Musica

Milton Nascimento e Criolo fazem show no Palácio das Artes

Cantores se apresentam para o público da capital nesta sexta e sábado com 'Linha de Frente - Milton Nascimento convida Criolo'

Ailton Magioli

Dois anos e muitas risadas depois de se conhecerem nos bastidores do Prêmio da Música Brasileira, que homenageava João Bosco, Milton Nascimento e Criolo acharam que era chegada a hora de levar a amizade para os palcos. A princípio (im)provável e (im)pensável, a parceria entre o cantor de MPB com o rapper rendeu o show Linha de frente – Milton Nascimento convida Criolo, que Belo Horizonte assiste nesta sexta e sábado, no Grande Teatro do Palácio das Artes.


“Tenho certeza de que tudo foi culpa da amizade que a gente começou, em 2012”, afirma Milton, que diz ter passado a se interessar por rap no Brasil graças aos Racionais MCs. “Juntos, KL Jay, Eddi Rock, Ice Blue e Mano Brown formaram um dos grupos mais revolucionários do país, tanto em música quanto em estética”, afirma Bituca.


“Depois deles, muitos jovens pobres do país que não tinham nenhuma perspectiva começaram a organizar suas próprias formas de expressão artística. Com os Racionais, surgiu na periferia uma geração inteira de escritores, músicos e outros tantos talentos que até hoje estão aí”, acrescenta o cantor, cuja fama de descobridor de jovens talentos vem de longe.

Crias de gerações distintas, que fizeram da música arma de lutas sociais, Bituca e Criolo têm mais em comum do que se pode imaginar. “A única coisa que nos diferencia é o tempo, pois ainda hoje vivemos os mesmos problemas, principalmente sociais”, avalia o cantor, que teve de enfrentar a ditadura militar em plena trajetória artística.

“Sendo assim, nossa principal função enquanto artista não pode se resumir somente às coisas que estão a nossa volta mas, sobretudo, com os problemas que atingem a vida das outras pessoas. Como pessoas públicas, temos que estar sempre atentos”, prega Milton Nascimento.

Dez anjos, a primeira parceria de Bituca com Criolo, veio de uma sugestão. “Gal Costa está finalizando um disco, dirigido por Marcus Preto, cuja a maioria das músicas veio de compositores da nova geração. Mas, para minha alegria, chegou a sugestão de uma parceria entre Criolo e eu”, recorda o cantor.
“O engraçado é que tivemos três meses para fazer a música, mas sempre que nos encontrávamos ela nunca saía. Até que, quase no último minuto, recebi a letra dele e fiz a música no mesmo dia, que foi batizada de Dez anjos”, relata Milton Nascimento.

Dos ensaios na casa do cantor vieram os primeiros resultados do show, antecedidos de um primeiro encontro de Bituca e Criolo, no Rio. “Fizemos os ensaios na minha casa e tudo saiu da forma mais natural possível. Ninguém impôs nada. Assim, as coisas foram se encaixando de maneira muito tranquila. Vamos apresentar algumas novidades nesse show e desejamos profundamente tocar o coração das pessoas”, conclui Milton Nascimento.

 

Atração pelo novo

 

Honestidade, simplicidade, caráter e, claro, amor à música, são qualidades de Criolo que atraíram Milton Nascimento. “Ele representa o novo, Criolo e Ganjaman (produtor musical, engenheiro de áudio, arranjador e músico brasileiro) deram uma sacudida no cenário”, garante o cantor mineiro.

Segundo Milton, de Belo Horizonte o show segue para São Paulo e Rio. Além do repertório de ambos, que vai ganhar novos arranjos, eles prometem cantar pérolas de compositores que gostam, caso de Dorival Caymmi, Chico Buarque e Miles Davis.

“Acho que isso só vem complementar ainda mais nosso show”, acredita Milton. Para o cantor, o timbre dele e de Criolo nada mais é do que a voz do povo. “Posso dizer até que ambos tivemos essa mesma formação: a rua, a noite, os amigos sempre ao lado e a nossa própria vida. Essa é a maior contribuição, devolver tudo aquilo que a vida nos proporciona”.

Um dueto em Travessia, solos de Criolo (Bogotá e Mariô) e de Milton (Morro velho), além da primeira parceria dos dois, Linha de frente (a música é de Milton e a letra de Criolo) são algumas das curiosidades do show, que reafirma o gosto de Milton pelo novo, desde que conheceu, em Belo Horizonte, na década de 1960, os irmãos Borges: Marilton, Márcio, Telo e Lô, com os quais fundou o emblemático Clube da Esquina. Desde então, o cantor vem repetindo o gesto, trazendo à cena nomes como Celso Adolfo, Tadeu Franco, Elder Costa, Marina Machado, Bruno Cabral e tantos outros artistas mineiros com os quais cruzou ao longo da carreira. No show, ele também apresenta a jovem carioca Júlia Vargas, cuja voz Milton garante ser uma das mais belas que ouviu nos últimos tempos.

Além dos músicos que acompanham Milton há mais de 20 anos – Wilson Lopes (guitarra), Lincoln Cheib (bateria), Kiko Continentino (piano), Widor Santiago (baixo), Ronaldo Silva (percussão), Pedrinho do Cavaco (Cavaquinho) e Gastão Villeroy (baixo) – estarão no palco o arranjador Daniel Ganjaman e a já citada Júlia Vargas.

LINHA DE FRENTE – MILTON NASCIMENTO CONVIDA CRILO

Sexta e sábado, às 21h. Grande Teatro do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Ingressos: Plateia 1, R$ 220 (inteira) e R$ 110 (meia); plateia 2, R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia); e plateia superior, R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia). Classificação livre. Informações: (31) 3236-7400.