Marcelo Pretto e Swami Jr. celebram parceria em disco

'A carne das canções ' tem sonoridade apimentada com rede de timbres que inclui berimbau de boca, violoncelo e loops

por Kiko Ferreira 30/11/2014 15:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Dani Gurgel/Da Pá Virada
(foto: Dani Gurgel/Da Pá Virada)
Música vem da alma? Se ela vier do etéreo e do impalpável, tem carne e osso?

Para a dupla Marcelo Pretto (voz) e Swami Jr. (violão), o intérprete precisa achar corpo, cerne e carne da canção. Nessa busca, Swami fez com Tiago Torres da Silva a faixa título do CD 'A carne das canções', que documenta a parceria de ambos, iniciada em 2011.

No tema que serve de bula, Marcelo canta: “Se aprender a cantar/ for apenas soltar/ as palavras das prisões?/ pro que der e vier/ vou cantar se eu puder/ ver a carne das canções”. Nessa busca, que em dado momento remete a 'Desafinado', de João Gilberto, os dois contaram com o auxílio precioso do produtor Beto Villares (Céu, Siba, Roberta Campos), capaz de apimentar a sonoridade com uma rede de timbres que inclui berimbau de boca, violoncelo e loops.

Variado, o álbum abre com 'Ratapaiapatabarreno', trava-língua forrozeiro sobre sotaques e formas diferenciadas de falar que Jackson do Pandeiro e Alceu Valença gostariam de conhecer. Mais clássica, 'Abre a casa' (Beto Villares) lembra os bons festivais dos anos 1960 e 1970. Já Nessa cidade (Fábio Barros) é crua e sangrenta, cantando a metrópole onde se matou e morreu demais. “Esse lugar não me suporta mais/ e cada passo me empurra pra trás”, diz a letra.

'Araripe ararat' (Chico Saraiva e Mauro Aguiar) é nordestina como o melhor de Fagner e Geraldo Azevedo, seguida de Pretinha (Leando Medina), puro Norte, Ver-o-Peso e tacacá. Sem tecnobreguice.

Depois da solidão de um romantismo quase raspando o osso de 'Vai, menina, vai' (Arrigo Barnabé), surge 'Olhos da cara' (Kiko Dinucci e Sinhá) com uma das cantadas mais originais da recente música brasileira: “Pago os olhos da cara/ pela tua boca/ fiquei sem saber/ se era corpo ou se era céu/ fiquei, fiquei, fiquei, fiquei”. Aí se chega ao meio do disco com a certeza de que a amostra foi bem colhida. 'Paisagem da neblina' (Rodrigo Campos) é canto para a musa de maiô listradinho. 'Pixaim' (Walter Freitas e Joãozinho Gomes) traz outro enfoque do Pará, agora mais afro, de divisões mais sinuosas. 'Esqueci de ficar triste' (Kiko Dinucci e Jonathan Silva) poderia ter sido feita por Sérgio Sampaio, hipoteticamente filtrado por Zeca Baleiro ou Raul Seixas.

Caminhando para o final, vem 'Iara', com a cidade e suas linhas de metrô ao mesmo tempo presentes e invisíveis. 'Labirinto azul' (Lincoln Antônio e Walter Garcia) inverte o cartão-postal e fala de mar aberto, abrindo espaço para 'Guia cruzada' (Douglas Germano), na linha João Bosco e Aldir Blanc. O CD termina com 'Tupepe', quase uma vinheta, demonstração dos dotes vocais de Marcelo Pretto, que fecha os trabalhos reafirmando a versatilidade de um cantor de muitos recursos.

REPERTÓRIO

>> Ratapaiapatabarreno (Douglas Germano)
>> Abre a casa (Beto Villares)
>> Nessa cidade (Fábio Barros)
>> Araripe ararat (Chico Saraiva e Mauro Aguiar)
>> Pretinha (Leandro Medina)
>> Vai, menina, vai (Arrigo Barnabé)
>> Olhos da cara (Kiko Dinucci e Sinhá)
>> Paisagem na neblina (Rodrigo Campos)
>> Pixãim (Walter Freitas e Joãozinho Gomes)
>> Esqueci de ficar triste (Kiko Dinucci e Jonathan Silva)
>> Iara (Antônio Loureiro e Luiz Tatit)
>> Labirinto azul (Lincoln Antônio e Walter Garcia)
>> Guia cruzada (Douglas Germano)
>> A carne das canções (Swami Jr. e Tiago Torres da Silva)
>> Tupepe (Marcelo Pretto)

MAIS SOBRE MÚSICA