Oficialmente, Chico Buarque de Hollanda está no Instagram há apenas duas semanas, quando estreou seu perfil devidamente verificado pela administração da rede social. No entanto, ele já marcava presença muito ante disso no ambiente virtual – tanto pela adoração dos fãs, que haviam criado vários perfis extraoficiais para o artista, quanto pelo ódio dos que o atacam como um representante da esquerda. Ao entrar na rede, Chico Buarque não apenas atende a demanda de quem quer saber mais sobre ele, mas comprova a tendência de que mesmo nomes consagrados há décadas na música popular brasileira estão se rendendo ao universo digital.
Totalmente gerida por uma equipe especializada, inclusive com as mensagens publicadas em terceira pessoa para se referir ao artista, a conta foi inaugurada com uma postagem de sucesso. A capa de seu primeiro álbum, de 1966, utilizada na web à exaustão com finalidades humorísticas pelos internautas, foi publicada com os dizeres “Não tinha Instagram oficial / agora tenho”, associados às fisionomias triste e alegre, imortalizadas pela arte do disco. “Foi a primeira vez que alguém usou o próprio meme oficialmente”, define Marcela Maia, coordenadora de marketing da gravadora Biscoito Fino e responsável pela conta do cantor. A publicação teve 17 mil curtidas e 1.225 comentários.
A utilização do meme, linguagem cômica muito popular nas redes sociais, é parte da estratégia que orienta a presença on-line do ícone da MPB. “A gente via que o Chico tem um público importante no meio digital e sentíamos falta de interagir com eles. São muitos fãs na faixa etária entre 24 e 35 anos, muito imersos nas redes sociais, especialmente no Instagram”, comenta Marcela, que atualmente responde cerca de 300 mensagens de fãs por dia no canal, onde Chico já é seguido por 70 mil pessoas.
Apesar do humor no post inicial, o perfil de Chico Buarque no Instagram tem finalidade exclusivamente artística e profissional.
Como seu último álbum (Chico) foi lançado há seis anos, justamente o hiato que compreende o surgimento e popularização dessas alternativas digitais de consumo musical, é provável que Caravanas seja o trabalho mais multimidiático da carreira do músico de 73 anos. “A primeira experiência no universo digital foi no CD anterior, quando dois meninos – o Bruno Natal e o Pedro Seiler – que trabalhavam na (gravadora) Biscoito Fino propuseram fazer toda a divulgação por meio das mídias digitais. Percebemos que isso era muito mais democrático do que os velhos planos de assessoria de imprensa. Foi um sucesso. Por isso essa proposta do Instagram agora”, afirma Mario Canivello, que comanda a assessoria de comunicação de Chico Buarque. No processo citado por ele, a equipe criou o perfil de Chico no Facebook, em 2010. Com mais de 2 milhões de seguidores, a página continua publicando novidades relacionadas à carreira do cantor.
Ataques
Se as redes sociais facilitam a interação e comunicação com os fãs, há também um lado negativo nesses ambientes. Em tempos de intolerância latente e discursos raivosos em torno de temas políticos ou sociais, a internet costuma abrigar uma grande listagem de ofensas contra as figuras públicas. Chico Buarque, que chegou a ser hostilizado ao sair de um restaurante no Rio de Janeiro, em dezembro de 2015, por um grupo de pessoas contrárias ao PT, também é alvo de vários ataques virtuais, anônimos ou não, de gente que costuma associá-lo ao Partido dos Trabalhadores ou à esquerda.
“A maioria das interações tem sido afetuosa. Claro que a gente toma cuidado com os haters, já que existia essa mística de o Chico ser odiado na Internet. Mas, quando entramos no Instagram, vimos que ele era muito querido.
Mario Canivello lembra que o próprio Chico acha graça do comportamento hostil de alguns internautas. “Quando criamos o Facebook, ele disse: ‘Que engraçado, não sabia que eu era tão odiado’. Ele não leva a sério. São coisas que as pessoas jamais teriam coragem de falar na sua frente e falam no ambiente virtual”, relembra o assessor, ressaltando que, apesar do bom humor, Chico Buarque já processou alguns usuários que ofenderam sua honra com inverdades.
A assessoria diz que, mesmo um pouco alheio às novas tecnologias midiáticas e redes sociais, Chico Buarque tem se divertido com seus novos canais. “Ele não entende direito ainda. Um dia viu um de seus perfis falsos no Instagram, onde havia um monte de foto dele sem camisa ou em momentos de lazer, com publicações em primeira pessoa, e achou um absurdo, achando que era o oficial. Aí explicamos para ele que era falso”, conta Canivello, lembrando que todo o conteúdo postado no Instagram oficial é aprovado pessoalmente pelo artista.
Gil, Caetano e Milton
Chico foi contra a corrente, até não poder mais resistir.
Há mais tempo como usuário, Caetano Veloso tem cerca de 80 mil seguidores a mais que o parceiro e conterrâneo. Desde 2012, Caetano usa a rede para postar momentos de sua atividade musical do presente e do passado, anunciar novos shows e também se manifestar politicamente. Na última quarta-feira, ele lamentou o arquivamento da denúncia contra Michel Temer na Câmara dos Deputados, por meio da imagem de uma bandeira do Brasil com uma lágrima e a legenda “Deputados, nos lembraremos de quem votou contra a denúncia de Temer”.
Ainda na esfera da MPB, Milton Nascimento tem 157 mil seguidores. Elza Soares, 105 mil, enquanto Djavan possui 503 mil. Em comum, além de momentos musicais, fotos do passado, capas de álbuns, entrevistas e anúncios de shows ou turnês, algumas manifestações sobre a política nacional. Quase todos eles protestaram nos últimos dias para que a denúncia de corrupção passiva contra Michel Temer fosse aceita.
Apesar do apelo que têm junto aos fãs pelas décadas dedicadas à música, os grandes nomes da MPB ainda estão muito atrás de artistas famosos do pop, axé e sertanejo em número de seguidores. O sertanejo mais popular da rede é Luan Santana, com 14,5 milhões de seguidores. Números inferiores aos de Ivete Sangalo, que ostenta 16,7 milhões, enquanto Anitta conta com quase 22 milhões de seguidores..