Foi numa festa de réveillon, realizada no começo da década de 1950, que Ângela Maria ganhou o apelido que virou praticamente “sobrenome”.
A então Rainha do Rádio foi apresentada ao presidente Getúlio Vargas, que não escondeu a satisfação em conhecê-la.
“Só depois fui entender (risos). Ele me perguntou por que estava emburrada, e explicou que me apelidou de Sapoti porque eu tinha a cor daquela fruta e voz tão doce quanto o sabor dela. Nunca tinha comido sapoti, mas virou a minha marca. De vez em quando, um fã me presenteia com essa frutinha”, comenta a cantora.
Pela primeira vez em 68 anos de carreira, Ângela faz turnê acompanhada apenas de um instrumentista. Acostumada a se apresentar com bandas e orquestras, ela tem adorado a nova experiência, tanto é que batizou o show de Ângela à vontade em voz e violão.
Hoje à noite, no Teatro Bradesco, ela e o violonista Ronaldo Rayol revisitam clássicos do cancioneiro nacional.
“O show é bem intimista. A gente fica mais próximo do público, é uma oportunidade de as pessoas ficarem mais atentas à nossa voz.
O repertório só tem clássicos. Nunca (Lupicínio Rodrigues), Só louco (Dorival Caymmi), Manhã de carnaval (Luiz Bonfá-Antônio Maria), O portão (Roberto Carlos) e As rosas não falam (Cartola) estão entre eles. Sem contar os principais sucessos da carreira da Sapoti: Babalu, Lábios de mel, Gente humilde e Vida de bailarina.
Ângela Maria lamenta que atualmente não se valorizem artistas do passado como eles merecem. Para ela, o cenário atual da MPB não é muito favorável.
“Vira e mexe aparece um novo artista e logo depois some. Por que ninguém permanece fazendo sucesso por 68 anos?
Antigamente, a gente ligava o rádio e só ouvia música boa. Hoje não. Tirando o povo do pagode, de que gosto muito, como a Alcione, está complicado. Foram antigos compositores como Vicente Paiva, Ary Barroso, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Garoto que fizeram a música brasileira”, desabafa.
Eleita várias vezes a melhor cantora do Brasil – e fonte de inspiração para Elis Regina e Milton Nascimento –, a Sapoti acredita que o segredo de sua longevidade nos palcos é o misto de muito trabalho com talento e Deus. “Não é sorte, mas uma coisa divina mesmo. Agradeço todos os dias a Deus por ter me dado essa voz”, conclui.
SAUDADES
DO CAUBY
Apesar de sentir muita falta do amigo e parceiro Cauby Peixoto, morto em maio, Ângela Maria diz que a melhor maneira de homenageá-lo é estar no palco. “Cauby faz muita falta.
ÂNGELA MARIA
Projeto Uma voz, um instrumento. Com Ronaldo Rayol (violão). Hoje, às 21h. Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Ingressos: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia).