Musica

Renegado escolhe BH para lançar DVD

Músico do Alto Vera Cruz vai aproveitar o Dia das Mães para apresentar o primeiro trabalho do gênero da carreira

Eduardo Tristão Girão

"O Alto Vera Cruz fica entusiasmado por se ver retratado de outra forma na mídia. As pessoas dão força, vão aos shows"
Renegado já não sabe mais onde mora. O rapper continua se sentindo “em casa” no Alto Vera Cruz, Região Leste de Belo Horizonte, onde nasceu, mas tem ficado cada vez mais tempo entre São Paulo e Rio de Janeiro. Para se ter ideia, atualmente, ele tem se dedicado a ampliar seu leque de parceiros (o carioca Edu Krieger entre eles) e a série de exibições de seu primeiro DVD, '#suaveaovivo', para gente do show business. Gravado ao vivo na capital mineira, ano passado, o trabalho terá show de lançamento aqui, mês que vem, no Teatro Bradesco – a pré-venda na internet do DVD começa dia 29.


“Estou vivendo momento de indecisão na vida. Desde o último disco, tenho ficado bastante em São Paulo, mas com a produção desse DVD, feita pelo Liminha e Kassin, fiquei mais no Rio de Janeiro, que é uma cidade apaixonante, a mais linda do mundo. Mesmo assim, só me sinto em casa quando estou no Alto. Não sei onde vou morar, mas acho que ainda não é hora de decidir isso. Sou novo, não sou casado, não tenho filho”, desabafa o artista, que completa 31 anos mês que vem.

Ele considera estar num bom momento, compondo bastante e, principalmente, aprendendo a fazer isso de forma diferente. “Estou começando a compor com mais gente, sendo que sempre fui mais solitário nisso. Meu maior parceiro tem sido Gustavo Maguá. Temos umas oito a 10 músicas. Fiz uma nova este ano com Edu Krieger, 'Sem tradução', que é um samba meio bossa. Tenho música também com o Gabriel Moura, parceiro de Seu Jorge. Isso tudo é fruto das minhas andanças”, conta.

Nenhuma dessas entrou no repertório do DVD, mas outra foi colocada lá para sinalizar essa nova tendência na escrita musical de Renegado: 'Estamos no jogo', composta por Guilherme Arantes, para ele, um “ser humano sensacional”. Essa é uma das três inéditas, ao lado de 'Nice to meet you' e 'Na palma da mão' (ambas escritas por ele), esta última gravada previamente por Bebel Gilberto. Aliás, as conexões com Liminha e Kassin aconteceram por conta da sua participação na gravação do DVD da cantora, em 2012. Com os dois produtores, veio Gringo Cardia, que assinou a direção artística de '#suaveaovivo'.

Ciclo
Das 20 faixas que compõem o novo trabalho, quase todas são assinadas por ele, já que decidiu incluir três releituras, 'Não vou ficar' (Tim Maia), 'Jorge Maravilha' (Chico Buarque) e 'Saudosa maloca' (Adoniran Barbosa). No mais, faz mistura de canções dos dois álbuns que já lançou, 'Do Oiapoque a Nova York' (2008) e 'Minha tribo é o mundo' (2011), a exemplo de 'Meu canto', 'A coisa é séria', 'Mil grau', 'Zica' e 'Suave'. Entre os convidados especiais, estão o grupo Meninas de Sinhá (que é do Alto Vera Cruz) e os cantores Rogério Flausino (Jota Quest) e Aline Calixto.

O show que deu origem ao DVD foi gravado em 2 de junho do ano passado, no Parque Muncipal de BH, diante de aproximadamente 5 mil pessoas. A realização desse projeto tem dupla importância para Renegado: “O lugar representa muito para mim, pois meu avô trabalhava como bombeiro hidráulico com um tio e meu pai logo em frente, próximo ao Viaduto Santa Tereza. As poucas lembranças do meu pai, que morreu há três anos, trago de lá. O parque era um lugar onde estávamos em família, nos divertindo. Fora isso, público e compradores de show entenderão o que ele é, pois o disco não mostra o lado showman”.

A banda que o acompanhou é a mesma desde o álbum 'Minha tribo é o mundo', formada por Rodrigo Carioca (bateria), Aloízio Horta (baixo), Egler Bruno (guitarra), Robson Batata (percussão), Christiano Caldas (teclado), Leonardo Brasilino (trombone), Juventino Dias (trompete) e DJ Spider. “Fico feliz com os caminhos e a repercussão do meu trabalho. Fecho um ciclo com esse DVD. Do Oiapoque foi um disco de alguém que queria conhecer o mundo. No trabalho seguinte, rodei o mundo e escrevi as músicas depois”, avalia.

Sonho
O artista passou pela Espanha, Inglaterra, Holanda, França, Austrália, Cuba, Estados Unidos e Venezuela – sem falar nas várias viagens que fez para divulgar seu trabalho pelo Brasil. “Sonhar pouco e sonhar alto custa o mesmo tanto. Sou filho de empregada doméstica, as possibilidades eram zero. Sonhei, acreditei e estou aprendendo a sonhar cada dia mais alto”, afirma. Como está mirando longe, ele tem trabalhado de 12 a 14 horas por dia – estuda inglês (“ainda limparei os vícios do espanhol e, depois, talvez aprenda francês ou alemão”), se envolve na produção e treina violão, principal instrumento que usa para compor. “Sinto falta de jogar bola, de tomar uma cerveja, mas vale muito a pena”, confessa, para dizer: “Não tenho medo de ganhar dinheiro. A vida está mais próspera, mas não estou rico. Dei entrada num apartamento para minha mãe”.

Do pop ao nderground
O próximo disco de inéditas ainda não tem nome e deverá ser lançado só ano que vem. Entretanto, já há algumas bases definidas. “Estou voltando a escrever antes para depois encaixar na música, como no rap tradicional. Tenho procurado variar as formas de composição”, conta Renegado. O repertório ainda não foi fechado, mas será um disco diferente dos seus anteriores, adianta: “Quero achar um meio termo entre o pop e o underground. Vai ter rap também. Quem gosta de rap se sentirá contemplado e quem gosta das misturas que faço se sentirá privilegiado”. Para o artista, as misturas entre o rap e diversos gêneros musicais são o futuro da cena. “Não tem para onde correr. O rap só cresce como está crescendo porque está flertando diretamente com a música brasileira. Ele só vai ganhar o coração do povo quando se ligar à música brasileira. Senão, vai todo mundo ficar batendo cabeça. O rap brasileiro tem ficado mais sofisticado por conta disso, mantendo a tradição e buscando evolução”, analisa. Nessa linha, ele gosta de Rael, Criolo, Marcelo D2
e Edi Rock.

Agenda
O show de lançamento do DVD em BH, em 10 de maio, celebrará o Dia das Mães. Regina, mãe de Renegado, participará da música 'Bênção'. A apresentação homenageará dona Valdete, líder do grupo Meninas de Sinhá, também do Alto Vera Cruz, que morreu em janeiro. Em 9 de maio, ele se apresenta no Itaú Cultural, em São Paulo, e no dia 20, no Solar de Botafogo, no Rio.