DVD traz o bom e velho guitarrista Eric Clapton tocando com a destreza de sempre

Registro também mostra qu viajar pelo mundo fazendo shows já não é mais tão atrativo

por Daniel Seabra 02/02/2016 08:00
Lucas Jackson/Reuters
(foto: Lucas Jackson/Reuters)
Para um guitarrista, nada melhor que tocar no quintal de casa. Ainda mais se for na comemoração de seus 70 anos. E foi justamente isso que fez Eric Clapton. Considerado por muitos o “deus da guitarra” (“Clapton is god”, diziam pichações na Londres da década de 1960), o músico escolheu soprar velinhas em um dos espaços mais respeitados da capital inglesa, em uma série de sete shows em maio do ano passado, gravados e lançados no DVD Slowhand at 70 – Live at the Royal Albert Hall. Clapton inclusive ganhou uma menção pra lá de honrosa no site www.royalalberthall.com, com fotos e muitas informações.

Com as apresentações, o guitarrista superou a marca de 200 shows no teatro. Ou seja, mais à vontade, impossível. Certa vez, ele comparou o palco do Royal Albert Hall a um dos quartos de sua residência. E o público correspondeu, com todas as noites de casa lotada. A apresentação do dia 15, aliás, foi dedicada a outro mestre da guitarra, B .B. King, seu amigo e mentor, morto no dia anterior. As datas dos shows quase que coincidiram com a primeira apresentação de Clapton no local, em 7 de dezembro de 1965, ainda com a banda Yardbirds, grupo do qual ele fez parte, sendo sucedido por Jeff Beck – que também sairia, para a entrada de Jimmy Page.

O músico, que parece já em reta final da carreira, faz de seus (aparentes) últimos shows verdadeiras celebrações. Ele ainda parece se divertir no palco, mas com uma carreira de mais de 50 anos, o desgaste acaba se tornando inevitável. Em 2014, Clapton escreveu uma emocionada carta aos fãs japoneses, deixando no ar que o momento da parada não estava longe. “Subir no palco é fácil. Se pudesse fazer isso em minha vizinhança, seria ótimo. Há caras no Texas que tocam em seu próprio circuito e isso os mantém vivos. Mas, pra mim, a luta é a viagem. A única maneira que você pode superar isso é torrando tanto dinheiro que você acabaria tendo prejuízo. Então, o plano é, quando eu completar 70 anos, vou parar. Não vou parar de tocar ou me apresentar, mas vou parar de fazer turnês, acho”, diz em um trecho.

Em várias outras oportunidades, Clapton não escondeu o sacrifício que se tornou viajar para se apresentar. Ele já disse algumas vezes que a estrada se tornou “insuportável, inacessível”. Mas por enquanto ainda é possível vê-lo tocando. E nesses shows ele mostrou de quase tudo um pouco. Passeou por várias fases da carreira. Não faltaram clássicos.

De cara, Somebody’s knocking, passando por um de seus grandes sucessos, Pretending. Também não esquece seus ídolos, como Muddy Waters, autor de I’m your hoochie coochie man. You are so beautiful, de Billy Preston, e que ficou imortalizada na voz de Joe Cocker, foi interpretada pelo músico Paul Carrack, que esteve na banda com Clapton. Outro homenageado é Steve Winwood, autor de Can’t find my way home. E no meio da apresentação, o momento violão e voz, com Tears in heaven e a clássica Layla, que foi tocada na versão acústica em 1992 e, desde então, virou quase obrigatória nessa versão nos shows do músico.

Outra balada de Clapton que fez muito sucesso, Wonderful tonight também está lá, seguida por Let it rain, que é dedicada à sua mulher, Melia. E o fechamento vai de Crossroads, alcança o grande sucesso do músico, Cocaine, gravada em 1977 e que, na verdade, trata-se de uma versão da música lançada no ano anterior por seu autor, J. J. Cale, chega em High time we went e finaliza com Little queen of spades como bônus.

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