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"Vou que vou"

Fernanda Abreu dribla a crise, põe a turnê Amor geral na pista e faz show de olho nos jovens

Em vez de só cantar sucessos, a cantora promete show inédito no Sesc Palladium

Mariana Peixoto

- Foto: Cristina Granato/divulgação

“Poxa, que música legal é Kátia Flávia. Nem sabia que existia.” Fernanda Abreu tem recebido comentários como esse em suas redes sociais. Como assim?, perguntamos. Afinal, a “Godiva do Irajá”, cria de Fausto Fawcett, está completando 30 anos neste 2017. E são pelo menos 20 desde que Fernanda Abreu a regravou.


“Finalmente, depois de 12 anos presa à EMI, consegui lançar minha discografia nas plataformas digitais. Não havia nada previsto (sobre lançamento digital) nos contratos daquela época. Então, fiquei no limbo, pois meus discos físicos saíram de catálogo. Quando a EMI foi vendida para a Universal, finalmente consegui ter a minha obra de volta”, conta Fernanda.

Comentários como o destacado acima vêm de garotos e garotas que nem sequer tinham nascido quando a “garota sangue bom” estourou com seu suingue de acento funk/soul/pop/samba pelo Brasil. Foram descobri-la com o lançamento do novo álbum, Amor geral (de maio de 2016). Logo depois, foi a vez de toda a discografia (cinco CDs de estúdio, mais uma coletânea) ganhar o mundo digital.

Levando-se em conta esse público, Fernanda está recomeçando. E é para ele, mas também para os fãs de primeira hora, que ela criou um novo show

. Neste sábado (18), Fernanda chega a Belo Horizonte para apresentar Amor geral no Sesc Palladium. Seu primeiro disco de inéditas em uma dúzia de anos é a base das apresentações – serão seis canções desse trabalho. Mas canções de outras fases terão vez. “É um show bem inédito, novo, na contramão do que muita gente está fazendo, que é reunir os sucessos.”

Algumas das antigas ganharam nova roupagem. Você pra mim, do primeiro álbum, Sla radical dance disco club (1990), foi rearranjada. “Muitas das minhas músicas não são datadas, poderiam muito bem ter sido lançadas agora”, comenta ela, citando ainda Baile da pesada (de Entidade urbana, 2000).

CENÁRIO B O show está saindo na marra. “Na verdade, a gente não conseguiu os LEDs (16 placas compõem o cenário original, assinado pelo ex-marido de Fernanda, o artista plástico Luiz Stein). Estamos levando um ‘cenário B’, mais simples. Está muito caro viajar pelo Brasil, estamos num país em crise e temos uma equipe grande. Neguinho não quer pagar R$ 20 para ver um show, mas paga os mesmos R$ 20 para quatro cervejas”, comenta Fernanda.

A despeito dos problemas, o clima é de sacudir a poeira e dar a volta por cima
. “Sou animada, então vou que vou. Acordo todas as manhãs e sei que tenho que dar um gás a mais. Para me derrubar é difícil”, diz Fernanda. Para ela, tudo é consequência de uma desvalorização geral. “Não se vê no Brasil um movimento para valorizar cultura e arte. Você só vê as coisas fechando... Mas, ao mesmo tempo, não sou só eu que estou com dificuldades. Converso com outros músicos, está difícil para todo mundo. Tenho um plano B de qualidade, então estou levando o melhor show que posso fazer.”

Só no palco são sete pessoas, além de Fernanda – Tuto Ferraz na bateria e programação eletrônica, André Carneiro no baixo, Fernando Vidal na guitarra, Donatinho nos teclados e Vanderlei Silva na percussão, além da vocalista Alegria Mattos nos vocais e da bailarina Victorya Devin. “É 1h15min de show, pois ninguém merece duas horas. Nem eu aguento ver”, comenta.

Aos 55 anos, Fernanda continua fazendo um show dançante. “Se ficasse parada e fosse para o palco cantar e dançar, seria mais complicado. Só que faço balé todos os dias, ando muito e me mantenho bem no baile”, conclui. Garota, não dá para duvidar.

Dor, prazer e dança

Amor geral demorou para ser lançado porque Fernanda Abreu tratou, na última década, de uma série de questões particulares. Sua mãe ficou seis anos em coma até sucumbir a um tumor na cabeça. Seu casamento de 27 anos com o designer Luiz Stein – com quem teve Sofia e Alice – entrou em erupção até chegar ao fim.

Tanto por isso, ela fez um disco mais pessoal, em que põe para fora tanto as dores do passado quanto os prazeres do presente. Dirigido pela própria Fernanda, foi gravado entre o Rio de Janeiro, onde ela vive, e São Paulo, onde mora seu namorado, o guitarrista Tuto Ferraz. Com liberdade de escolha, atuou com velhos (Liminha, Fausto Fawcett, Memê) e novos parceiros (Qinho, Wladimir Gasper, Donatinho e Tuto Ferraz).

Fernanda escolheu as faixas mais dançantes de Amor geral para a turnê. A canção-título, vinheta-manifesto composta em parceria com Fawcett e Pedro Bernardes, foi gravada com uma base eletrônica. Outro sim (parceria dela com Jovi Joviniano e Gabriel Moura) tem formato de crônica e Fernanda abusa dos vocoders e teclados.

Tambor, dos mesmos parceiros de Outro sim, remonta à fase Da lata (álbum de 1995), só que de outra maneira. Usa ritmos afro-brasileiros para homenagear a percussão – a música conta com a participação do papa da eletrônica, Afrika Bambaataa. Deliciosamente (com Alexandre Vaz e Jorge Ailton) tem pegada pop dance, com uma letra marota. Saber chegar (com Donatinho, Tibless e Play Pires) continua na onda mais dançante, só que cheia de climas e teclados.

Única canção que não foi composta por Fernanda, a funkeada Double love amor em dose dupla (Fausto Fawcett/Laufer) é mais despudorada, com letra sacana, que fala das diferentes possibilidades do amor.

FERNANDA ABREU
Sábado (18), às 21h. Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Plateia 1: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Plateia 3: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).