A vida do garoto do mangue deve chegar às telas antes do aniversário do artista, em 13 de março, como uma coprodução da RTV, Globo Filmes e Globo Nordeste. A direção é de José Eduardo Miglioli, paulista que mora em Recife, e o filme contou com colaboração do jornalista José Telles na criação do roteiro. Parte das cenas se concentra em imagens inéditas de um show da Nação Zumbi feito há mais de 20 anos no Central Park, em Nova York. Há, também, espaço para detalhes pessoais, como as histórias contadas pela irmã, Gorete França. “São pessoas que realmente participaram da história dele”, detalha José Telles, que era amigo pessoal do cantor e escreveu O Meteoro Chico.
Segundo o jornalista, a produção dá a dimensão da relevância de Science para o estado de Pernambuco.
“Ele derrubou isso. Deu autoestima para a cidade, para o público. Esse legado não fica só na música, mas em outras esferas culturais, como o cinema. Esse boom da sétima arte local, por exemplo, começou com Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, lançado em 1996, película na qual ele participou com o pessoal do manguebeat”, acrescenta Telles. “Era uma época em que não havia tantas ferramentas como hoje. A internet não era usada e ele já tinha essa amplitude enorme de conhecimento do que rolava na cena de fora, consumindo revistas, discos. Atualmente, Chico Science faria algo ainda maior, considerando o que fez na época e com poucos recursos. Seria até mais impactante do que naquele período”, acredita.
Siri na lata
A programação em memória de Chico Science começa esta semana, relembrando e reafirmando o manguebeat e sua linguagem, visual e conceito. Na sexta, a Nação Zumbi faz uma prévia com Fafá de Belém, Almir Rouche e Maestro Forró no Baile Siri na Lata, festa do bloco carnavalesco de Recife que comemora 40 anos em 2016. Em fevereiro, o mangueboy descrito por amigos como alegre e brincalhão (ou ‘gabiru’, na gíria local) será homenageado também no Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo.
Celebra-se, também, as duas décadas de lançamento de Afrociberdelia, segundo disco do Chico Science e Nação Zumbi, que reiterou a analogia entre a diversidade ecológica das espécies do mangue com a cultura de Pernambuco pré-estabelecida em Da lama ao caos, de 1994. Em 12 de março, a Nação Zumbi toca em Recife, no dia do aniversário da cidade e 24 horas antes do aniversário de Chico Science.
Para Jorge Du Peixe, herdeiro direto do pernambucano, frontman da banda e “irmão de maloqueiragem e de fuçar vinis de Chico”, como ele define, os próximos meses serão de culto não somente à figura do cantor, morto em fevereiro de 1997, mas de um pensamento conjunto em prol da fertilidade e diversidade cultural do país. “Cada subida ao palco é uma reverência. Sempre foi”, resume.
“Embora ele tenha ficado conhecido como principal figura do termo manguebeat, foi um pensamento conjunto, fizemos e construímos juntos, e ele dava esse devido valor. Chico não tinha vaidade. Era um homem simples que gostava de fazer um som, andar para frente, movimentar as coisas, ‘modernizar o passado’. Sua ideia era estar sempre compondo, pensando. Simples e real.”
Como o mangueboy viveria, então, em tempos de internet violenta e descontrolada? “Ele já se preparava para isso, saberia se comportar bem com os dias atuais, de superexposição. Ele já fazia selfie antes de ela ter esse nome”, acredita o músico que, aos moldes de Science, tenta não se colocar como figura central do grupo, mesmo para comentar polêmicas como a saída de Gilmar Bola Oito, no fim do ano passado. Um dos fundadores da Nação, o percursionista diz que foi demitido da banda pela empresária, Ana Almeida, que nega as acusações. O imbróglio, segundo Jorge du Peixe, não deve ofuscar as comemorações do cinquentenário de Chico.
“Muita gente falou sem pensar, colocou as garras de fora.