“Quando subo no palco, sinto-me como o menino que, em São Bento do Una, minha cidade natal, subiu numa cadeira e cantou para a família”, afirma Alceu Valença. Além de composições autorais, o repertório inclui duas músicas de Luiz Gonzaga e uma de Jackson do Pandeiro. Ele avisa que não adianta lhe pedir uma canção favorita: “São todas a minha cara, não tenho como escolher”, responde. Ele explica que sua música carrega uma história pessoal.
“Eu sou eu mais a minha circunstância. E a minha circunstância é ter ouvido, ainda criança, os mesmos sons que Luiz Gonzaga ouviu: aboios, toadas, cordéis, violeiros, emboladores”, enumera. Acrescente-se “a vitrola clássica” na casa do avô e o rádio que deu acesso a Orlando Silva, Sílvio Caldas, Noel Rosa, Ataulfo Alves e Tom Jobim. Ele revela que adora também Cássia Eller, Cazuza e Frejat. A família nem queria que ele se tornasse músico, por medo de que parasse de estudar e acabasse boêmio como dois tios. “Um dia, minha mãe, Adelina Paiva Valença, que tem hoje 102 anos, se rebelou. Aos 16 anos, me levou a uma loja e mandou escolher um instrumento. E ganhei um violão”, recorda.
Em época que todos os colegas de rua, em Recife, tocavam versões de canções norte-americanas, conta Alceu, ele adorava tudo que os vizinhos tinham vergonha: baiões, xotes, maracatus. Tempos mais tarde, no intervalo de seminário nos Estados Unidos, pegou o violão e tocou para os hippies. Um jornalista viu e o chamou de “Brazilian Bob Dylan”. “Nem planejava ser artista, mas a arte me puxa”, afirma, lembrando que, em nome dela, um curso e emprego de jornalista ficaram para trás. Sua amplitude de vivências, observa, faz com que ele toque em festivais de jazz, rock, MPB, festas populares, com orquestras etc.
“Sou artista múltiplo, sertão e litoral”, afirma, lembrando que tem livro de poesias (O poeta da madrugada), é ator e está estreando como diretor de cinema com o elogiado A luneta do tempo. O filme, observa, é homenagem ao pai (“que me contava histórias do cangaço”), à professora de filosofia (Bernadete Pedrosa), ao avô que tocava viola e ao aboiador Apolônio.
Alceu Valença e Zé Ramalho
Show amanhã, às 22h. Chevrolet Hall – Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro. Pista/arquibancada: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia), terceiro lote. Mesa: R$ 900 (quatro lugares) setor I. Classificação: 12 anos. Menores de 12 a 14 anos, acompanhados dos pais ou responsáveis legais..