Curumin lança o caótico, estranho e coeso disco 'Boca'

Quarto álbum do multi-instrumentista é um grande quebra-cabeças que, sem divisão entre as faixas, forma um só corpo

por Mariana Peixoto 06/06/2017 08:00

AVA ROCHA/DIVULGAÇÃO
AVA ROCHA/DIVULGAÇÃO (foto: AVA ROCHA/DIVULGAÇÃO )

Boca, quarto álbum de Curumin, é um grande quebra-cabeças. Cinco anos depois de Arrocha, o multi-instrumentista radicaliza ideias presentes no trabalho anterior. Sem divisão entre as faixas (são 13), forma quase que um só corpo.

Lançado pela Natura Musical (ouça o álbum em www.naturamusical.com.br), o disco é caótico em alguns momentos, noutros estranho. Mas, em meio a uma colagem sonora (é o trabalho mais eletrônico do músico), consegue uma coesão. Não se assuste na primeira audição. A música de Curumin tem muitas camadas, que vão sendo descortinadas aos poucos.

A trajetória de Curumin está pautada pela mistura de música brasileira com sonoridades de outros locais. Nos trabalhos anteriores (Achados e perdidos, de 2005; Japan pop show, de 2008; e Arrocha, de 2012) as referências eram mais nítidas. Aqui, elas são misturadas mais naturalmente, ''sem padrões específicos'', explica ele.

Baterista de formação – integra as bandas de Arnaldo Antunes e Russo Passapusso –, Curumin deu início à produção a partir de fragmentos. ''Hoje em dia, o celular lhe possibilita registrar o tempo todo pelo gravador e bloco de notas. Nos últimos anos, colecionei frases, parágrafos, palavras. A partir delas tentei encontrar ideias de melodias'', conta.

Baixo e bateria estão na base de tudo. No estúdio com os parceiros de sempre, Lucas Martins e Zé Negro (que se dividem em guitarras, programações, baixos e teclados), Curumin construiu Boca como um recorte do mundo. ''É o momento que estamos todos vivendo. Para fazer esse disco, para ter ideias, me sentia como que caçando um bicho. Estava atento o tempo inteiro.''

 

As faixas bem traduzem isso. Boca é aberto com Passear, música com uma linha pesada de baixo que serve como a carta de intenções do álbum. ''Me dê sua mão, vamos embora/ Bora passear/ Pra dentro dessa noite escura/ Deixa eu te levar''. É das músicas mais fáceis (no bom sentido) do disco, com uma levada suingada.


MANIFESTO

Já a segunda faixa, uma vinheta, é quase um manifesto. O burguês que deu errado foi tirado de um vídeo do YouTube que registrou o Slam Resistência, campeonato de poesia realizado nas ruas de São Paulo. ''Sou homem, branco e heterossexual. Teoricamente, isso faz de mim um bosta'', diz o poeta de rua. ''Tinha pensado até em gravar com eles, mas a gravação do YouTube estava natural, tinha uma força do momento'', conta Curumin.

 

 

A boca do título aparece em várias faixas: Boca pequena (partes 1 e 2), Boca de groselha, Boca cheia. Cada uma tem um tom. Boca pequena é politizada, reação ao momento atual; na parte 2, Curumin dispara: ''Helicóptero capotou/ Rolê de motoca pra entregar propina''. Já Boca de groselha, que é conduzida por uma linha de baixo melódico, é a porção Antônio Carlos e Jocafi do álbum.

Tramela, parceria de Curumin com Rico Dalasam, foi gravada pelo rapper. Cabeça é a mais experimental do disco, com percussões que vão se sobrepondo a efeitos eletrônicos.

Mas o álbum traz alguns momentos de respiro, como Paçoca. A maior parte das faixas foi gravada com poucas pessoas (como costumam ser os trabalhos do músico). No entanto, Paçoca reúne um time respeitável. Muita percussão e vozes em profusão (Andrea Dias, Anelis Assumpção e Iara Rennó, entre outras) marcam esse ''samba safado'' (palavras do próprio Curumin), que encerra o disco.

 

Abaixo, confira o clipe de Boca de groselha

 

 

BOCA
De Curumin
Natura Musical
Informações: www.curumin.art.br

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