Musica

Moraes Moreira lança caixa com quatro álbuns do início de sua carreira solo, nos anos 1970

Cantor e compositor lembra influência musical e poética do grupo Novos Baianos

Ailton Magioli

Discos são como filhos, não dá para escolher o preferido, são todos iguais. É o que sugere Moraes Moreira, de 66 anos, ao lançar os quatro primeiros da carreira solo, reunidos no box 'Moraes Moreira anos 70'. Dos poucos integrantes dos Novos Baianos (1969-1979) a sobreviver em tal situação – além de Pepeu Gomes e, mais recentemente, Baby do Brasil, que retornou aos palcos – Moraes contabiliza mais de 20 discos desde que decidiu sair do célebre grupo. Seu mais recente trabalho foi o excelente 'A revolta dos ritmos', de 2012.


Produtos da então estreante carreira solo do cantor, compositor e instrumentista baiano, 'Moraes Moreira' (1975), 'Cara e coração' (1977), 'Alto falante' (1978) e 'Lá vem o Brasil descendo a ladeira' (1979) foram oportunamente reunidos agora pelo produtor e pesquisador Marcelo Fróes na caixa do selo Discobertas. Além dos primeiros sucessos – 'Pombo correio' e 'Lá vem o Brasil descendo a ladeira' – que seriam seguidos de outros tais como 'Bloco do prazer', que estourou na voz de Gal Costa.


Segundo Moraes, a saída da comunidade na qual os Novos Baianos viviam no Rio de Janeiro dos anos 1970 foi difícil. “A barra foi pesada, era como sair de uma religião, mas com coragem e talento atravessei os mares da solidão e fui em frente, sabendo que aquela era a minha hora. Tomar conta da minha vida, da minha família, pois já estava com dois filhos para criar”, recorda o pai do hoje guitarrista Davi Moraes. Em um período diferente do atual conturbado mercado musical, ela garante que algumas pessoas duvidaram da capacidade de ele de construir uma carreira solo.


“Com o passar do tempo, no entanto, elas foram vendo que se enganaram. O sucesso do trabalho falou mais alto”, comemora o artista, cuja guitarra tem influência direta de mestres como Armandinho. “Minhas influências musicais vêm desde cedo, quando ainda era criança na minha cidade natal (Ituaçu), no interior da Bahia, onde ouvia o alto falante e o rádio e me apaixonei pela canção popular.”


Melodista refinado dos Novos Baianos, onde assinou sucessos como 'Preta pretinha' e 'Acabou chorare', entre outros, ao lado de Luiz Galvão, ao deixar o grupo Moraes Moreira foi apurando a veia poética a ponto de, hoje, se considerar um poeta. “Um cordelista que adora declamar”, confessa o cantor, compositor e instrumentista, que já lançou livros de poesia.


Vale lembrar ainda que entre os principais parceiros dele, já em carreira solo, estão poetas do porte de Abel Silva, Fausto Nilo e Antonio Cícero. Os anos 1970 foram, na opinião do artista, de muita criatividade e ousadia. “Tivemos que enfrentar censura, tortura, exílio e tudo mais. Fomos em frente defendendo de toda maneira a volta da democracia no país”, conclui.