Aos 88 anos, Ennio Morricone parte para nova turnê pela Europa

Maestro italiano compôs algumas das trilhas mais famosas da história do cinema

por AFP 10/07/2017 08:00

HEIKKI SAUKKOMAA/AFP
(foto: HEIKKI SAUKKOMAA/AFP)
Ennio Morricone, um dos compositores mais famosos e amados da história do cinema, mantém a criatividade e a lucidez. Aos 88 anos, ele deseja surpreender o público em sua nova turnê europeia. Nos próximos meses, o “Maestro”, como é chamado na Itália, tem várias apresentações programadas para comemorar as seis décadas de carreira.

“Pediram que regesse minha música. Mas não sou um verdadeiro maestro de orquestra, não dirijo a música de outros compositores. A verdade é que gosto de ouvir minha música e ver a reação do público”, explica. “No cinema, não é possível ouvir música com atenção. Diálogos, ruídos, efeitos especiais, tudo isso distrai as pessoas. Os concertos permitem ao público escutar minha música, apenas minha música”, afirma.

O italiano Morricone compôs mais de 500 trilhas sonoras. É reconhecido por melodias emblemáticas, como o assobio de Três homens em conflito (1966) ou o magnífico solo de oboé de A missão (1986). Em 2016, ganhou o Oscar por Os oito odiados, filme dirigido pelo americano Quentin Tarantino. Em 2007, havia levado a estatueta pelo conjunto da obra.

Esse senhor simpático conta piadas e segredos com o mesmo ritmo de suas composições. “A música de A missão nasceu de uma obrigação. Tinha que escrever um solo de oboé, o filme se passava na América do Sul no século 16 e eu deveria respeitar o tipo de música daquele período. Ao mesmo tempo, tinha que escrever uma música que também representasse os índios da região”, relembra.

MOZART Depois de musicar filmes de diversos gêneros – de romances a westerns –, Morricone sorri quando é comparado a Rossini e Mozart, também autores prolíficos. “O fato de ser capaz de compor com total liberdade foi possível não apenas porque tinha a técnica, mas porque era necessário que mudasse o meu estilo. O filme exigia. A cada vez ficava diferente”, explica.

Morricone diz que criar trilhas para cinema foi mais fácil do que compor as 100 peças de câmara e contemporâneas que escreveu. Entre seus autores preferidos cita Stockhausen, Boulez, Luigi Nonno, Aldo Clementi e Petrassi (“meu mestre”), assim como Stravinsky e Bach. “Sinto que esqueço alguns nomes, mas eles, conscientemente ou não, deixaram sua marca em mim”.

O compositor, que trabalhou com grandes cineastas e produtores de Hollywood – John Huston, Don Siegel, Roman Polanski e Samuel Fuller –, além dos conterrâneos Sergio Leone, Pier Paolo Pasolini, Bernardo Bertolucci e Gillo Pontecorvo, é um artista emblemático do século 20, que deve seu sucesso à sábia combinação de imagem com melodia.

Qual é o segredo?  “Não há receita para nada”, responde Morricone. “Tentei muitas receitas. Tentei inventar uma maneira de escrever música melódica repleta de pausas. Quase monossílabos ou três sílabas juntas e depois uma pausa, como um pensamento que vai e volta, que se repete de forma diferente. Sempre quis mudar, mas no final sempre pareço comigo mesmo”, garante. (Kelly Velasquez/AFP)

•TRILHAS

. 1900
Direção: Bernardo Bertolucci

. A missão
Direção: Roland Joffé

. As mil e uma noites
Direção: Pier Paolo Pasolini

. Cinema Paradiso
Direção: Giuseppe Tornatore



. Os intocáveis (foto)
Direção: Brian de Palma



. Os oito odiados (foto)
Direção: Quentin Tarantino

. Era uma vez na América
Direção: Sergio Leone

. Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita
Direção: Elio Petri

. Malena
Direção: Giuseppe Tornatore

. Sacco e Vanzetti
Direção: Giuliano Montaldo



. Por um punhado de dólares (foto)
Direção: Sergio Leone

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