Musica

Beck lança disco influenciado pela música folk

Novo trabalho do cantor traz faixas inéditas com referências ao country e ao blues

Mariana Peixoto

Este será o 12º álbum do cantor norte-americano
Esqueça a mistura de rock, psicodelia e country do álbum de estreia, Mellow gold (1994). Ou a variedade de blues, soul e rap de Odelay (1996), o trabalho pelo qual é reverenciado até hoje. Chegando mais próximo dos tempos atuais, também há pouco, para não dizer nada, de Modern guilt (2008), e suas hábeis colagens sonoras. Morning phase, 12º álbum de Beck, sem dúvidas um dos nomes mais inventivos, curiosos e originais da música norte-americana das últimas duas décadas, dialoga com um trabalho bem específico, lançado 12 anos atrás: o introspectivo (mas não menos impactante) Sea change, em que Beck aborda o universo folk a partir de suas diferentes nuances.


Trabalhando com o mesmo universo – e inclusive com muitos dos músicos de 2002 – Beck fez um trabalho oposto e, ao mesmo tempo, complementar. No que Sea change era obscuro, por vezes solar, Morning phase (Fase matinal, numa tradução literal, ou algo como o dia seguinte, numa leitura menos óbvia). O bardo Nick Drake foi a referência mais imediata do primeiro trabalho. Drake continua ali, mas as harmonias vocais remetem a Crosby, Stills, Nash & Young. Do folk produzido nos dias de hoje, há ecos também de Bon Iver.


É um álbum com conceito de álbum, algo raro no universo dos singles imediatistas ou do EPs virtuais por vezes descuidados. Uma canção como que complementa a outra, formando um só corpo. Fãs do Beck das colagens, das batidas quebradas, vão achar esse trabalho um tanto monocórdio. Nada disso, e audições bem cuidadas só fazem o trabalho crescer. Com arranjos de cordas assinados por David Campbell, pai de Beck (que tinha assumido tal função em Sea change), o disco traz 13 faixas.

Há vinhetas, como Cycle, que abre o álbum. É apenas uma introdução para a primeira canção, Morning – “Acorde nesta manhã/ Depois de uma longa noite de tempestade”, dizem os versos iniciais, acompanhados de instrumentação econômica. Mas há muita coisa além. Wave é baseada em violino e piano; Country down carrega uma levada country (obviamente), com direito até a gaita; Unforgiven tem sintetizadores, escapando do formato acústico que permeia boa parte do repertório; e Heart is a drum, com levada blueseira, se destaca pelo belo arranjo vocal.

Mas não se deixe enganar. Morning phase é um momento de Beck, hoje casado e pai de um casal. No palco, como em sua mais recente passagem pelo Brasil, em novembro, no Planeta Terra, o californiano transcende rótulos, passeando, com facilidade, pelo blues, rock, eletrônica, folk e country. Há seis anos sem lançar um disco novo – mas produzindo bastante, inclusive nomes como Charlotte Gainsbourg, Thurston Moore, do Sonic Youth, Stephen Malkmus and the Jicks, além de contribuir para trilhas de produções díspares, da saga Crepúsculo à série True blood – promete para daqui a pouco um outro disco. Que será, com certeza, completamente diferente deste. Afinal, fases passam.