Erika Machado lança seu terceiro álbum, 'Superultramegafluuu'

Com produção de John Ulhoa, disco é dedicado a crianças, inclusive às que já cresceram

por Kiko Ferreira 11/03/2015 08:00

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Fiilipa Bastos/Divulgação
A cantora Erika Machado, que assina as 12 composições de seu novo álbum, dedicado ao público infantil (foto: Fiilipa Bastos/Divulgação)
A matéria-prima da música de Érika Machado é o desconcerto. O mesmo que funciona como escudo e arma do universo infantil. Semelhanças com Mário Quintana, Arnaldo Antunes, Manoel de Barros e outros poetas de profundas simplicidades não são coincidências, mas resultado de uma particular visão poética do mundo.

Por isso sua música agrada tanto às crianças, como a obra do Pato Fu. Logo, não é surpresa nenhuma que John Ulhoa seja o produtor de seu terceiro disco, 'Superultramegafluuu', confirmando a parceria que garantiu o sucesso de 'No cimento' (2006) e 'Bem me quer mal me quer' (2009). O álbum, que teve show de pré-lançamento no final do ano passado, é o primeiro explicitamente dedicado ao público infantil, mirando também, claro, o que a cantora, compositor a e instrumentista chama de crianças mais velhas.

Nascida em abril de 1977, em Belo Horizonte, e formada em artes plásticas, com recente mestrado em Portugal, Érika sonhava em ser cientista quando era criança. Mudou de ideia depois de comprar um violão e uma revista de cifras das músicas da Legião Urbana. Estudou piano e violão, foi ganhando personalidade como artista plástica e seguiu procurando cumprir uma trajetória que pudesse atender aos seus principais objetivos: contar histórias, tocar, cantar e desenhar.
Começou a compor aos 15 anos, mas só em 2003, aos 26, gravou em casa o CD demo 'Baratinho', primeira mostra de suas composições, feito para custar barato nas bancas de camelôs da cidade. O trabalho era, na verdade, uma pesquisa de repertório para o disco 'Marina seis horas da tarde', da amiga Marina Machado. Virou profissional expondo suas armas no disco 'No cimento', que teve boa repercussão nacional e rendeu um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

Três anos depois, 'Bem me quer mal me quer' confirmou o talento e mostrou que ela era capaz de ser, além de alegre e lírica, algo melancólica. Mas com uma ressalva: “Se a vida tivesse um ‘control z’, juro que só ia fazer canção alegre”.
Produzido, gravado e mixado por John Ulhoa entre agosto e novembro do ano passado, no estúdio 128 japs, o CD é recheado de barulhinhos bons, bem timbrados, com um instrumental de pegada eletrônica a cargo da própria Érika (voz, violão, teclados), de John (teclado, guitarra e programações) e de Daniel Saavedra (guitarra). A voz soa, aqui e ali, um pouco mais encorpada, mas não perde o colorido característico.

O projeto gráfico e as ilustrações, com personagens desenhados com traços simples e muita cor, conseguem ser atuais, mas com a mesma dose de nostalgia infantil que o personagem Fluuu representa: um companheiro inseparável da infância que simboliza a criança que continua a fazer parte do DNA de todo adulto que se dá ao direito de continuar a ter e criar sonhos.

As 12 músicas foram compostas por Érika, com a parceira Filipa Bastos contribuindo em três delas. Logo na abertura, 'Por quê?' é um rock sobre um menino que mora na ponta de uma estrela invisível e sempre pergunta por quê. Mesmo quando é para responder. Einstein aprovaria 'O relógio', sobre a relatividade do tempo quando é hora de aproveitar a vida.

Depois de lançar, na terceira faixa, o superlativo neologismo que batiza o trabalho, trata da mágica das imagens construídas com sombra e luz ('A nossa sombra'), trata de distância, saudade e amor em 'O melhor da vida', soa ludicamente didática em 'Toda palavra' e reabilita o lobo mau em 'O lobo é legal' e inverte a lógica da classificação do que seja um 'Programa de índio'. E defende o sonho nem sempre possível de realizar e a liberdade da imaginação em 'Pra variar' e 'Elefante amarelo'.

Espécie de continuação do disco anterior, que tratava de temas como fim de caso e suas consequências, 'Com você' é declaração de amor sem subterfúgios e prepara terreno para a música com alma de dedicatória 'Versinho sem rima': “Todas cores que eu consegui/ pus num desenho que eu fiz pra ti/ eu desenhei meu coração pra você”.

Ouça a faixa 'O melhor da vida', de Erika Machado:




FAIXA A FAIXA
(POR ÉRIKA MACHADO)


» 'A nossa sombra' e 'Toda palavra' foram as primeiras canções compostas para este trabalho. Quando as fiz, estava em busca de letras que sugerissem bastante imagem e fui brincando com as possibilidades delas em cada uma das canções.

» 'Pra variar' Fiz essa música num momento em que me peguei num esforço tremendo para realizar uma tarefa a princípio impossível, mas que trazia sentido à vida.
Estava ministrando algumas oficinas pela periferia da cidade e tenho o sonho de poder alterar as realidades dos que vivem nas margens dela.

» 'O relógio' foi das poucas canções em que primeiro pintou a letra. Não é minha primeira música em que o assunto principal é o tempo, mas quis falar dele de uma forma mais divertida e zombar do relógio, esse instrumento preciso de medida das horas (que são sempre do mesmo tamanho).

» 'Programa de índio' fiz numa sentada. Não pensei muito no que eu iria falar ou fazer, saí fazendo. Programa de índio é empregado de forma errada, na minha opinião. Quando paro para pensar, me vêm aqueles programas ligados ao verde e à água, o que gosto bem. Então, a música sofreu alguns ajustes no refrão e foi gravada da forma politicamente correta.

» 'O lobo é legal' começou com uma brincadeira. Eu vinha trabalhando numa letra em que, no final da história, o lobo ficava bonzinho e virava o ajudante de estimação da vovó. Mostrei a letra para um tio muito legal que tenho, e ele me disse que achava um pouco careta. ‘ É que a natureza era mesmo assim: ou o lobo comia a vovozinha ou a vovozinha comia o lobo’. Parei para pensar e era mesmo isso!

» 'Superultramegafluuu': Estava em busca de um nome para este disco. Fui dizendo pra mim mesma um monte de títulos. Queria um nome muito legal. Um dia, no carro, inventei essa palavra, que vem da junção de outras e mais outras letrinhas flu. Queria que fosse uma palavra mágica, e fiz a canção tratando como se fosse.

» 'Por quê?': Encontrei-me com uma amiga que tem filhos pequeninos e gêmeos. Ela desabafou: “Nossa ! As perguntas não têm fim. Para tudo eles devolvem um por quê?”. Eu e Filipa voltamos para casa já com a ideia de fazer uma música que só perguntasse por quê. Sentamos um pouquinho. Não demorou muito e ela já estava prontinha, sem esforço!

» 'O melhor da vida', 'Com você' e 'Versinho sem rima' são as músicas de amor do disco. 'Versinho sem rima' é a única canção que fiz, mesmo antes de ter a certeza de que esse projeto seria realizado. Eu vivia mandando alguns versinhos sem rima para uma pessoa (e eram todos numerados). Eles eram enviados por mensagem de celular, bilhetinhos etc. Daí resolvi fazer um versinho sem rima, cantado, que é esse.

» 'Com você' é sobre um amor por alguém que, em determinado período, passou por dificuldades, mas que venceu no final. Fala de alguém que quer ser campeão junto de alguém e por alguém, sem disputa. Nessa música o campeão não quer ganhar sozinho.

» 'O melhor da vida' é outra canção feita em parceria com a Filipa. São brincadeiras com as palavras, explicando o que elas podem ser. E com um refrão que pretende contagiar, afirmando que o amor é o melhor da vida. Gravei guitarra nessa música. Foi a primeira vez que isso ocorreu.

» 'Elefante amarelo' foi das últimas canções a ficar prontas para este trabalho. foi começada havia muito tempo, ainda quando vivia em Portugal. Tinha um pequeno parágrafo e dele não me esqueci. É uma canção que diz que nem tudo cabe nas mãos. E que tudo o que eu quiser pode existir na minha imaginação.

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