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Em novo disco, Mallu Magalhães flerta com a bossa nova

Cantando em português, ela aprofunda seu mergulho na música brasileira no álbum Vem, que tem produção de Marcelo Camelo e será lançado hoje

Estado de Minas

 

SONY MUSIC/DIVULGAÇÃO - Foto: SONY MUSIC/DIVULGAÇÃO

Em 2014, Mallu Magalhães fez uma breve participação no filme Tim Maia, de Mauro Lima. Ela interpreta Nara Leão cantando Medo de amar em um bar com ares blasé no Rio. O tom tranquilo da bossa nova encaixou na voz da jovem cantora paulistana, que decidiu se arriscar pelo gênero, sem deixar de imprimir sua marca ao lado dos acordes complexos e do clima improvisado, influenciado pelo jazz americano.


Os anos dourados de Mallu estão em seu quarto disco de estúdio, Vem, a ser lançado nesta sexta-feira, 9. O trabalho reúne 12 canções e marca o fim dos cinco anos de jejum em sua carreira solo. Em Pitanga, seu terceiro disco, Mallu havia flertado com a bossa nova, na faixa Ô Ana. Depois disso, mergulhou no projeto Banda do mar (2014), ao lado do marido, Marcelo Camelo, e do baterista português Fred Ferreira.


Da empreitada nasceu um novo lar e uma integrante para a família. Mallu e Camelo se mudaram para Lisboa e, em 2015, tiveram sua primeira filha, Luisa. Seis meses depois, a pequena ganhou uma música composta pela mãe, Casa pronta, anunciando que um novo disco estava em gestação.


Vem foi criado nessa atmosfera de novidade e mostra que Mallu abandonou o referencial da música americana para se dedicar a uma ode à música brasileira.

Logo na faixa de abertura, Você não presta, ela convida o público a conhecer esse novo universo, em ritmo crescente e animado. Suas músicas perderam a fragilidade e ganharam palavras maduras sobre o mundo exterior.


O ambiente em que Mallu Magalhães se encontra neste novo disco tem espaço para as questões que transitam pelo mundo – como o amor, as festas ou os lugares por onde passou – emolduradas por ritmos brasileiros – o samba e até mesmo o axé comparecem, além da bossa nova. Na segunda faixa, Culpa do amor, ela arrisca um samba rock com letra sobre a o banal do cotidiano de um casal. A primeira parte do disco se encerra com Casa pronta, que, nessa versão, ganhou novos instrumentos.


O pop rock de Mallu entra na faixa Vai e vem e prova que ela continua uma boa frasista. “A felicidade vem nos microssegundos”, canta. A quinta é a rápida Será que um dia, música que destaca a presença e a influência dos metais na composição do trabalho e soa como uma canção perdida de Los Hermanos, o que se pode atribuir à presença de Camelo e Rodrigo Amarante na produção.


 Pelo Telefone retoma as referências brasileiras e se mostra interessante pela ironia das frases, além de justificar a falta de músicas românticas no disco, o que antes parecia indispensável. Mallu não está nos melhores dias para falar de amor, como ela mesma diz. Navegador é uma balada sobre uma relação amorosa complicada, com o atenuante de um ritmo que remete às músicas dos anos 1960.


Guanabara e São Paulo trazem um clima praiano e tranquilo em meio a um instrumental com viradas de tom interessantes. A segunda, inclusive, remete ao axé baiano, ainda que de forma sutil. O grande trunfo do álbum está em Gigi. Nela, Mallu explora sua voz de uma forma inédita, cantando imagens psicodélicas. Na décima primeira faixa, Love you, retoma o início da carreira com uma letra ingênua em inglês para, na última música, Linha verde, aportar na tradicional música lusitana com direito a guitarra portuguesa e ritmo de fado.


Mallu Magalhães cresceu, amadureceu e, aos 24 anos é um dos nomes proeminentes da música popular brasileira. Em seu experimento com a bossa nova, ela decidiu não ser fiel ao gênero e atualizá-lo, criando uma espécie de neo bossa nova, que dialoga tanto com o rock quanto com o pop.

Acertou em pesar em instrumentos como a guitarra e os metais e mostra segurança ao cantar as letras, que agora acompanham com maior fidelidade o ritmo das melodias. No entanto, em determinados momentos, a voz soa pequena demais para a grandiosidade dos instrumentais.


Palatável e simples, Vem é o tipo de disco comercialmente aceitável que vai reiterar o lugar de Mallu Magalhães na música brasileira. Como canta na primeira faixa, ela ainda mantém suas diretrizes – começa o disco no Brasil e termina em Portugal, sem experimentações ousadas. Só resta compreender se esse caso com a música brasileira nasceu da estranheza e do distanciamento ou se é um fruto da saudade.

 

Vem
>> Artista: Mallu Magalhães
>> Gravadora: Sony Music
>> Preço sugerido: R$ 39,90

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