Heraldo do Monte grava disco com repertório que reúne clássicos do chorinho

Seu estilo regional dá especial destaque à viola caipira com seis pares de cordas, em vez dos cinco habituais

por Eduardo Tristão Girão 05/06/2016 10:00
Joaquim Nabuco/Divulgação
Cléber Almeida, Edmilson Capelupi, Heraldo do Monte e Luís do Monte: regional 'ensaiadão' (foto: Joaquim Nabuco/Divulgação)
Heraldo do Monte, de 81 anos, ouve choro desde criança, quando ainda morava no Bairro Mustardinha, no Recife, onde nasceu. Isso bem antes de trilhar o caminho que o levou a ser um dos guitarristas experientes do Brasil – ele integrou o lendário Quarteto Novo, tocou com Elis Regina e acompanhou Michel Legrand e o Zimbo Trio. O pernambucano sempre gostou de viola caipira, daí a ideia de reunir essas preferências num disco só, batizado com seu próprio nome.

“Jacob do Bandolim é o meu preferido tocando choro. Pixinguinha e todo mundo vêm depois. Além do suingue, ele tem um romantismo que me toca muito. Daí, imaginei um regional de choro, mas, em vez de o solista ser cavaquinho ou flauta, seria a viola. Comecei a compor as músicas para um projeto de shows, sem pensar em disco. Fomos tocando e, no meio disso, veio o convite da gravadora (Biscoito Fino). O regional já tava ensaiadão”, conta Heraldo.

A viola caipira, no caso, não é bem uma viola caipira. Em vez de cinco pares de cordas, ela tem seis – e é afinada como violão. “Sou um guitarrista que gosta de tocar viola. Estava conversando com o violeiro Ivan Vilela sobre a falta que sentia desse sexto par de cordas, e ele encomendou a um luthier uma viola desse jeito para me dar de presente. É um instrumento muito perseguido em termos de conservadorismo”, diz o músico.



Heraldo reuniu Edmilson Capelupi (violão de sete cordas), Cléber Almeida (percussão) e o filho, Luís do Monte (violão). Viajou de São Paulo para o Rio de Janeiro para gravar, o que não levou mais de dois dias. Das nove faixas que selecionou, sete são autorais: Pra Lurdes, Doçura, Torto, Moreneide, Choro de viola, Esperando a feijoada e Inteiriço. Paralelamente, providenciou os arranjos de Lamentos (Pixinguinha e Vinicius de Moares) e Doce de coco (Jacob do Bandolim).

“Doce de coco está entre as músicas tocadas com mais notas erradas. Aquela frase que toco devagarinho, na paradinha, nota por nota, dificilmente é executada certo. Fico chateado com quem não ouve Jacob e vai ouvir gravações de quem já mexeu e já errou. Fora isso, os músicos têm na imaginação o que gostariam que fosse aquela sequência de notas, mas terminam estragando a composição”, adverte.

MATURIDADE


O fato de ter currículo extenso como guitarrista lhe traz plenitude – não no sentido da vontade de se aposentar, mas de enxergar sorte em cada experiência com nomes relevantes da música brasileira. A lista é longa: Edu Lobo, Elomar, Arthur Moreira Lima, Quinteto Violado, Teca Calazans, Walter Wanderley, Paulo Moura e Dominguinhos, entre muitos outros.

“Aprendi a tocar com orquestra, a ser louco trabalhando com Hermeto Pascoal e fiz essa coisa de músico profissional na época em que havia boom de gravações. Numa noite, por exemplo, estava de smoking em São Paulo acompanhando o Michel Legrand. No dia seguinte, de manhã, tinha gravação de Eu não sou cachorro não com o Waldick Soriano”, revela.


Heraldo do Monte

. Gravadora Biscoito Fino

. Lamentos (Pixinguinha e Vinicius de Moraes)
. Doce de coco (Jacob do Bandolim)
. Pra Lurdes (Heraldo do Monte)
. Torto (Heraldo do Monte)
. Moreneide (Heraldo do Monte)
. Choro de viola (Heraldo do Monte)
. Doçura (Heraldo do Monte)
. Esperando a feijoada (Heraldo do Monte)
. Inteiriço (Heraldo do Monte)

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