De quebra, ela convocou o rapper Emicida, que presta bela e oportuna homenagem à música negra. A base para o improviso do paulistano é 'Chiclete com banana' (Gordurinha), sucesso de Jackson do Padeiro, emendado à sua 'Quero ver quarta-feira'. “Rap é parente do samba, muito próximo. Moreira da Silva fazia sambas de breque que eram quase rap”, ensina Martinho da Vila, pesquisador do tema.
Em 'Mart’nália em samba! Ao vivo', a filha do mestre canta clássicos e adaptações pop do ritmo. “O indispensável é ter os amigos em volta – no meu caso, também a família –, além de sambas bons e daquele clima ‘todo mundo canta junto’. Roda de samba não é pra ninguém se exibir, mas pra trocar e se divertir”, explica ela.
A cantora conta que ia muito à casa da pioneira Dona Ivone Lara com o pai. “Lembro-me dos dois conversando, compondo. Gostava muito daquele jeitinho dela de sambar miudinho, pra lá e pra cá. Pra sambar, basta soltar o corpo. Esse jeito miudinho chamo de ‘dançar em volta’: a gente não anda pra frente nem para os lados, mas em torno da gente mesmo”, descreve, aos risos.
No tempo de Dona Ivone não havia abertura para a mulher no samba, a não ser como baiana, passista ou cabrocha, ressalta Mart’nália. “Como compositora, era complicado com aquele universo totalmente masculino. Dona Ivone abriu as portas para todas nós”, agradece.
Emicida chegou ao projeto depois de chamar a carioca para cantar 'Quero ver quarta-feira' em seu DVD. “Sou meio nova nesse assunto de rap, hip-hop. Comecei a entender melhor com o D2, teve ainda o Gabriel O Pensador, lá atrás. Acho que isso vem de Jair Rodrigues, Moreira da Silva e Bezerra da Silva. Aquele jeito falado de cantar sempre fez parte do mundo do samba: é tudo junto e misturado – sendo de qualidade, tá bacana. Esse pessoal é muito talentoso. Hip-hop tem a ver com partido-alto. Fico muito impressionada com esse lance do improviso do Emicida. É punk!”, conclui Mart’nália.