Musica

Mostra Cantautores BH começa nesta segunda e se estende durante a semana

Terceira edição do evento ocorre na Funarte e pretende estreitar laços entre nomes da música já conhecidos e novos trabalhos autorais

Mariana Peixoto

Com 20 anos de carreira, oito álbuns, um DVD e parcerias com Milton Nascimento, Luiz Tatit, Chico Amaral, Zeca Baleiro, entre vários outros, Flávio Henrique faz esta semana uma prova de fogo. Pela primeira vez vai subir num palco sozinho. Ao longo dos próximos dias, o mesmo palco vai receber Sara Não Tem Nome, garota de pouco mais de 20 anos que nunca fez um registro das próprias canções; Fred Heliodoro, contrabaixista mais conhecido no meio da música instrumental; Marcos Braccini, também baixista, só que da banda de rock The Junkie Dogs.


Despidos de qualquer outro acompanhamento e tendo a seu lado apenas os próprios violões e canções, esses nomes, ao lado de outros oito, formam o elenco da terceira Mostra Cantautores BH, que vai de hoje a sábado, na Funarte-MG. “A maioria dos artistas que passa pelo projeto fica com a sensação de ter feito um show único. Por mais que seja comum tocar com o violão em casa, é muito diferente de fazer isso em show, pois ali você está mostrando suas canções na essência. Além do mais, o público é sempre muito dedicado”, afirma a cantora e compositora Jennifer Souza, que criou o projeto há dois anos, ao lado de Luiz Gabriel Lopes.


O Cantautores nasceu de forma despretensiosa. Em 2011, à procura de um lugar para apresentar as próprias composições, Jennifer, integrante da banda Transmissor, e Luiz Gabriel, do Graveola e o Lixo Polifônico, chegaram ao Teatro Espanca!, na época com edital aberto para ocupação. Como teriam uma semana de apresentações, viram que seria tempo em demasia para shows solo. Acabaram convidando amigos próximos que estavam com trabalhos autorais também pouco conhecidos. Foram 12 nomes na edição de estreia.

No ano passado, 13 artistas passaram pela mostra, que também ocorreu no Espanca!. Como tinham aprovado o projeto no Fundo Municipal de Cultura, puderam se dar ao luxo de convidar um cantautor estrangeiro, no caso o argentino Edgardo Cardozo. Como o espaço é pequeno e o interesse do público grande, foram duas sessões de cada artista. Nas duas edições, foram produzidas coletâneas e uma série de vídeos (todos disponíveis no site da mostra). A nova edição sofreu com a ausência de patrocínio. Feita na marra, a mostra, no entanto, ganhou outro palco, a Funarte-MG, com capacidade para 140 pessoas (o dobro da do Espanca!). “Temos uma lista extensa de artistas, que dá para mais três ou quatro edições da mostra”, continua Jennifer.

Diversidade

A ideia sempre foi aliar nomes já estabelecidos a outros em início de carreira ou que têm um trabalho autoral desconhecido. Flávio Henrique, por exemplo, vai intercalar as músicas selecionadas com histórias de como foram compostas. “'A luz é como a água,' minha com o Makely Ka, foi gravada pela Mariana Nunes, que tem uma extensão vocal grande. Me deu trabalho mudar para colocar na minha voz”, conta ele, que promete ainda marchinhas que compôs para o carnaval. “Há pouco tempo, comecei a cantar em show com o Cobra Coral (grupo que montou ao lado de Kadu Vianna, Mariana Nunes e Pedro Morais). Mas não tenho muito esse papel de solista, então está sendo um desafio grande.”

Outro que não costuma ser visto como cantautor é Vítor Santana, que está prestes a lançar seu terceiro álbum, 'Coladera', ao lado do violonista João Pires e do percussionista Marcos Suzano. “Vai ser a primeira vez que faço isso (show com violão). Mas toda a base do meu trabalho está nessa relação com o violão. Além do mais, estudei letras, então tenho uma relação forte com a literatura”, comenta ele, que cita como referências Elomar, João Bosco e Gilberto Gil.

 Com menos estrada, Raphael Sales abre a última noite da mostra, no sábado. Compositor de Contagem, integrante do grupo Batucanto, compõe para diferentes estilos. “Como o tempo de show é curto (35 minutos para cada), vou tentar apresentar a maior diversidade possível de músicas. Há sambas bem críticos, que refletem situações que temos vivido hoje, inclusive politicamente, canções mais líricas e outra com temática africana, coisa que sempre valorizei”, afirma ele, que é músico autodidata com passagem pelo rock and roll. Hoje em dia, estuda violão na Fundação de Educação Artística.

Na mesma noite de Raphael, a outra atração é Irene Bertachini, mais conhecida como integrante do Urucum na Cara. Cantora, flautista e violonista, ela compõe desde os 15 anos. Em maio, lançou seu primeiro álbum solo, que mistura música popular, ritmos brasileiros e jazz. Parte do repertório do show vem desse trabalho, influenciado também pelo coletivo ANA, sigla de Amostra Nua de Autoras, da qual também fazem parte gente como Laura Lopes, Déa Trancoso e Leopoldina. “Será um show mais intimista, com uma escuta mais apurada da canção, também crua e intensa. Ou seja, dá para perceber mais as nuances da melodia e da letra.”

 
Bardos

No Brasil o termo cantautor é pouco utilizado. Grosso modo, cantautor é o músico que escreve, compõe, canta e toca suas próprias canções (o que se conhece no país como cantor e compositor). Presentes em diferentes períodos da história, os cantautores já foram chamados também de trovadores e bardos.

 

Programação

Segunda – Sara Não Tem Nome e Érika Machado
Terça – Dé Lucas e Pedro Morais
Quarta – Marcos Braccini e Pedro Carneiro
Quinta – Flávio Henrique e Vítor Santana
Sexta – Laura Lopes e Frederico Heliodoro
Sábado – Raphael Sales e Irene Bertachini

3ª MOSTRA CANTAUTORES BH
De segunda a sábado, às 20h. Funarte-MG, Rua Januária, 68, Floresta, (31) 3213-3084. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia).