Cantores e bandas anunciam adeus aos palcos em despedidas programadas

Elton John, Ozzy Osbourne, Lynyrd Skynyrd, Paul Simon e os brasileiros d'O Rappa anunciaram saída de cena que pode levar anos - três, no caso do primeiro

por Mariana Peixoto 04/02/2018 09:00

TIMOTHY A. CLARY/AFP
'Tive uma vida incrível e uma carreira incrível, mas minha vida mudou, as prioridades da minha vida mudaram', disse Elton John, explicando que fará sua última turnê a partir de setembro (foto: TIMOTHY A. CLARY/AFP)

Não aprendi a dizer adeus, sucesso de 1991 de Leandro & Leonardo, cai como uma luva para Elton John. Pelo menos quando se trata de turnês.

No mês passado (dia 24 de janeiro), o cantor e compositor britânico, um respeitável sir de 70 anos e 30 álbuns de carreira (fora compilações e registros ao vivo), anunciou ao mundo que não fará mais turnês. “Tive uma vida incrível e uma carreira incrível, mas minha vida mudou, as prioridades da minha vida mudaram” e agora “são meus filhos e meu marido.”

A decisão é absolutamente legítima, a despeito de dois detalhes. Elton John levará três anos dizendo ao mundo que está indo embora. Em setembro, ele dará início em Allentown, Pensilvânia, nos EUA, à Farewell yellow brick road tour, que deve passar pelo Brasil até 2021. São 300 datas agendadas, no total.

Mais: o anúncio da despedida ocorreu quatro décadas depois da primeira vez que ele disse que abandonaria os palcos. Em 1977, no Wembley Arena, em Londres, Elton John afirmou, do palco, pouco antes de começar a cantar Sorry seems to be the hardest word: “Decidi nesta noite que este vai ser meu último show. Há muito mais para mim do que ficar na estrada”. E o YouTube está aí para nos lembrar disso.

Pois dois anos mais tarde desse anúncio o britânico voltou a fazer shows. Na época, afirmou que, quando tomou a decisão da aposentadoria precoce, estava sob efeito de drogas.

Outro veterano da cena britânica que repete o gesto é Ozzy Osbourne, de 69 anos. Em 2016, o Black Sabbath esteve pela última vez no Brasil com a The end tour – oficialmente, o grupo de rock pesado encerrou suas atividades há um ano com um show em Birmingham, cidade britânica onde tudo começou.

Em maio, Ozzy retorna ao país com a The farewell world tour, que deverá durar dois anos – em BH se apresentará pela segunda vez na carreira solo no dia 18, na Esplanada do Mineirão. A turnê de despedida também vai celebrar uma trajetória musical que alcançou 50 anos.

Pois 25 anos atrás, o mesmo Ozzy anunciou que estava deixando os palcos. “É o fim da estrada para mim. Tenho feito isso por 25 anos. Tenho uma casa que nunca vejo, um carro que nunca dirijo. Tenho uma família e nunca vou para casa”, disse, em 1992. Pois bastaram três anos para ele voltar atrás em tudo. “A aposentadoria é um saco. Não demorou muito para que eu voltasse a compor”, afirmou, em 1995.

NEGÓCIO RENTÁVEL Turnês de despedida são altamente rentáveis. Afinal, se o artista está indo embora, não há como deixar para depois. É pelo menos esta a ideia. No Brasil, algumas bandas já adotaram outra prática. Resolvem dar um tempo para voltar, de tempos em tempos, com novas turnês – que podem incluir ou não novos discos. O Barão Vermelho agiu dessa maneira de 2001 a 2017, quando o vocalista Roberto Frejat anunciou sua saída definitiva do grupo.

Outro exemplo é o do Los Hermanos. Em 2007, no auge da carreira, o quarteto anunciou seu fim. Banda ícone da geração 2000, deixou uma série de jovens viúvos que não chegaram a conhecê-la ao vivo. Pois nesta década, os hermanos já se reuniram duas vezes (2012 e 2015) para turnês nacionais em grandes espaços – geralmente maiores dos que aqueles em que a banda costumava se apresentar. Não será surpresa se daqui a alguns anos o grupo anunciar nova reunião.

O Rappa está seguindo o mesmo caminho. No sábado (27/1), fez no festival Planeta Brasil aquele que deve ser seu último show em BH. Se para sempre ou se apenas por um período, só o tempo vai dizer. Em maio de 2017, a banda carioca anunciou uma despedida “sem previsão de volta”. Os shows vão até abril. Depois, cada um vai seguir seu rumo. “Existem diferenças que tornam as coisas difíceis para conviver”, afirmou o guitarrista Xandão em recente entrevista ao Estado de Minas.

Ele não entrou em detalhes sobre problemas de relacionamento, mas o que ficou claro durante o show na Esplanada do Mineirão é que a animosidade entre os quatro integrantes é grande. O verborrágico Marcelo Falcão (que já está com carreira solo engatada) não fez nenhuma menção, durante os 90 minutos de show, sobre a separação próxima. Tampouco se aproximou ou falou com seus companheiros de 25 anos de banda – Marcelo Lobato (teclados) e Lauro Farias (baixo), além do já citado Xandão.

O clima “bye bye, so long, farewell” atingiu ainda o thrash metal. Em 22 de janeiro, a banda Slayer anunciou que “o fim está próximo”, para logo depois informar que a Final world tour terá início em maio, na Califórnia.

Maio também foi o mês escolhido para o Lynyrd Skynyrd, com 40 anos dedicados ao rock, dar início à sua derradeira temporada de shows. A Last of the street survivors farewell tour já tem datas agendadas até setembro, nos EUA.

A temporada quente no hemisfério Norte ainda vai assistir à despedida de Paul Simon. Conforme foi anunciado na última semana, o cantor e compositor fará em 15 de julho, no festival British Summer Time, no Hyde Park, em Londres, o show Homeward bound – The farewell performance (De volta para casa – A performance de despedida). Simon levou dois anos até tomar a decisão. Em entrevista ao The New York Times publicada em 2016, o músico falou sobre a futura aposentadoria: “O showbiz não me interessa mais”.


VOU... NÃO FUI

Confira exemplos de bandas e artistas que anunciaram aposentadoria, mas continuam na ativa




>> The Who  
Ethan Miller/AFP
(foto: Ethan Miller/AFP)

“Não podemos mais tocar em estádios para ainda mais gente. Estaríamos apenas nos parodiando”, disse em 1982 o vocalista Roger Daltrey. Pois há menos de seis meses o grupo fez três grandes shows no Brasil, um inclusive no Rock in Rio.


>> Kiss
BERTRAND GUAY/AFP
(foto: BERTRAND GUAY/AFP)

“Queremos sair com estilo para as pessoas que nos colocaram aqui, os fãs”, afirmou o vocalista e baixista Gene Simmons em 2000. Desde sempre fazendo turnês mundiais, a banda nova-iorquina esteve recentemente no Brasil. Em 2015, fez show também em BH.

>> Cher  
Ethan Miller/AFP
(foto: Ethan Miller/AFP)

“Se eu voltar em cinco anos, estarei dirigindo um desses carrinhos com controle remoto”, disse a cantora em 2002. Pois ela tanto continuou na ativa quanto anunciou nova aposentadoria em 2007, junto a uma turnê de despedida de três anos. Aí lançou um novo álbum e continuou na ativa. Desde 2017, continua à frente da série de shows Classic Cher, que tem público cativo em Las Vegas.


>> Nine Inch Nails
ALFREDO ESTRELLA/AFP
(foto: ALFREDO ESTRELLA/AFP)
 

Líder do NIN, Trent Reznor afirmou em 2009 que temia ficar como Gene Simmons, do Kiss. “Um homem velho que coloca maquiagem para entreter garotos, para mim, é como um palhaço.” O comentário foi feito na época da Wave goodbye tour. Pois já houve um novo disco desde então, e a banda é cabeça de chave de vários festivais europeus deste ano.


>> Scorpions

FRANK LEONHARDT/AFP
(foto: FRANK LEONHARDT/AFP)

“Estamos gratos pelo fato de que ainda temos a mesma paixão pela música. Mas entramos num acordo de que chegamos ao fim da estrada”, foi o comunicado que a banda alemã fez em 2010, ao anunciar a Get your sting and blackout world tour, que durou três anos. Pois eis que estamos em 2018, e o Scorpions está com a agenda lotada a partir de março.

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