Lançamento de livro e festa celebram a obra de Belchior

Jotabê Medeiros autografa biografia do compositor e participa de festa em homenagem a ele ao lado do bloco Volta Belchior

Redação EM Cultura

- Foto: Arquivo CB/D/A Press

Uma canção sempre vem à cabeça quando se fala de Belchior. Mesmo tendo se recolhido por 10 anos, evitando fãs, família e a imprensa, o cantor e compositor cearense, morto em abril, não deixou de conquistar o público – principalmente os jovens. A biografia Belchior – apenas um rapaz latino-americano, escrita pelo jornalista e crítico musical Jotabê Medeiros, comprova esse fato.

“Em várias cidades, ele já está sendo objeto de um tipo de culto, assim como Raul Seixas até então. O mais interessante é que a juventude tem marcado presença. Os jovens veem Belchior como símbolo de resistência, um grito. Belchior indica a quebra de princípios éticos, morais, sexuais e afetivos. É como se a obra dele fosse um manual de educação sentimental”, afirma Jotabê.

Nesta sexta-feira (29) à noite, o jornalista vem a Belo Horizonte lançar seu livro a convite do projeto Sempre um Papo. Depois, Jotabê participa de uma festa, no Mercado Distrital do Cruzeiro, animada pelo bloco carnavalesco mineiro Volta Belchior.

“Por mais que não fosse sambista, ele passeava por diversos ritmos, sons e rimas.
Gostava de tudo, era eclético. Além do mais, tinha uma relação especial com Minas. Visitava o estado com frequência e não era por acaso”, observa Jotabê. “O Volta Belchior é uma forma linda de fazer tributo a ele. Também expressa o desejo do brasileiro de fortalecer a excelência da poesia. Espero que esse bloco se mantenha vivo por muitos anos”, diz o biógrafo. Para ele, “seria amor à primeira vista” se o compositor tivesse a oportunidade de ver o bloco mineiro desfilar.

MORTE O jornalista conta que não planejou escrever uma retrospectiva da vida do compositor cearense. “Porém, a morte do Belchior alterou os meus planos. A história ganhou início, meio e fim. Gostaria que ele pudesse ter visto (o livro) e até dado alguns pitacos”, diz. Jotabê pretendia se encontrar com o artista exatamente na semana em que ele morreu.

O sumiço de Belchior é um dos motivos da fascinação em torno dele, acredita. “Quando ele resolveu sumir, começou a busca incessante, por parte do público, de sua história, seus álbuns e até mesmo seu paradeiro. O isolamento dele, claramente, foi por ver que as questões sociais do nosso país não teriam solução.
É como se o Belchior previsse o caos, o retrocesso atual, e já rompesse com tudo”, comenta. “Nesta era tão visual, ele era o cara da reflexão, da interiorização”, resume.

Belchior é único em sua geração. Não só pela formação musical, mas pelo forte teor filosófico de suas letras, observa o biógrafo. “Em toda a sua carreira, ele não quis apenas passar um recado, e sim mostrar que às vezes é necessário romper com tudo. A maioria dos fãs destaca justamente esse poder que o Belchior tinha de reinterpretar, de ressignificar as palavras.”

Jotabê ressalta também a forte presença do Nordeste em todas as composições dele. “Atualmente, vejo que a cantora carioca Daíra Saboia faz algo parecido com o Belchior”, conclui.


SEMPRE UM PAPO
Lançamento do livro Belchior – apenas um rapaz latino-americano (Todavia), de Jotabê Medeiros. Sexta-feira (29/9), às 19h30, no Auditório da Cemig (Rua Alvarenga Peixoto, 1.200, Santo Agostinho). Entrada franca. O exemplar custa R$ 49.

VOLTA BELCHIOR

Festa do bloco carnavalesco de BH criado em homenagem ao compositor cearense. Sexta-feira (29/9), às 21h, no Mercado Distrital do Cruzeiro (Rua Ouro Fino, 452, Cruzeiro)..