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Mestre de gerações

Eladio Pérez-González é homenageado por seus 90 anos de uma vida dedicada à música

Nonagésimo aniversário do cantor e professor será comemorado com um concerto gratuito na Sala Sergio Magnani, às 11h deste domingo

Luiz Fernando Motta
%u201CEnsino as pessoas a cantar com a voz que elas têm, e não com a voz que gostariam de ter. A voz é um traço físico que herdamos dos nossos pais%u201D, diz Eladio - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.Press

Completar 90 anos de idade já é motivo de sobra para uma boa comemoração. Quando se chega a essa idade em plena atividade artística e tendo na bagagem uma carreira premiada, a celebração é digna de homenagem. O nonagésimo aniversário do cantor e professor Eladio Pérez-González será comemorado com um concerto gratuito na Sala Sergio Magnani, às 11h deste domingo, em Belo Horizonte. O evento, promovido pela Fundação de Educação Artística (FEA), contará com apresentações de artistas de prestígio, alunos e ex-alunos do homenageado: as cantoras Titane, Eliane Fajioli, Lígia Jacques, Nabila Dandara, Trio Amaranto, os pianistas Berenice Menegale, Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini, o flautista Felipe Amorim e o violonista Celso Faria.


Nascido no Paraguai, o barítono veio para o Brasil em 1947 para estudar em São Paulo. Sua formação musical, vocal e teatral foi desenvolvida também nos Estados Unidos, Alemanha e França. Apaixonado pela música brasileira, o professor contribiu para a formação de grandes vozes. Nara Leão, Elizeth Cardoso e Dulce Quental foram suas alunas.
Atualmente, Eladio mora no Rio de Janeiro, mas vem à capital mineira semanalmente para dar aulas de técnica vocal e interpretação na FEA. “Ensino as pessoas a cantar com a voz que elas têm, e não com a voz que gostariam de ter.

A voz é um traço físico que herdamos dos nossos pais”, avalia Eladio.


Na plateia, Eladio espera assistir a um repertório composto por músicas populares e eruditas. “Fiquei surpreso quando soube da homenagem. Trabalhei com pessoas muito diferentes e cada uma tem seu repertório. Espero que o público possa ouvir as canções de sua preferência. E o melhor, o evento é gratuito. Para entrar e para sair”, brinca o barítono.
A experiência de trabalhar com diferentes gerações lhe ensinou que, “por mais talentoso que seja o intérprete, ele não passa de uma ponte entre a obra e o público”, avalia. Eladio, que também trabalha com atores de teatro e TV, diz que a técnica é o corpo da canção e a interpretação é a roupa que o veste. “A canção é um gênero híbrido. Muitas vezes, aprendemos a execução, que é a parte de alcançar as notas certas e se manter no ritmo. Mas a interpretação é a expressão. O cantor tem que passar sua particularidade para a plateia”, explica o professor.


Outro fator primordial para Eladio é o texto. Para ele, o cantor deve ter cultura literária para saber interpretar as letras das canções. “Músicas de compositores como Chico Buarque e Caetano Veloso têm um texto riquíssimo.

O texto orienta. As frases são expressivas. Dentro delas, você vai encontrar a palavra mais importante, o que vai dar o tom da interpretação”, explica.


Eladio defende a tese de que qualquer pessoa pode cantar, desde que tenha dedicação a seu desenvolvimento e respeite os limites de sua voz. “Já trabalhei com todo tipo de artista. Há cantores extremamente tímidos, outros muito soltos. Cada um tem seu tipo de canção. Alguns têm mais aptidão para canções melancólicas, tristes. Outros interpretam com primor canções alegres e até jocosas”, diz.

MILITANTE Fundadora da FEA, a pianista Berenice Menegale, é uma das principais parceiras artísticas de Eladio. Além da sintonia nos palcos, os dois receberam no ano passado a Medalha Villa-Lobos, pela Academia Brasileira de Música. O prêmio é entregue para figuras importantes do meio musical – indicadas pelos acadêmicos – que contribuam significativamente para a música nacional.

Eladio foi premiado como intérprete, e Menegale, que estará no concerto de hoje, foi selecionada como musicóloga educadora.


Além da relação com a FEA, a ligação do músico com Minas Gerais se estabeleceu na década de 1970, quando participou do Festival de Inverno de Ouro Preto. Desde então, o barítono se tornou um dos mentores artísticos do evento, indicando vários compositores e até angariando patrocínios.


Eladio faz questão de reforçar o papel de militante da música contemporânea brasileira. O barítono destaca que já fez diversas primeiras audições durante o festival e que promove vários ciclos de música vocal com cooperação entre as escolas de música. “Temos grandes talentos atualmente. Muitos cantores tomam intérpretes consagrados como referência, mas têm o talento de absorver isso de forma ponderada, na medida do possível”, avalia.

 

 

90 anos de
Eladio Pérez-González
Recital comemorativo. Hoje, às 11h. Sala Sergio Magnani da Fundação de Educação Artística. Rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários,
(31) 3226-6866. Entrada franca.

 

 

Ensino as pessoas a cantar com a voz que elas têm, e não com a voz que gostariam de ter. A voz é um traço físico que herdamos dos nossos pais

 

Eladio Pérez-González,
cantor e professor

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