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Limites do humor

Leandro Hassum traz a BH seu espetáculo solo 'Lente de aumento'

Ator fala com graça de temas cotidianos e abre espaço para que a plateia pergunte. Ele diz não precisar se policiar, pois não avança o sinal

Helvécio Carlos
- Foto: PAULO BELOTE/DIVULGAÇÃO
O humorista Leandro Hassum apresenta em BH amanhã e domingo o espetáculo solo Lente de aumento. A ideia de escrever a peça, que existe há oito anos, surgiu após o sucesso de Nós na fita, em que dividia a cena com Marcius Melhem. “Tinha quase o texto todo na minha cabeça, coloquei no papel e comecei a fazer para plateias pequenas, mas logo o público se identificou. Desde a estreia, o texto sempre se renova”, diz o ator, que define o espetáculo como “histórias do cotidiano”.

Bem-humorado e bom de papo, Hassum promove interação com a plateia, que, num dado momento, pode fazer perguntas ao ator. “Respondo a qualquer pergunta, dando direito ao público de também brincar comigo, e não só eu com ele. Isso acaba transformando cada sessão num espetáculo único.”

Na entrevista ao Estado de Minas a seguir, feita por e-mail, Hassum fala sobre o projeto de filmar a história de seu pai – preso por tráfico internacional de drogas nos anos 1990 – e comenta o cenário político atual, descartando o impeachment como solução para a crise.

Vivemos a era do politicamente correto. Já viveu situação constrangedora por piada contrária a essas “novas regras”?

Nunca tive problemas nesse sentido, até porque não levanto bandeira de A ou B. Faço apenas observações bem-humoradas, com as quais qualquer brasileiro pode se identificar facilmente.

Você se policia para não falar algo que provoque reação negativa da plateia?

Nunca me policio porque, mesmo no maior entusiasmo, não costumo perder o controle do permitido, alguma coisa que agrida o público.
Da mesma forma que brinco, também faço um afago quando sinto que a brincadeira foi além com uma determinada pessoa.

O ator Cláudio Botelho provocou a plateia do espetáculo Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos em BH, ao criticar Lula e Dilma. Ainda é possível fazer crítica à política ou, com tamanha polarização, é melhor deixar o tema de lado?

Não tenho problema nenhum em fazer piadas políticas. Continuo fazendo, até porque uma piada assim tem uma crítica por trás e isso é muito importante neste momento que estamos vivendo. Mas são apenas algumas piadas, até porque as pessoas que estão ali querem esquecer um pouco dos problemas. Acho que o maior desafio foi decidir falar publicamente sobre esse assunto.

De alguma forma você já sentiu os efeitos da crise no bolso, na bilheteria ou nos projetos?

Sem dúvida. Sinto a crise como todos os brasileiros, não só no trabalho, mas principalmente no cotidiano. As empresas estão mais cautelosas nos investimentos na área artística, e o público em geral também tem tido dificuldade em investir no entretenimento.

Qual a sua opinião sobre a situação política do país? O impeachment é a solução?

A situação está muito grave e quem acaba sentindo o impacto mais forte é a camada mais pobre da população, como sempre. O povo acaba pagando o pato pela falta de vontade política em resolver problemas básicos. Não acho que seja a solução do país. A solução passa por um âmbito mais amplo, com a reforma política, corte de custos, revisão do Código Penal, entre outras questões que mudariam de forma mais profunda o país.

Você completou 25 anos de carreira. Qual o balanço do período?

Muito positivo, claro. Tenho conseguido atuar em TV, cinema e teatro. E isso é o que todo ator almeja, além, é claro, de poder viver de seu ofício.
Independentemente de fazer sucesso ou não, o mais importante é fazer um bom trabalho e ter o reconhecimento do público por isso.

O humor sempre foi foco em sua formação? Pensou que antes dos 50 anos seria referência na comédia? O que o levou ao humor?

O humor reflete mais a minha personalidade, por isso acaba sendo uma forma mais natural de me expressar. E como é uma característica minha, que sempre se manifestou, quando eu era a criança engraçada da família, o palhaço da turma na escola, isso acabou ficando mais evidente quando comecei a fazer teatro. Fico feliz de ser considerado uma referência no humor de hoje e tenho muito respeito pelos comediantes que me serviram como referência quando comecei. Mas não estou perto dos 50 anos. Tenho 42. Mas será um prazer continuar sendo referência quando estiver perto dos 50.

O que há de bom e ruim em ser reconhecido como um dos maiores nomes do humor no país?

O reconhecimento e o carinho do público são as melhores partes da vida de um artista. Até mesmo as críticas construtivas são bem-vindas. A parte ruim são as pessoas que usam as redes sociais apenas para agredir e faltar com o respeito, sem nenhum motivo aparente.

Recentemente, você revelou a Marília Gabriela que seu pai foi preso por tráfico internacional de drogas. Como conviveu e convive com o problema?

Acho que o maior desafio foi decidir falar publicamente sobre esse assunto. Tenho tido pouco tempo para trabalhar em cima desse projeto, mas está caminhando devagar.
Por respeito ao meu pai, só pensei em fazer o filme depois de sua morte. Vou contar a história que vivi com meu pai, mas tenho um roteirista para escrever o filme. Penso em fazer o papel dele, mas ainda não tenho certeza de nada.

O que há de bom e ruim no atual humor brasileiro? A TV é o grande veículo dos novos talentos do humor? Qual o caminho dos jovens que têm talento para o humor, mas estão longe dos grandes centros?

Acho que a vigilância exagerada e a questão do politicamente correto acabam atrapalhando um pouco o humor, que, na minha opinião, não tem que ter limites. O limite do humor é a graça, como falava o Chico Anysio. Acho que hoje em dia o grande veículo é a internet. Muitos dos talentos que hoje estão na TV vieram da internet. É uma ótima ferramenta para quem está começando ou até mesmo para quem já é sucesso.

Você costuma acompanhar programas de humor nas TVs aberta e fechada?

Tento assistir ao máximo de programas e filmes, não só de humor, quando tenho tempo. Acho vital para qualquer ator saber o que está fazendo sucesso, as novas tecnologias, linguagens..

Vi uma foto sua pegando onda. O ex-gordinho vai disputar o posto de galã e surfista com Cauã?

Ainda falta muito, mas ele que se cuide!!!

Lente de Aumento
Com Leandro Hassum. Amanhã, às 20h, e domingo, às 18h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Rua dos Carijós, 258, Praça Sete, Centro). Ingressos: Plateia 1 –  R$ 90 (inteira); Plateia 2 – R$ 70 (inteira)..