Nostalgia toma conta da cultura pop atual

'Os mais jovens compartilham com os mais velhos a sensação de que, no passado, as coisas eram mais confiáveis', analisa Júlia Nogueira

por Adriana Izel 03/10/2017 08:30
Sony/Divulgação
O grupo brasileiro Rouge, que anunciou sua volta e agitou antigos fãs (foto: Sony/Divulgação )

''Aquele tempo é que era bom''. ''A saudade daquilo que nem vivi''. Essas são algumas das frases que podem definir o momento de nostalgia que tomou conta da cultura pop atual. Artistas e temáticas que fizeram sucesso nos anos 1980, 1990, e até no início dos anos 2000, estão voltando com tudo. E isso tem explicação.

A profissional de relações públicas Júlia Nogueira Hernandez estudou essa tendência no trabalho A nostalgia enquanto tendência de comportamento entre os jovens da geração Y, apresentado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ''A geração Y, apesar de estar no início da vida, cresceu recebendo uma quantidade enorme de informações e imagens. Isto fez gerar a sensação de que, de alguma maneira, fizeram parte de diversos momentos anteriores ao seu nascimento. Além disso, compartilham com os mais velhos a sensação de que, no passado, as coisas eram mais confiáveis'', afirma.

Ela ainda observa que ''o retrô traz consigo um aspecto cool, pois vem com carga histórica e de autenticidade – duas qualidades que são atraentes a esta geração que está em busca de sua própria identidade''. A pesquisa leva em consideração a perspectiva sociológica que, pela nostalgia, permite ao ser humano reviver momentos da vida: como a ''mudança de identidade da infância para a puberdade, da adolescência à vida adulta, da solteirice à vida casada etc.''

Quando a girl band brasileira Rouge, criada há 15 anos, durante o reality show musical do SBT Popstar, anunciou o retorno aos palcos com a formação original (Karin Hills, Li Martins, Aline Wirley, Fantine Thó e Lu Andrade), fãs que estavam havia 12 anos órfãos do grupo comemoraram. A primeira apresentação confirmada do quinteto será em 13 de outubro, no Rio de Janeiro.

O retorno da girl band ocorre em celebração aos 15 anos do grupo, que fez sucesso no início dos anos 2000, vendendo mais 6 milhões de cópias de discos e ganhando o título de girl band de maior sucesso no Brasil. Além disso, é uma tendência adotada por outras bandas do formato: Spice Girls fizeram um revival nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012; o ‘N Sync se reuniu no MTV Video Music Awards, em 2013; e os Backstreet Boys fizeram turnê há dois anos.

CINEMA
A volta de boy bands está tão em alta que é a temática do filme nacional Chocante, que estreia nesta quinta, 05, nos cinemas. Com roteiro de Bruno Mazzeo, o longa mostra Téo (Mazzeo), Tim (Lucio Mauro Filho), Tony (Bruno Garcia) e Clay (Marcus Majella) decidindo retomar o grupo durante um encontro inesperado armado por uma fã dos anos 1990.

O clima de nostalgia invadiu diversos aspectos da cultura pop, inclusive, o mundo da televisão. No ano passado, percebendo essa tendência, a Netflix lançou a série Stranger things, que nada mais é do que uma ode aos anos 1980, com referências a sucessos da época. Entre elas, estão Os Goonies, Alien e Dungeons and dragons. Após a boa repercussão da primeira temporada, uma sequência estreia em 27 de outubro na plataforma, prometendo ainda mais momentos saudosistas aos anos 1980.

O serviço de streaming tem investido pesado na nostalgia na hora de criar produções originais. Entre os principais lançamentos, a plataforma teve o revival de Gilmore girls, o spin-off de Fuller house e até a nova série da franquia clássica de Jornada nas estrelas, a novata Star Trek: Discovery, lançada em 25 de setembro. Mas não é só ele. O cinema também tem se aproveitado do clima, ao reviver franquias de sucesso como Blader Runner e Star wars.

''Nostalgia não é exatamente uma estratégia de marketing. É uma tendência de comportamento observada na sociedade. Essa ferramenta é muito poderosa e sempre foi usada pelo marketing para se aproximar emocionalmente dos consumidores'', diz Berenice Ring, coordenadora do curso de Branding da FGV e autora do livro Tsunami: Porque as empresas que surfam esta onda gigante chegam à frente de seus concorrentes.

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