Musica

Turnê mundial de Gil e Caetano Veloso é o resultado de êxito

Em entrevista, Gilberto Gil afirmou que sucesso da turnê é reflexo do efeito da música brasileira no cenário internacional

Agência Estado

O sucesso mundial da turnê de Gilberto Gil e Caetano Veloso é o resultado do êxito de décadas da música brasileira no exterior e não apenas de duas pessoas. Quem faz a avaliação é o próprio Gil que, na quarta, 15, lotou mais um teatro ao lado de Caetano. Ovacionada no Festival de Jazz de Montreux, a dupla foi uma das principais atrações deste ano do evento, com ingressos a mais de R$ 1 mil. 

"Não vejo esse sucesso como algo pessoal. Ele não é nosso. É da história da música brasileira e, acima de tudo, da acumulação do trabalho de centenas de artistas brasileiros que ganharam projeção no exterior. No fundo, esse sucesso é o prestígio da música brasileira", disse em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo.

Com shows programados ainda para França, Itália, Portugal, Espanha e Israel, a turnê pode ter novas datas, diante da procura por ingressos. Gil e Caetano se apresentam no Brasil a partir de agosto em São Paulo (22 e 23 de agosto), Rio de Janeiro (16 e 17 de outubro), Curitiba (26 de agosto), Porto Alegre (28 de agosto), Brasília (3 de outubro) e Belo Horizonte (26 de setembro).

"A dimensão pessoal desse sucesso não tem importância. A arte brasileira teve um impacto importante no mundo nas últimas décadas, para as relações diplomáticas, políticas e econômicas", avaliou. 

O cantor ainda comentou a pressão contra a ideia de a turnê fazer uma parada em Israel, por conta da crise palestina e das acusações de grupos de direitos humanos contra as práticas do governo israelense. "Não fiquei surpreso com isso. Tenho ido com muita frequência nos últimos anos e todas as vezes temos tido manifestações no sentido de desestimular a ida. Mas escolhemos ir. Vou cantar para um Israel palestino. A presença de um setor importante da sociedade de Israel é favorável a um estado palestino, a uma política mais tolerante e harmoniosa. Essa parcela é quase metade da população. Eu sou dessa metade", justificou. 

O baiano também não evita falar do momento político brasileiro. Apesar da crise, um aspecto positivo que ele destaca no País é o fato de não haver a personificação de um líder. "É bom estar sem lideranças muito pessoais. É um momento que é bom assim, que as responsabilidades em relação aos comandos estejam divididas entre os vários partidos, entre as várias personalidades. Inclusive da liderança que se exige da presidência, é bom que se tenha esse cenário para que Dilma (Rousseff) fique mais tranquila", disse. 

Gil, que foi ministro da Cultura no governo Lula de 2003 a 2008, também não acredita que as vozes em defesa da queda do governo tenham sucesso. "Não haverá impeachment. Não há razão nem clima. Dilma vai concluir o seu mandato. É natural que conclua." Ele diz não se surpreender diante das vozes que pedem um golpe. "A sociedade é assim. Tem gente que fala em nazismo na Alemanha, tem gente que fala em monarquia. Tem de tudo", afirmou. 

Gilberto Gil não nega que a crise econômica no Brasil seja uma realidade. Mas, para ele, o País sofre as consequências da turbulência financeira internacional. "O Brasil está vivendo um pouco o resultado de ter-se projetado um pouco mais na cena mundial nos quatro últimos ciclos governamentais, desde Fernando Henrique, Lula e Dilma, com as mudanças importantes que ocorreram na economia brasileira", ressaltou. "Agora, o que nós vivemos é também o resultado da crise mundial que se instalou e o Brasil, por esse processo interno, passou a ser mais passível de ser afetado por qualquer coisa que possa ocorrer."

O cantor tem repetido sua crítica às políticas de austeridade adotadas na Europa. "O que ocorre no plano da globalização é muita dificuldade, na Europa, na Grécia. As consequências da austeridade adotada pelos bancos centrais são desastrosas", alertou ainda. 

Para ele, o mundo não vive a mesma tensão militar que havia nas décadas passadas. "Mas as tensões estão crescendo justamente naquilo que diz respeito à sociedade, ao dia a dia das pessoas, à renda, ao emprego, ao refugiado", avaliou. Segundo Gil, essa tensão já começava a existir quando ele se refugiou na Europa, nos anos 1970. "Essas coisas já estavam surgindo em uma Europa mais reacionária, mais obcecada com a questão dos empregos locais, a competição com o trabalhador estrangeiro. Isso tudo estava começando e agora ganhou muita força. É aí que estão as tensões hoje", completou.