Novos blocos capricham na escolha de nomes para se destacar e atrair foliões

De Garotas Solteiras à Unidos do Queimalargada, os recém-chegados chamam atenção também pelos nomes inventivos, curiosos e marotos

por Shirley Pacelli 30/01/2016 08:00
Benedikt Wiertz/Divulgação
Joseane Jorge, madrinha de bateria do itinerante Tico tico serra copo (foto: Benedikt Wiertz/Divulgação )
Do estreante Unidos do Queimalargada, que saiu semanas antes do carnaval, ao Vira o Santo, que encerra a festa no tradicional encontro na Praia da Estação: há mais mistérios entre os motivos que batizam um bloco do que a vã filosofia possa imaginar. Ao menos 200 grupos fazem parte da folia deste ano na capital mineira, e os nomes menos óbvios despertam a curiosidade do folião.

Criado em 2009, Tico Tico Serra Copo foi um dos primeiros blocos de rua desta “nova geração” do carnaval de BH. O nome evoca as mais diversas interpretações. A iniciativa surgiu no Bairro Serra, uma das referências. Tico-tico, o pássaro, é o mascote. Mas e o copo?

A ideia inicial veio, na verdade, de uma referência à marcenaria. “Tico tico e serra copo são duas ferramentas. A maioria das pessoas que promoveram esse encontro eram arquitetos e designers”, revela Joseane Jorge, a madrinha de bateria.

O bloco itinerante, que percorreu no ano passado as ruas do Bairro São Geraldo, na Região Leste, também já passou pela Lagoinha. “Aí brincamos que era por causa do copo lagoinha”, conta Joseane. “Serra copo” pode ainda ser uma expressão de quem abusa da bondade de terceiros e bebe em copo alheio. Tico Tico sai na tarde da segunda-feira de carnaval. O trajeto ainda não está definido.

Já adivinhar a origem do calouro Us Beethoven é um desafio. O bloco, que estreia no carnaval 2016, foi fundado por tocadores de surdo. “O pessoal é bem antigo e engrossava as baterias de diversos blocos de carnaval. Resolvemos fazer uma homenagem ao grande músico que tinha essa deficiência auditiva”, diz Gilson Reis, um dos idealizadores.

O bloco, de música brega, tem repertório que vai dos anos 1970 aos 90, passando por Wando, Sidney Magal e Falcão. Ele sai amanhã na Savassi.

Paulo Henrique de Oliveira/Divulgação
Bloco Du seu pai e filhos de Gaby, criado em 2013 (foto: Paulo Henrique de Oliveira/Divulgação)
DÚVIDA
Diante do bloco Du seu Pai e Filhos de Gaby, há apenas uma dúvida: quem é Gaby? Com 60 anos, a designer Gaby de Aragão é mãe de Rita, Pedro e Marcelo, mas acabou “adotando” 57 filhos neste ano. Gaby acompanha o renascimento do carnaval desde 2009, com o movimento da Praia da Estação. “Pensei: já que o Rafa (Rafael Barros) tem os Filhos de Tcha Tcha, vou fazer o Filhos de Gaby”, diz. Assim, o bloco surgiu em 2013, reunindo as amigas da filha e Vítor, amigo da turma que tinha o apelido de paizão.

Em um pole dance ambulante, improvisado com um chassi de fusca, as filhas de Gaby dançam com a fantasia da vez. Em 2016, elas saem como melindrosas, mas já foram bailarinas, sereias e vestiram baby doll de náilon. Os homens, com generosos bigodes, empurram o pole. O bloco sai no dia 6, sábado. Ele se concentra às 14h, em frente ao Palácio das Artes e segue até o bar Brasil 41.

Se Gaby se inspirou no Tcha Tcha, o músico Matheus Brant e os amigos foram buscar inspiração longe, no Rio de Janeiro. A ideia era criar um bloco de pagode dos anos 90. Eles se lembraram do carioca Me Beija que Eu Sou Cineasta, que leva para as ruas as trilhas de filmes em ritmo de carnaval. E assim, em 2014, surgiu o Me Beija que Eu Sou Pagodeiro. “É uma brincadeira. O cineasta é uma figura mais cult. O pagodeiro é o oposto. Sofre um certo preconceito”, afirma Matheus.

O bloco sai às ruas no Bairro Gutierrez, concentrando-se na Rua Américo Macedo se dispersando na Praça Leonardo. No repertório, estão clássicos como Meu jeito de ser (Só pra Contrariar), Fricote (Art Popular), Cheia de mania (Raça negra), Inaraí (Katinguelê) e Marrom bombom (Os morenos).

“Sempre gostei de pagode e descobri que as pessoas da minha geração têm carinho, memória afetiva com as músicas. Não só eu”, diz Matheus.
 
Marcos Vieira/EM/D.A Press
Bloco Me beija que eu sou pagodeiro sai amanhã no Gutierrez (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

A HISTÓRIA POR TRÁS DO BATISMO DE ALGUNS BLOCOS
 
Pisa na Fulô
Bloco de forró criado em 2015. O nome faz referência a baião de João do Vale, imortalizado na década de 1960 na voz de Marinês, a rainha do xaxado.

Angola Janga
Bloco afro criado em 2016. Traz o nome que os negros davam para o quilombo dos Palmares. Significa “pequena Angola”.

Garota Eu Desço a Califórnia
Trocadilho com a música De repente, Califórnia, de Lulu Santos. Sai no Bairro Sion e desce a Rua Califórnia.

Magia Negra
Criado em 2014, após um episódio de preconceito racial e religioso com o músico Camilo Gam. Surgiu para mostrar qual é realmente a magia negra, destacando a cultura afro.

Garotas Solteiras
De 2016, faz homenagem às divas pop. Traz no nome a tradução do hit Single ladies,
de Beyoncé.

Magnólia
Criado em 2014, foi batizado em homenagem a uma banda norte-americana de jazz tradicional, referindo-se também à rua do bairro por onde passa o cortejo no Caiçara.

Imagina que...
Criado em 2013 por um professor e alunos do Departamento de Imagem da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Todo ano uma palavra completa o nome do bloco.
 
 
SERVIÇO:
 
Me Beija que Eu Sou Pagodeiro
Amanhã, às 10h, na Rua Américo Macedo (em frente ao Barroca Tênis Clube), Gutierrez.
Informações em https://goo.gl/Xd7srL

As Virgens do Formigueiro Quente
Amanhã, às 11h, na Rua Izalina Faustina da Silveira, 180, Mantiqueira. Informações em https://goo.gl/aHEBGN

Us Beethoven
Amanhã, às 9h, na Rua dos Inconfidentes, esquina com Paraíba, Savassi. Informações em facebook.com/usbeethoven
 

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