Musica

Arnaldo Baptista empolga público em Belo Horizonte

Músico, ex-integrante dos Mutantes, se apresentou pela primeira vez na capital mineira com seu projeto solo

Daniel Camargos

Artista se apresentou na noite de domingo, no Cine Teatro Brasil Vallourec
Já havia passado quase 10 minutos do bis. Com as luzes totalmente acesas, a plateia permanecia nas cadeiras aplaudindo, ou melhor, quase implorando por mais alguns minutos de Arnaldo Baptista, o eterno Mutante. Pela primeira vez ele fez uma apresentação solo completa na capital mineira, cidade que escolheu para viver. Atualmente, Arnaldo divide seus dias entre Belo Horizonte e o sítio em Juiz de Fora.


O concerto Sarau o Benedito? é uma apresentação para iniciados na obra do artista. É somente Arnaldo, um piano de cauda e imagens de suas pinturas projetadas ao fundo do palco. Algumas rosas no piano e na frente do palco compõem o cenário lírico com a camisa amarela cintilante do rock star.


O início ligeiramente claudicante, pois o cantor parecia encantado com a plateia, foi se esvaindo. Arnaldo ganhou confiança, passou pelo medley com letras de Lóki (1974), disco fundamental da música brasileira que recentemente completou 40 anos, arriscou Rocket man (Elton John) e outros covers até inebriar a plateia com clássicos dos Mutantes: Ando meio desligado, Balada do louco e Posso perder minha mãe e minha mulher desde que eu tenha meu rock’n roll .

Quem não conhece a história de Arnaldo pode estranhar a voz sem muita potência e a cumplicidade do público, que cantava baixinho, um pouco receoso de desconcentrar o ídolo. Mas quem acompanha a trajetória do ex-Mutante – que foi casado com Rita Lee e, em parceria com o irmão, Sérgio Dias, fundou o rock brasileiro – sabia: ali no palco está um sobrevivente, espalmando as mãos no rosto de alegria ao agradecer aos aplausos.

O auge dele foi com os Mutantes, atravessando a década de 1960 e o início dos anos 1970 com canções alegres, psicodélicas, progressivas e baladas que contemplavam todo o cardápio de possibilidades e dissonâncias do rock. Depois de deixar a banda, Arnaldo se afundou em drogas pesadas, gravou discos como Singin alone (1982), pulou do terceiro andar de um prédio, quase morreu e se recuperou com a ajuda da atual mulher, Lucinha Barbosa. Voltou a compor, a tocar e até a gravar: há 10 anos, lançou o belíssimo CD Let it bed.

Domingo à noite, no Cine Teatro Brasil Vallourec, ele apresentou canções de todos esses discos. Um trecho da letra de Aí garupa (de Let it bed) resume a simbiose entre artista e público. Dos dois lados daquele palco, os “elmos vasos comunicantes” ficaram completamente ligados. É como diz o título de um dos raros discos de Arnaldo gravado em 1978 com a banda Patrulha do Espaço: “Faremos uma noitada excelente”.