Meet & greet: por que fãs pagam caro para ficar pertinho dos ídolos?

Interações custam caro e aproximam fã do artista. Mas será que esses recursos são um benefício para os admiradores ou para os astros?

por Rebeca Oliveira 27/12/2015 15:31

Vale tudo por um artista? Há muita gente que diz que sim. Um exemplo disso é a quantidade de interações entre ídolos e fãs que vêm surgindo ao longo dos anos. O próprio avanço da internet proporcionou muitos deles: hoje é possível acompanhar quase que ao vivo o dia a dia dos artistas por redes sociais como Snapchat, Facebook, Twitter e Instagram.

Mas o que realmente cresce é a interação por meio do chamado meet & greet (conhecer e cumprimentar, em tradução livre). O encontro íntimo se tornou um dos principais recursos dos artistas do mundo pop para conhecer os admiradores e ainda ganhar dinheiro em cima disso.

 

“Quem frequenta shows sabe que a experiência já não é vivida da mesma maneira. É tanto celular para cima e arenas tão grandes, que o público já não se satisfaz. O meet & greet amplia essa proximidade do artista. Permite dizer em uma roda de fãs se o ídolo é simpático, tímido, educado, espontâneo… Isso é bacana para quem admira um artista”, analisa Wilson Nemov, DJ, produtor de evento e organizador de meet & greet.

Reprodução de internet
No Brasil, fãs de Justin Bieber pagaram pequena fortuna para estar por segundos com ídolo (foto: Reprodução de internet)
Há cerca de um ano, Nemov adotou o meet & greet com os fãs em seus eventos, principalmente, com participação de atrações internacionais. Nesse período, ele já organizou o encontro para nomes como as drag queens Laganja Estranja, Bible Girl, Gia Gunn, Katya Zamolodchikova e com a funkeira brasileira Yani, a Mulher Filé. “É importante para gerar uma aproximação entre o artista e o fã. Ainda que rápido, um abraço e uma foto para posteridade têm valor. A selfie virou o novo autógrafo”, defende.

A jovem Isis Mendes, 24 anos, concorda com o produtor. Ela já gastou mais de R$ 1 mil para participar de um meet & greet. Hoje em dia, ela diz que não faria, mas que, voltando no tempo, acredita que valeu a pena. “Eu acompanhava tudo que envolvia o RBD, passava 24 horas por dia escutando as músicas, então, ter uma chance de chegar perto, ir ao show... Foi aquela ansiedade de realizar o maior sonho da vida”, diz. Isis participou de dois encontros com a cantora Anahí e em um deles, inclusive, almoçou com a cantora.

Resultado do colapso da música
Além do encontro por meio de meet & greet, muitos artistas aproveitam a popularidade para gerenciar o contato com os admiradores da maneira que melhor convém. Pouco antes de revelar uma parceria com o rapper porto-riquenho Daddy Yankee — com quem lançou Corazón, seu primeiro single internacional — a cantora Claudia Leitte causou polêmica ao anunciar a adesão à rede social Fanation.

Disponível no site da cantora, o aplicativo que presenteia fãs dedicados promete brindes como ligações e até cantar junto à artista. Cada publicação ou curtida no Instagram, por exemplo, valem pontos que podem ser trocados por presentes e experiências exclusivas.

 

No início do mês, ao ser abordada por fãs em Natal, a loira afirmou que não tiraria fotos ou abraçaria mais ninguém que não fossem os contemplados pelas premiações da rede social. Apesar de afirmar que a medida era temporária, a atitude deixou revoltados alguns admiradores da artista de São Gonçalo.

“Metida”, “ridícula” e “antipática” foram alguns dos comentários deixados por usuários da rede social quando a cantora postou a novidade, que desagradou a uma parcela de fãs, criticando-a por mercantilizar sob algo natural — ser abordada em shows e eventos sociais, sobretudo em uma época em que redes sociais promovem uma horizontalização da relação entre fã e artista.

Em artigo publicado no jornal The Guardian, o articulista Michael Hann levantou um ponto que une eventos como o meet & greet e a adesão de artistas a plataformas como a Fanation: o colapso da música em seu formato tradicional. “Com os rendimentos em declínio, artistas espertos olham para seus fãs como uma maneira de compensar esse déficit, oferecendo a eles novos níveis de acesso”, comenta, citando experiências como a da banda Kiss, que, por cerca de R$ 4 mil, permite que os fãs se sentem na primeira fila, ganhem autógrafos, tirem fotos com membros da banda e assistam à passagem de som, entre outros benefícios. “Pacotes VIP e meet & greet não recompensam os fãs mais leais. Recompensam os que têm mais dinheiro”, criticou o jornalista britânico.

 

Como fazer

Reprodução de internet
(foto: Reprodução de internet)
Considerada a rainha do meet & greet, Rihanna não poupa esforços para fazer a experiência dos fãs que pagam por um encontro com ela um momento inesquecível. A política de intocável a qual alguns artistas ficaram conhecidos passa longe da personalidade da cantora de Barbados, que se mostra simpática e acessível a cada imagem com fãs. Rihanna tem fama de recebê-los bem mesmo quando não desembolsaram algum dinheiro pelo momento. Engrossam a lista de “queridinhos” de interação Miley Cyrus, Selena Gomez e Taylor Swift.

Como não fazer
Reprodução de internet
(foto: Reprodução de internet)
O encontro promovido pela cantora Avril Lavigne entra na lista por razões pouco louváveis. O sorriso desconfortável e a falta de contato entre a canadense e os fãs a tornaram uma piada internacional. Parte dos encontros desastrosos aconteceram no Brasil em 2014 e causaram burburinho — a ponto de a roqueira ser alfinetada por Taylor Swift, conhecida pelos momentos calorosos com os fãs —, principalmente porque custaram uma pequena fortuna, cerca de R$ 800. Outro que já desagradou foi Justin Bieber, que cobrou R$ 2,8 mil em um meet & greet de poucos segundos e que muitas fãs acabaram sendo maltratadas pelos seguranças.

MAIS SOBRE MÚSICA