Roberto Carlos segue sem 'mudar', enquanto Robert Plant se reinventa

Brasileiro chega aos 73 anos mantendo a marca de 'não mudar'. Já para o britânico, solução é mudar sempre desde a entrada no Led Zeppelin, há 47 anos

por Mariana Peixoto 22/03/2015 12:11

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Tulio Santos/EM/D.A Press
Roberto Carlos se apresenta no Mineirinho, em 2013 (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, o pesquisador e historiador baiano Paulo Cesar de Araújo assistiu a todas as temporadas anuais de Roberto Carlos. Ele o viu no Canecão, a histórica casa de shows carioca, vestido de palhaço em show criado pela dupla Miele e Ronaldo Bôscoli em 1978. Também não perdeu, no mesmo cenário, a temporada de Detalhes  (1987), em que o Rei trocava de roupas em pleno palco, para interpretar canções de fases mais antigas de sua carreira, como a Jovem Guarda.

“Roberto Carlos é um gigante no palco, em disco, na televisão. Por isso ele é um artista maior. É bom em tudo”, afirma Paulo Cesar, lembrando que, quando da chegada da TV no Brasil, houve artistas do rádio que não sobreviveram à tela. “E mesmo sendo bom em tudo, Roberto é um artista do palco, que ele começa a frequentar desde que entra num auditório, aos 9 anos.”

Paulo Cesar já soma 25 anos de dedicação a Roberto Carlos. Começou em 1990 sua pesquisa, que resultou na biografia Roberto Carlos em detalhes, lançada em dezembro de 2006. Roberto entrou com ação contra Paulo Cesar. Caso notório da problemática que cerca a publicação de biografias não autorizadas no país, a obra foi proibida, após decisão judicial envolvendo o cantor, o biógrafo e a editora Planeta, em fevereiro de 2007. Onze mil exemplares foram recolhidos das livrarias na época.

No ano passado, o biógrafo lançou O réu e o Rei (Cia. das Letras), sobre os bastidores de uma disputa que está chegando a uma década. Paulo Cesar espera que uma decisão no Supremo Tribunal Federal possibilite a liberação de seu livro. “Não tem mais cabimento essa proibição. Só lamento o próprio Roberto não tomar essa iniciativa. Como um artista vai, aos 73 anos, carregar a pecha de censor? Isto depois de uma carreira tão linda.”

SEBASTIEN BOZON/AFP PHOTO
Robert Plant se apresenta no festival Eurockeennes, na França, em 2014 (foto: SEBASTIEN BOZON/AFP PHOTO )

Há tempos criticado por não se reinventar, Roberto transformou em letra e música (Fera ferida) sua decisão de não mudar. Já para o britânico Plant, a solução é mudar sempre. Sua discografia solo tem início em 1982, dois anos após a dissolução do Zep. Plant já lançou uma dúzia de álbuns, com diferentes formações, desde então.

“A obra solo dele contribui para o desenvolvimento da música popular. É uma tentativa de sofisticar a música atual, onde não existem novos gênios à altura dos grandes do passado, com poucas exceções, como Thom Yorke, do Radiohead”, afirma o jornalista e crítico carioca Jamari França.

Para o jornalista e escritor carioca André Barcinski, a ousadia de Plant vem desde a época do Led Zeppelin. “Foi uma das primeiras bandas do hard rock a ter influência de música indiana, africana. Como estudiosos da música de outros lugares, essa extensão foi natural tanto no trabalho do Page quanto do Plant. Só que o vocalista levou isso mais a sério.”

Independentemente do formato em que se apresenta, Plant terá sempre, na opinião dos dois jornalistas, um lugar no pódio da história do rock. “Seu timbre privilegiado, de grande alcance, serviu de inspiração para milhares de roqueiros. E em termos muscais, o Led influenciou mais do que Beatles ou Rolling Stones, devido ao talento de seus músicos”, afirma França.

Já Barcinski chama a atenção para as características do canto de Plant, que o fazem único. “Ele tentou fazer do rock algo mais dramático. O Led Zeppelin sempre foi influenciado por blueseiros antigos. Só que o vocal do Plant tem uma inflexão teatral. Ouvindo as músicas, percebe-se que ele está ou sofrendo ou apaixonado. Ao adicionar um pouco de drama, ele contribuiu para que a banda se tornasse tão popular.”

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