'Contei tudo', diz Dado Villa-Lobos sobre livro do Legião Urbana

Guitarrista revela os motivos que o levaram a escrever 'Memórias de um legionário', no qual recorda a trajetória da Legião Urbana

por Diego Ponce de Leon 12/05/2015 08:56

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Pablo Koury/Divulgação
(foto: Pablo Koury/Divulgação)
Desde o término da Legião Urbana, em 1996, Dado Villa-Lobos percebeu um interesse do público em conhecer os detalhes da trajetória do maior grupo de rock nacional. Por anos, a ideia não chegou ao papel. “Eu pensava no tempo, no desgaste que seria rememorar cada episódio, cada encontro”, conta o guitarrista da Legião Urbana.

O livro começou a tomar a forma de maneira inusitada. “Estava jogando bola, ao lado do meu estúdio, e um fã da banda, de rock brasileiro, comentou que eu deveria escrever minhas memórias”, recorda.

Eis que o historiador Felipe Demier, o fã em questão, não somente sugeriu a obra, como facilitou todo o processo. “O cara é um jovem trotskista e comentou que o pai tinha uma editora. Disse que gravaríamos as conversas, uma outra pessoa transcreveria e, aos poucos, montaríamos os capítulos. Acabou saindo”, destaca Dado.

Em Memórias de um legionário, o integrante da Legião Urbana remonta os 14 anos em atividade ao lado de Renato Russo, Marcelo Bonfá e Renato Rocha, o Negrete. Aproveita ainda para traçar um perfil autobiográfico e diz não ter deixado nada de fora: “Tudo que eu tinha que contar, eu contei. Tudo que me pareceu interessante, pelo menos”. Brasília, palco principal dessa jornada, recebe Dado no próximo dia 22 para o lançamento oficial da obra.

Por que deveríamos ler o livro?
É a primeira vez que um cara de dentro da banda conta a história do grupo. Quando a fonte vem de uma voz interna, de um cara que formou esse grupo, acho que há algo de válido. Vi como tudo aconteceu, de Brasília até o fim. Tudo que rolou em volta e a cada disco. Sou eu gravitando entre a Legião e as minhas próprias descobertas. Uma narrativa em primeira pessoa, começando lá na infância, redescobrindo eventos e momentos que me foram tão importantes.

Pode nos dar um exemplo?
Quando eu nasci, em Bruxelas, um jovem pianista de 19 anos frequentava a minha casa. Ele estava lá para prestar um concurso de piano. Minha mãe tirou ele da casa de uma velhinha e o trouxe para nossa família, para que ele pudesse ensaiar com mais calma. Esse jovem era o Nelson Freire.

Há relatos inéditos? Informações não conhecidas sobre a banda?
Eu não sei exatamente o que o público conhece, o que foi publicado, mas acho que sim. Há posições minhas, dentro do grupo, que são inéditas. Momentos em que eu cheguei para tal pessoa e disse: “Aí, meu irmão, deu pra você!”, entre outras passagens não conhecidas.

Alguma história inusitada de Brasília?
Falar de Brasília é falar da Turma da Colina. Plebe, Capital, Legião… Aqueles pessoas que se encontravam semanalmente. Brasília era isso: uma garotada se mobilizando para aprontar alguma. Uma história? Eu e Bonfá saindo de Brasília, quando fomos morar no Rio, em 1985. Furamos uma blitz. A cidade estava fechada. O Exército tinha fechado a Asa Norte e a Asa Sul. Eu estava em um carro, o Bonfá em outro e nos deparamos com um tanque de guerra, cachorros farejando e soldados, perto da saída para o Rio. O Bonfá estava carregado de bagulho! Quando vejo, ele para o carro e começa a jogar tudo fora (risos). Mas deu tudo certo.

Há uma certa nebulosidade na relação com o Negrete e com o próprio Renato. O livro clareia um pouco essas poluições?
Clareia geral. Fica transparente como a gente se articulava ali dentro. Como e quem articulava o que. Eu conto quem era o Renato e o que era banda.

Você considerou convidar o Bonfá para participar da obra?
Não. Eu espero que ele possa fazer o mesmo e escreva um livro. Esse é o meu foco, a minha visão. O Bonfá deve ter outros ângulos, outra luz e seria bacana que ele pudesse compartilhar isso.

Houve autocensura? Mediu as palavras?
O livro não é chapa-branca. Com certeza, não. A legislação atual brasileira sobre biografias é um lixo e permite uma série de lacunas. Então, fizemos uma densa pesquisa de forma a evitar incorrer em questões jurídicas. Eu não vou contar o que o Renato fazia no apartamento dele em detalhes, por exemplo. Minha visão, em momento algum, é nociva ou agressiva em relação às pessoas que estão à minha volta. É uma relação aberta. Quando chego e digo para o cara: “Vai se f….!”, é porque, na minha opinião, ele tinha que ir se f... . E pronto. Um diálogo narrado.

Soou como se alguns episódios tenham sido amenizados…
Na verdade, uma única frase. Eu chamava o cara de covarde. Sabe, quando você diz: “Tu é um covarde”? E isso poderia suscitar a possibilidade de alguém alegar que eu estava denegrindo a imagem da pessoa ou coisa parecida. Juridicamente, poderia levantar a possibilidade de o livro ser suspenso, como aconteceu com Garrincha, Roberto Carlos, sei lá quem…

Mas a frase ficou?
Então, ficou uma outra parada: “Você é um suposto covarde”, “você está agindo como um covarde”, algo assim, de modo que eu não estivesse diretamente dizendo que o cara era um covarde. (risos)

A família do Renato apresentou alguma resistência?
Não, nada disso. Eu não estou falando do Renato. Eu estou falando da Legião Urbana. O Renato é uma peça fundamental, claro, e tem herdeiro, família… Mas, em momento algum, passei do limite ou coisa assim. Há coisas que não precisam ser ditas. A história é outra. A jornada de uns jovens que se esbarraram, formaram uma banda. Aonde eles queriam chegar, como eles queriam chegar e como foi chegar.

Você comenta o litígio judicial com Giuliano, filho de Renato?
Passo rapidamente por esse assunto no final. Deixo claro que a gente nunca teve um espírito corporativista e marqueteiro. Nada contra quem tenha, mas nós não éramos assim. Éramos filhos do punk rock, da revolução.

Memórias de um legionário
De Dado Villa-Lobos, em parceria com Felipe Demier e Romulo Mattos.
Editora Mauad X. Páginas: 256. Preço médio: R$ 50.

MAIS SOBRE MÚSICA