Aberta a público convidado pela primeira vez na noite do último sábado, a Sala Minas Gerais, que integra a Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH, é o que apropriadamente disseram artistas, autoridades e convidados: passaporte que faltava para inserir a capital mineira nos circuitos nacional e internacional das músicas erudita e sinfônica.
Não por acaso, o programa da noite exalava brasilidade: o 'Hino Nacional Brasileiro' (1822), de Francisco Manuel da Silva, 'O guarani: Protofonia' (1870), de Carlos Gomes, e a 'Suíte Vila Rica' (1958), de Camargo Guarnieri. Para encerrar o ensaio experimental, a Abertura 1812, 0p. 49, do russo Piotr Ilitch Tchaikovsky. É luxo só!, diria Ari Barroso.
A mudança da OFMG para a nova sede será em fevereiro, quando for concluída parte da obra que abrigará futuramente a Rádio Inconfidência e a Rede Minas de Televisão. “A primeira impressão é muito positiva porque qualidades como o volume sonoro e a homogeneidade do som que a orquestra produz – ouve-se bem da primeira à última fileira – são as melhores”, afirmou o regente-titular Fábio Mechetti.
“Ainda falta experimentar recursos como as cortinas acústicas, que cortarão a reverberação natural da sala”, observa o maestro. Detalhes como o posicionamento da orquestra, no entanto, ele já pode testar, deixando o processo de afinação para fevereiro. “Tudo será feito com paciência”, pondera Mechetti, lembrando que o espaço é um pouco menor (1.477 lugares) que o Grande Teatro do Palácio das Artes (mais de 1,5 mil lugares), que a OFMG utilizava desde sua criação, em fevereiro de 2008.
Caixa de sapato “A proximidade do grupo com o público, no entanto, é menor”, acrescenta o maestro, salientando que enquanto o formato do Palácio das Artes é de um leque, o da nova sala é de uma caixa de sapato com um violino (os balcões e coro, que ficam atrás da orquestra) em cima. “Do ponto de vista sinfônico, ela tem algo da Sala São Paulo”, compara Mechetti, lembrando que o diferencial da sala mineira é que ela foi feita do zero, enquanto a da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) foi adaptada da antiga Estação da Luz.
Comparada pelo regente a salas como Carnegie Hall (EUA), Suntory Hall (Japão), Circo Karajani, da Filarmônica de Berlim (Alemanha), e à de Lucerna (Suíça), a casa da OFMG foi projetada para receber desde uma orquestra sinfônica a grupos de câmara, com direito, inclusive, a recitais-solo. “Vamos ter de experimentar, será que um recital de violão solo vai funcionar?”, interrogava-se Mechetti, empolgado. “Se for o que esperamos, todos sairemos ganhando”, conclui o maestro. Para o percussionista Rafael Alberto, ensaiar no mesmo local das apresentações proporcionará equilíbrio de som fundamental.
Recém-chegado da Europa, onde esteve em turnê, e presente à apresentação de sábado, o violonista Juarez Moreira mostrou-se empolgado. “Pelo que vi, o espaço está sendo feito nos padrões das principais salas de concerto do mundo”, disse, aplaudindo a iniciativa do governo mineiro.
Jovialidade
O arquiteto José Augusto Nepomuceno, autor do projeto da Sala Minas Gerais, diz se tratar de uma sala híbrida, cujo formato revela a jovialidade inerente à própria OFMG. Ao lado do engenheiro de som e maestro americano Christopher Blair, Nepomuceno também se responsabilizou pela acústica do espaço. Já o projeto da Estação da Cultura Presidente Itamar Franco tem a assinatura dos arquitetos Jô Vasconcellos e Rafael Yanni.