, sulcando a vastidão da serra Tarahumara, no México, com seu vestido tradicional e suas sandálias de plástico.

“Não é de protesto, tampouco é feminista, mas tem uma mulher em posição de força”, diz Drexler, que conta que trocou as fraldas de seus três filhos e que vive com sua esposa, a atriz e cantora Leonor Watling, “em condições de igualdade”.

Na rítmica Telefonía, Drexler celebra todas as formas de comunicação e, embora evoque as mensagens escritas nos guardanapos dos bares, faz isso sem nostalgia. “As histórias que contamos não são muitas, são poucas. Telefonía fala disso, parece que muda tudo, mas continuamos dizendo as mesmas coisas”, afirma. “Não sou um cara nostálgico, em geral”, talvez como “uma defesa, porque fui embora do Uruguai e não quero estar pendurado no que me falta”.  (AFP)

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