Evento na Serraria Souza Pinto homenageia Marinês, Rainha do Xaxado

Das 10h às cinco da madrugada, festival terá shows, oficinas e exposição. Entre os artistas, estará Elba Ramalho, que se apresenta nesta sexta-feira, 13

por Ana Clara Brant 13/10/2017 09:47

Cria/Divulgação
Elba Ramalho, atração desta sexta-feira, 13, diz que Marinês abriu portas para várias gerações de cantoras. (foto: Cria/Divulgação)

No universo tradicionalmente masculino do forró, sobretudo na década de 1950, uma mulher conseguiu se destacar, fazendo história na música popular brasileira. Inês Caetano de Oliveira, mais conhecida como Marinês, foi pioneira em todos os sentidos. Apontada pelos críticos como a voz feminina mais importante da música nordestina, essa pernambucana radicada na Paraíba foi a primeira cantora a usar chapéu de couro, carregar cartucheira e tocar triângulo. ''Ela era a Luiz Gonzaga de saias'', resume Elba Ramalho.

''Pra você ter ideia, nem Maria Bonita usava chapéu de couro. Minha mãe era à frente do seu tempo, em vários sentidos. Sofreu preconceito, mas nunca esmoreceu'', comenta o músico, maestro e produtor Marcos Farias, filho de Marinês.

A Rainha do Xaxado, como Marinês ficou conhecida, é a homenageada do Festival Nacional de Forró Pé de Serra – Rootstock Brasil 2017, em cartaz na Serraria Souza Pinto. O evento, que surgiu em 2002, só havia sido realizado em cidades do interior de São Paulo. Pela primeira vez, ganha uma versão ''urbana'', nas palavras de Ivan Dias, seu organizador e fundador.

''Como o próprio nome diz, o evento valoriza o forró de raiz. Mas, ao longo desses anos, ele foi crescendo, então não dava pra ficar em cidades pequenas. Belo Horizonte surgiu como o lugar ideal para recebê-lo. Além da localização privilegiada, bem central, tem ótima infraestrutura e adora forró. A ideia é que o Rootstock entre para a agenda cultural da capital e passe a ser sempre realizado em BH'', destaca Ivan.

Inspirado em eventos de forró que vêm sendo realizados na Europa, o Rootstock, iniciado ontem, tem programação variada. Há shows de destaques do gênero – Elba Ramalho, Mestrinho, Chambinho do Acordeon, Trio Juazeiro e Trio Lampião –, além de apresentações de DJs, oficinas de percussão e de sanfona de oito baixos. A agenda inclui debates, palestras, workshops e lançamento de livros.

''A edição de BH ganhou mais atividades justamente porque o evento ganhou outra dimensão. Por ocorrer no meio do feriado, a gente acredita que virá muita gente de fora. O festival se tornou um ponto de encontro entre forrozeiros de todo o Brasil e até do exterior. Nossa expectativa é receber cerca de 4 mil pessoas por dia'', diz Ivan Dias.

Elba Ramalho, que vai estrear no Rootstock, destaca a importância de realizações voltadas para a cultura brasileira. ''No passado, eventos assim foram extremamente importantes para a difusão da nossa música. Gosto muito do formato dos shows em festivais. Acabo de me apresentar pela quinta vez no Rock in Rio, que, muito mais do que festival de rock, é um festival de música. O Rootstock é raiz e me sinto honrada de ser convidada para essa edição'', afirma.

HOMENAGENS
Em BH, não vão faltar tributos a Marinês (1935-2007), que morreu aos 72 anos, no Recife, vítima de acidente vascular cerebral (AVC). Durante o festival, ficarão expostos artigos pessoais, fotos e adereços da artista. Esse acervo está abrigado no Museu de Arte Popular da Paraíba, que fica em Campina Grande, conhecido como Museu dos Três Pandeiros. Cerca de 1 mil discos foram disponibilizados pelo Coletivo Forró em Vinil, de São Paulo.
Outra homenagem foi preparada por Marcos Farias, filho de Marinês, e sua mulher, a cantora Sabrina Vaz. Os dois vão se apresentar com Elba Ramalho nesta sexta-feira (13), a partir das 23h. “Elas não chegaram a se conhecer, mas é impressionante como Sabrina lembra a mamãe. E olha que minha mulher, biomédica, foi conhecer a obra de Marinês muito tempo depois de começar a cantar”, conta.

Sabrina e Marcos têm uma história ligada à música. “Nós nos conhecemos num 13 de dezembro, Dia do Forró. Foi Sabrina quem me trouxe de novo para esse meio, pois eu estava dedicado ao piano e a compor para orquestras. A gente tem feito muitos shows. Vamos lançar um disco sobre os 10 anos sem Marinês, Sabrina vai cantar o lado B dela”, revela Marcos Farias, artista desde criança. “Com 5 anos, já tocava zabumba, triângulo e pandeiro. Aos 8, tocava um acordeom que era quase do meu tamanho (risos). Virei fonte de renda”, brinca ele.

O pai de Marcos, José Abdias de Farias, ficou conhecido como Mestre Abdias do Acordeom (1933-1991). Ele e Marinês formaram o “Casal da Alegria”, em 1949. No ano seguinte, o casal e o zabumbeiro Cacau criaram o trio conhecido como Patrulha de Choque do Rei do Baião, que divulgava o cancioneiro de Gonzagão.

“Em 1957, minha mãe lançou seu primeiro disco e conseguiu estourar duas músicas: Pisa na fulô e Peba na pimenta, de João do Vale, autor até então desconhecido. Isso era um feito inédito. Foi ali que Marinês estourou e ganhou o título de Rainha do Xaxado. Fico muito feliz e orgulhoso de se lembrarem de Marinês e prestarem essa homenagem a ela. Ainda mais neste Brasil que não tem memória”, conclui Marcos Farias.

Entrevista

Elba Ramalho

cantora

''Marinês plantou a semente''


O Rootstock vai homenagear Marinês. Qual é o principal legado dela para a música brasileira?

Falar sobre Marinês é como falar sobre Luiz Gonzaga. Marinês é Luiz Gonzaga de saias. Definitivamente, foi uma mulher à frente de seu tempo. Tive a felicidade de conviver com ela e com sua família. Foi uma grande referência pra mim, um ícone da nossa cultura. Em 1999, tive a honra de produzir um disco de Marinês. Ela mostrou que o xaxado e o forró não eram exclusividade dos homens. Abriu muitas portas para as futuras gerações.

Como você vê a participação das mulheres no forró?

Se hoje nós temos ótimas cantoras, foi justamente porque Marinês plantou a semente. Costumo dizer que o Brasil é o país das cantoras e, felizmente, temos ótimas cantoras em todos os estilos – inclusive no forró.

Você foi alvo de preconceito no mundo  dos forrozeiros?

Certamente, sim. Vivemos num universo masculino, e o preconceito existe em todos os meios. De qualquer modo, tudo o que passei só me deu mais forças para alcançar meus objetivos.

O que o forró representa para você?
É difícil expressar o quão importante é o forró. Forró é música, é alegria, é dança, é povo. Enfim, forró é cultura.

SEXTA-FEIRA, 13

>> Elba Ramanho
>> Chambinho do Acordeon
>> Sabrina Vaz
>> Fala Nordestina
>> Trio Lampião
>> DJ Sampa
>> DJ Xeleléu

SÁBADO, 14


>> Trio Xamego
>> Mestrinho
>> Trio Alvorada
>> Jorge do Rojão
>> Cacai Nunes
>> DJ Fred Boi
>> DJ Leandrinho

FESTIVAL ROOTSTOCK BRASIL
Sexta-feira (13/10) e sábado (14/10), das 10h às 5h. Serraria Souza Pinto, Av. Assis Chateaubriand, 809, Centro, (31) 3213-3400.  Ingressos: R$ 80 (avulso) e R$ 230 (passaporte para quinta, sexta-feira e sábado). Informações: www.festivalrootstock.com

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