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Príncipe do samba

Paulinho da Viola emocionou público de BH em apresentação

Músico está comemorando 50 anos de carreira

Ailton Magioli
Paulinho da Viola lembrou cada um de seus maiores sucessos e ainda mostrou muitas novidades - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A PRESSDiscreto e elegante, como é do seu feitio, usando calça preta e camisa escura xadrez, Paulinho da Viola surgiu em cena no Grande Teatro do Palácio das Artes, onde, além da musicalidade nata, brilhava a cabeça prateada do cantor, compositor, instrumentista. Aos 72 anos, o sambista carioca amadurece com a dignidade dos mestres, sem apelações, limitando-se a tocar e a cantar como quer os fãs.


“Tinha eu 14 anos de idade/ quando meu pai me chamou/ perguntou se eu não queria/ estudar filosofia/ medicina ou engenharia/ tinha eu que ser doutor”, canta a autobiográfica '14 anos', na qual revela a aspiração de se tornar sambista, para o bem geral de da nação. No show comemorativo de meio século de carreira, em apresentação única, sábado à noite, em BH, como era de se esperar Paulinho promoveu um desfile de clássicos como esse, além de recorrer a amigos como Zé Keti ('Jaqueira da Portela') e Noca da Portela ('Peregrino').

'Coisas do mundo, minha nega'; 'Botafogo, chão de estrelas'; a citada 'Jaqueira da Portela'; 'Prisma luminoso' e 'Recomeçar' vieram a seguir, quando a banda de excelentes músicos já está toda em cena. Os blocos vão se sucedendo, com destaque para criações como 'Dança da solidão', 'Tudo se transformou', 'Pecado capital' e 'Roendo as unhas' – que acaba de ganhar interpretação afiadíssima de Ney Matogrosso –, 'Bebadosamba', 'Foi um rio que passou em minha vida', 'Coração leviano' e 'Timoneiro', reservando 'Sinal fechado' para o bis.

Alternando-se entre o violão e o cavaquinho, Paulinho se dá ao luxo de contar histórias que não apenas divertem o público, mas também o coloca a par de uma trajetória riquíssima, filho que é de César Faria, o violonista do grupo Época de Ouro, já falecido, que foi amigo de Jacob do Bandolim. O choro 'Inesquecível', que ele se dá ao luxo de assistir na interpretação quase camerística de Adriano Souza (piano) e Mario Séve (sopros), Paulinho fez em homenagem ao mestre.

Já 'Sei lá, Mangueira' teria deixado o compositor em uma verdadeira “saia justa” com os portelenses. A primeira, segundo revelou, veio à tona em 1967, quando ele presidia a ala de compositores da escola azul e branco. Só seria perdoado pelos portelenses com o lançamento de 'Foi um rio que passou em minha vida'. Discretamente, Paulinho chamou a vocalista Beatriz Rabello para dividir com ela a interpretação do samba-choro Retiro, sem qualquer referência à paternidade da jovem cantora, que ganhou de presente do pai o samba 'Bloco do amor', para gravar no disco de estreia, que sai este ano.

O filho João Rabello está na linha de frente da banda, ao violão, mas também não ganha qualquer chamego do pai. A ala rítmica da banda de Paulinho, formada por Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva (pandeiro) e Hercules Nunes (percussão), é destaque à parte, assim como os sopros de Mário Séve. Há momentos, como os dedicados ao choro instrumental, que mais parece um concerto, tamanha é a delicadeza com a qual os músicos se exercitam com seus instrumentos. À frente de tudo, Paulinho da Viola, cujo violão fica à disposição dele, no palco, à direita, enquanto o cavaquinho, não por acaso, o aguarda do lado do coração.