Núbia Maciel lança seu primeiro álbum solo, 'Uma qualquer'

Ao contrário do que sugere o título, ela se revela única e com muito estilo, numa estreia promissora

por Kiko Ferreira 28/06/2014 06:00

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Pya Lima/Divulgação
(foto: Pya Lima/Divulgação )
Palavras simples que falam de amor. É o mote de Uma qualquer, provocante título do disco de estreia da cantora e compositora Núbia Maciel, desde 2005 integrante do grupo paulistano Samba de Rainha, formado só por mulheres. Com o nome inspirado na cantora brega Núbia Lafaiette, de hits do naipe de Quem eu quero não me quer, Abandono cruel e Migalhas, ela passou boa parte da infância ouvindo música romântica no rádio e na vitrola de casa, ao lado da mãe, em Teresópolis.

Apesar de a melhor faixa do CD ser uma samba, Alvo errado, o voo solo de Núbia tem bolero, tango, xote, valsa e outras levadas, atualizadas pela produção de Gustavo Ruiz, um dos responsáveis pelo sucesso da irmã, Tulipa Ruiz. As palavras simples da proposta estética fazem com que ela se enquadre na categoria das autoras que fazem letras como recados, e-mails, narrativas nem sempre elaboradas de casos de amor, tristezas, lembranças e lamentos. As mesmas emoções baratas de que fala Fausto Fawcett, sem a pegada literária nem a ousadia do cronista de Copacabana.

Já na faixa de abertura, Eu amei, da dupla Oui Madame, ela derrama: “De tudo que eu pedi/ nada me falta/ e tudo que passou/ já não me importa/ eu estou aqui/ eu tenho você”. Já na segunda música, Como é bom esse amor, a primeira em que aparece como autora, o bilhete poderia estar numa mesa de café, para quem acordar ler e sorrir: “O meu papel é te amar/ é te cuidar, te proteger/ você me traz felicidade/ quero agradecer por você existir”.

Na faixa-título, parceria com Bianca Kovac, uma oferta menos fiel: “Hoje eu vou sair/ à procura/ de um alguém/ nada especial/ que me queira bem”. Em clima quase de autoajuda, Às vezes não, dela com Aidée Cristina, filosofa: “Nessa vida a gente encontra gente/ que tinha tudo pra ser/ mas às vezes não, às vezes não, /não pode ser/ um sussurro aos ouvidos.” E na única faixa que não é inédita, Medo de olhar de si, que o autor, Leo Cavalcanti, já havia gravado em seu disco Religar, de 2010, o conselho sobre o jogo amoroso de apego e aversão também termina como papo de bar, em clima de DR: “Se desvalorizar/ é o mesmo que se superamar/ ambos querem excluir/ o resto do mundo/ enquanto seu tesouro/ fica preso lá no fundo”.

Um pouco de malícia aparece no samba Alvo errado, dela com Hailtinho Navio, em que a personagem abre os trabalhos se dizendo “como a flecha de um cupido/ viajando sem destino/ querendo acertar/o coração de alguém” e quem aparece é “uma nega” que “é um pecado” e vem “toda descontraída, toda faceira e toda fingida/ fingindo não amar a mais ninguém”. Pra não variar, o samba bate outra vez o pop de ocasião.

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