Musica

O Grivo executa trilha ao vivo para curtas de Cao Guimarães

Duo faz hoje apresentação comemorativa aos dez anos do Festival de Cinema de Ouro Preto

Walter Sebastião

Uma evocação aos primórdios do cinema, quando a trilha sonora dos filmes era feita ao vivo, mas valendo-se de sons e imagens contemporâneas, é a atração do cine-concerto que ocorre hoje, às 20h, no Teatro Oi Futuro. Curtas de Cao Guimarães ganham música do duo O Grivo, formado por Nelson Soares e Marcos Moreira. O evento é programação comemorativa dos 10 anos de existência do CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, cuja décima edição será realizada de 17 a 22 de junho.


A apresentação dos mineiros não é o único cine-concerto que o CineOP prevê em sua programação. O grupo francês DoubleCadence fará concerto no dia 22, em Ouro Preto, com improvisações sobre filmes dos irmãos Lumière, os inventores do cinema, assim como sobre imagens feitas por amadores e um curta do cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015). Os franceses repetirão a performance em Belo Horizonte, dois dias depois. No dia 25, o DoubleCadence volta a se apresentar na capital mineira, desta vez com um trabalho inédito. Para suas improvisações, O Grivo escolheu sete curtas de Cao Guimarães. São eles: Hypinosis, Peiote, Concerto para clorofila, Aula de anatomia, Gambiarras, Inquilino e Metrônomo. Obras, como observa o cineasta, não narrativas, abstratas, feitas mais para galerias de arte do que para cinema. “São microdramas, pura forma em movimento. O que cria conjunção perfeita para a integração com a música, que também é abstrata”, acrescenta. Filmes dele com o mesmo perfil foram projetados no show de Marisa Monte, a pedido dela. O cine-concerto vai ter segmento com poemas de Teodoró Rennó, apresentados pelo próprio escritor.

VIDA PRÓPRIA
“Gosto muito de ver minhas imagens ganharem outros significados em obras dos músicos. É como se o filme tivesse vida própria, cada vez que revejo, se transformou em outra coisa”, conta Cao Guimarães. A mesma sensação, diz o cineasta, ele tem quando recebe seus filmes com a trilha sonora pronta, depois de longo tempo trabalhando na edição e já cansado das imagens. “Sinto que o som deu outra camada narrativa, outro fôlego para o filme”, explica. O cineasta considera que os trabalhos do Grivo, pelo manuseio e diversidade de fontes sonoras, ao vivo, têm dimensão também de performance.


A atenção concedida pelo duo mineiro às tramas de sons, ruídos e silêncios, na opinião de Cao Guimarães, dialoga com a herança do norte-americano John Cage, “com pegada única e muito original”, que abarca desde as pesquisas estéticas da música contemporânea até a questão da construção de instrumentos, além de exploração dos objetos como fontes sonoras. “Nelson Soares e Marcos Moreira são trilhistas absolutos dos meus filmes.”

O cineasta já fez um filme (Nanofania) para uma música do duo. “São pessoas hipersensíveis auditivamente, músicos na essência do termo, que têm compreensão ampliada do que é música. Eles me ensinam a ouvir.”

Cine-concerto Sons e imagens


Filmes de Cao Guimarães e música de O Grivo. Hoje, às 20h. Teatro Oi Futuro, Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras. Entrada franca. Solicita-se que os ingressos sejam retirados 60 minutos antes do início do espetáculo.