Cícero busca inspiração no mar para compor seu terceiro disco

Álbum está disponível gratuito na internet

06/04/2015 08:51

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Mariana Caldas/Divulgação
"O download é uma realidade, não uma possibilidade. Você pode até pagar por um disco on-line, mas se quiser. Não acho justo uma pessoa ser obrigada a pagar, sendo que outras vão conseguir de graça, de outras formas" Cícero, músico (foto: Mariana Caldas/Divulgação)
“Quis fazer uma praia para viagem. Para colocar no fone de ouvido, no carro, como se fosse um estado de espírito.” É assim que o cantor e compositor Cícero Rosa Lins define o recém-lançado 'A praia', terceiro disco de sua carreira.


Mas muito se engana quem acredita que a inspiração do carioca veio de sua vivência no ambiente litorâneo. Apesar de nascido e criado no Rio de Janeiro, Cícero só começou a sentir o impacto da praia em sua vida recentemente, quando se mudou para São Paulo. “É aquela máxima: só sentimos falta quando perdemos. Quando morava no Rio, eu não ia à praia nunca. Agora, vivendo no meio dos prédios, do concreto, das buzinas, vejo que a praia muda a personalidade das pessoas. Tudo muda quando você tem aquele respiro do mar, ao alcance da vista”, diz.

Cícero tentou, então, transpor a atmosfera do litoral para esse novo trabalho, e o resultado pode ser ouvido em letras e melodias mais leves do que as composições do disco anterior, 'Sábado' (2013), e um pouco menos íntimas do que as do disco de estreia, 'Canções de apartamento' (2011). De toda forma, o músico não consegue se afastar tanto assim da intimidade.

SOLIDÃO Compositor, instrumentista, cantor e produtor do disco (em parceria com Bruno Schulz), - Cícero é senhor de sua música. “Na verdade, eu sempre tive uma natureza meio solitária”, conta. Tanto que seu processo de composição é feito em seu próprio quarto, com os arranjos gravados por ele mesmo, geralmente com a utilização de programas de computador.

No caso de 'A praia', depois de compor os arranjos, Cícero sentiu a necessidade de ir para o estúdio. “Queria os instrumentos com os sons originais, não de um computador, com uma acústica tratada. Não queria perder o arranjo por um fetiche de fazer em casa”, explica.

Para ajudar na empreitada, agora menos solitária, contou com nomes como Gabriel Ventura, da banda Ventre, que toca guitarra nas faixas 'A praia' e 'O bobo', e Felipe Pacheco, Cairê Rego e Gabriel Vaz (os três da banda Baleia).


O primeiro gravou o violino nas canções 'A praia' e 'Terminal Alvorada', e os outros dois fazem coro na música 'Isabel (carta de um pai aflito)'. O disco ainda tem a participação da cantora Luiza Mayall, que empresta a voz para a faixa 'Cecília & a Máquina'.

DISTRIBUIÇÃO Cícero disponibilizou 'A praia' para download gratuito em seu site, assim como os dois primeiros trabalhos. No entanto, o álbum será lançado em breve em versão CD e LP. “O download é uma realidade, não uma possibilidade. A música passa a transitar de uma outra forma, e eu não vejo isso como um problema. Você pode até pagar por um disco on-line, mas se quiser. Não acho justo uma pessoa ser obrigada a pagar, sendo que outras vão conseguir de graça, de outras formas. Para mim, é mais uma questão de justiça do que de dinheiro”, afirma.

Para o cantor, essa nova forma de consumir música não anula os outros formatos, mas as demandas se tornam mais setorizadas. “Não vejo essas plataformas de streaming, por exemplo, como inimigas, mas não as vejo como uma solução. A internet é mais dinâmica. O tempo passa, e as coisas vão se perdendo. De certa forma, prefiro ter meus discos. A casa dos discos é meu site. É o lugar onde, daqui a dez anos, você vai encontrar meu trabalho reunido.”

A turnê de 'A praia' começa neste mês, com shows marcados para Curitiba, Porto Alegre, Aracaju, Rio de Janeiro e São Paulo.

Em Belo Horizonte, Cícero aporta no mês de maio, ainda sem data confirmada, mas já com muita ansiedade. “Sou louco por BH. É uma cidade onde existe um carinho enorme. Essa noção de carinho é muito natural para vocês. Toda vez que vou, ganho bolo, abraço. É uma forma de demonstrar afeto muito específica.”

 

TRÊS PERGUNTAS PARA
Cícero, cantor e compositor

1- Li que 'A praia' passeia pelas suas raízes pernambucanas. E o disco tem mesmo um pouco dessa cultura popular, com a utilização de instrumentos como alfaia, zabumba e ganzá. A faixa 'O bobo', por exemplo, tem uma bateria que lembra muito o maracatu. De onde vem essa inspiração?


O disco tem essa relação com Pernambuco, sim. Minha raiz é oernambucana. Meu avô era pescador em Olinda. O sobrenome Lins, que herdei da minha mãe, vem de lá. Meu avô tinha um quadro do Luiz Gonzaga na parede de casa e cresci vendo isso. Então, essa raiz está na minha criação, na minha música, desde o primeiro disco. Acho que, agora, assumi mais um pouco dessa identidade, especialmente por conta da afinidade que tenho com a música de Recife.

2- Apesar de tratar agora desse universo mais amplo, solar, que é a praia, o disco traz referências dos seus outros dois trabalhos. Nomes de música, e até algumas características sonoras. De que forma você acha que 'A praia' dialoga com os outros discos?

Os três discos são o que se chama de disco de produtor. Não é um disco de banda, de grupo. É uma cabeça só pensando. Então é um pouco necessário que haja um exercício de reinvenção, de busca, uma vontade de ir a outros lugares. Senão fica meio previsível. Te leva sempre para o mesmo lugar. Mas, ao mesmo tempo, eles conversam um com o outro. O jeito de cantar, a temática, o tom, tento mudar de disco para disco, para que eles sejam interessantes por si só. Mas tento amarrá-los de alguma forma, para que eles façam sentido juntos, também. Revisito personagens, imagens, cenas, sob uma nova ótica, para mostrar que as mesmas características podem ser retratadas de outras formas.

3- Apesar de não fazer exatamente parte do mainstream da música brasileira, você consegue circular muito e faz shows até fora do país. Como você vê o mercado para o tipo de música que produz?

Hoje tenho uma perspectiva bem animadora em relação à minha carreira. Nunca contei com aquela coisa de estourar, de explodir no país inteiro. Até por não acreditar que possa acontecer comigo, pelo tipo de música que faço. Mas é bom não ter esse objetivo, porque você ganha tempo para se desenvolver. Para de correr atrás do hit e começa a dar atenção a outros aspectos do disco, da sua música. Não vou dizer que o modelo dos grandes shows esteja falido, porque essa galera ainda está ganhando fortuna com isso. Mas eu não tenho interesse em ser pop star. Não sinto falta. Gosto muito dessa coisa de discos mais autorais, com mais personalidade. Eles te abrem uma janela para um lugar que você não viu ainda, como se fosse o quintal daquele artista. Isso é muito interessante para mim.

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