Musica

Pesquisador compila faixas raras e inéditas de Jorge Mautner em álbum

Músicas descobertas remontam a antes do início formal da carreira do cantor, em 1965. Algumas não eram lembradas nem mesmo pelo próprio Mautner

Mariana Peixoto

Em sua mistura louca, Jorge Mautner recriou até música caipira, o que está no registro inédito
Oficialmente, a discografia de Jorge Mautner teve início em 1965, com um compacto com duas faixas, 'Radioatividade' e 'Não não não'. O primeiro álbum, 'Pra iluminar a cidade', ele só lançaria sete anos mais tarde, após um período nos Estados Unidos e na Inglaterra. Pois o pesquisador Marcelo Fróes fez uma descoberta que embaralhou esse início de carreira. Encontrou fitas de um show que o cantor, compositor, cineasta e escritor havia apresentado antes do registro do primeiro álbum. Fez mais: recuperou seis canções inéditas de que nem o próprio Mautner se lembrava. Todo este material resultou no álbum duplo 'Jorge Mautner ao vivo – Para detonar a cidade', que Fróes editou pelo próprio selo, Discobertas.


Não se sabe a data do show em questão, apenas que ele traz material semelhante ao da temporada de 'Tira o cavalo da chuva', em abril de 1972, no Teatro Opinião, e que acabou por gerar 'Pra iluminar a cidade'. Sobre o show, Mautner afirmou na época: “O som que vamos apresentar é novo, justamente por desconhecer uma série de barreiras. Vamos juntar o samba, o maracatu e o candomblé ao blues e ao rock para revigorar uma série de experiências em matéria de música popular que a comercialização prejudicou”.

Pois Mautner toca e canta o que prega. Uma das inéditas, 'Roses from Baghdah', com letra em inglês, surge num medley entre dois standards – o rock 'Tutti frutti' (Little Richard) e o country 'Jambalaya' (On the bayou), de Hank Williams – e é arrematado em português com Anjo infernal, uma das canções que ele viria a registrar em Pra iluminar a cidade. Há outros medleys no show, um inclusive com outra inédita, Louca curtição, aqui interpretada ao lado de Quando a tarde vem. O grupo das canções redescobertas se completa com Chave de um perdido paraíso, Magic hill, Medonho quilombo e Salve salve a Bahia.

Parceiro de toda uma vida, o violonista Nelson Jacobina está presente no registro, com banda essencialmente acústica, formada ainda por Sérgio Amado (violões), Alexandre (baixo) e Otoniel e Tide (percussões). Além dessas canções, há registros também inéditos na voz e na interpretação sempre personalista de Mautner. Ele não se furta a interpretar um samba, Agô-iê (de Ataulfo Alves, aqui com acento afro), e música caipira (Boi de carro, conhecida em gravações de Tonico & Tinoco). E para os que o acompanham de longa data, ainda lança luz em canções bem conhecidas de seu repertório, como Sapo cururu e Olhar bestial, aqui em arranjos distintos dos registros posteriores.