Musica

Affonsinho lança 'Depois de agora' apenas quatro meses após 'Trópico de peixes'

Cantor mineiro conta que com as bases gravadas em seis horas de estúdio, o mais recente trabalho ficou pronto logo

Kiko Ferreira

O ano tem sido produtivo para o mineiro Affonsinho. Em maio, ele lançou o CD 'Trópico de peixes', com 12 faixas e participações especiais de Marina Machado, Celso Fonseca, Veronica Ferriani e do filho pródigo Frederico Heliodoro. Nem bem a poeira assentou e lá vem ele com um novo trabalho, o enxuto 'Depois de agora', com nove faixas e uma pegada diferente dos álbuns anteriores.


A história começou uma semana depois do show mais recente, em 21 de maio, no Teatro Bradesco. “Fiquei conhecendo os violões Max Rosa Guitars, fabricados em Nova Lima pelo luthier Max Rosa”, conta Affonsinho. “Ele fez dois instrumentos para o Flávio Venturini, mais dois para o Aggeu Marques, e me emprestou um lindo D28 enquanto fazia o meu modelo.”


Assumindo a máxima de que “cada instrumento novo traz uma canção escondida”, ele começou a compor o repertório e, em duas semanas, as nove canções estavam prontas. A ideia inicial era guardar para um disco futuro, mas veio à lembrança um caso ocorrido no auge do BRock. “O Hanói Hanói tinha uma música com a palavra ciúme no refrão. Demoramos a gravar e surgiu a música do Ultraje a Rigor, dois meses antes de lançarmos a nossa, que seria a música de trabalho do disco. Perdemos a chance, pois soaria como plágio do Ultraje. Ficou a lição”, conclui.

E, assumindo a máxima de Ezra Pound, “artistas, antenas”, ele resolveu lançar o álbum, que considera seu primeiro disco folk. “Tentei mergulhar em todas as influências, de James Taylor, Neil Young, Beatles, George Harrison, Bob Dylan, Cat Stevens, Jim Croce e ver o que eles tinham em mim.”, esclarece. Conseguiu um resultado coeso, coerente, com clima de anos 1960 e 70 e uma pegada pop que ultrapassa o estilo popsambalanço dos trabalhos mais recentes.

Com bases a cargo do filho Frederico Heliodoro e de Felipe Continentino, gravadas praticamente ao vivo, em seis horas de estúdio, o disco ficou pronto logo, com mais três horas de gravação de Christiano Caldas no piano Fender Rhodes e no órgão Wullitzer, Affonsinho tocando três violões (bases e solos) e fazendo os vocais. E ainda atuando como operador de gravação. Assumindo um certo ar “vintage” e a vibe dos anos 1960 e 70, ele acertou a mão. Agora, basta reunir o melhor dos dois discos e fazer um novo show. “Simples assim”, como o clima de uma das canções.


O DISCO PELO AUTOR

'Me abraçar' – “Tem uma pegada bem James Taylor na bateria e no baixo. Os violões estão mais para o estilo Harrison de Give me love (acredito). O tema da letra já foi cantado de diversas formas por inúmeros artistas: abraçar e ser abraçado.”

'Sas sies sions' – “Parece ser um título em francês. Na verdade é uma homenagem ao sotaque ‘de pelúcia’ das nossas mineirinhas. Como algumas pessoas ainda debocham dessa frase ‘sassiessions pass nasavass’, resolvi mudar do deboche para uma homenagem cheia de carinho. Sei muito bem a saudade que sentia dessas vozes deliciosas quando morava no Rio. E também sempre me incomodou um pouco o fato de existirem muitas canções para as baianas e cariocas e quase nenhuma para as mineiras. Elas merecem”.

'Planetas e panelas' – “É uma balada até mais brasileira, mas com o violão de cordas de aço ganha essa cara folk. A letra é bem intimista e ‘filosófica’ e, nesse ponto, mais parecida com as coisas do James Taylor.”

'Depois de agora' – “É bem folk mesmo. Também uma letra ‘filosófica’ e intimista, falando dos sonhos que continuam com a gente durante o dia, os sonhos que nos empurram para a frente, para a vida.”

'Simples assim' – “É uma simples balada romântica para a mulher amada. Meio no estilo da levada rítmica de Bluebird, de McCartney (Band on the run), só que muitíssimo mais simples.”

'Pensamento forte'
–“É outra folk com essa ideia de letra ‘metafísica’. O tema da força do pensamento foi largamente usado nos anos 1960 por todos os ‘trovadores’ e, no Brasil, ganhou uma letra linda de Caetano, no samba Força da imaginação, gravado pelo excelente grupo carioca Arranco de Varsóvia.”

'Beijos pra ela' – “É uma canção no estilo Motown, só que com violões de aço. Letra de amor, mas ritmo e palmas baseados nos hits da famosa gravadora americana.”

'Mágica' – “É mais uma com letra que me lembra o jeito ‘intimista’ de James Taylor, mas também as coisas de Cat Stevens, como Father and son. É uma conversa entre duas pessoas. E uma dá conselhos e passa experiências à outra. Essa canção tem a participação especial do cantor e compositor Péricles Garcia, o único convidado no disco.”

'Pertinho dela' –“Acabou sendo uma espécie de bossa, mas com violão de aço, o que a leva para as bossas do James Taylor. É a história de um tímido apaixonado. Foi a última canção composta para o disco e, na verdade, entrou para substituir uma que, por ser uma parceria e ter as burocracias de uma editora para sua liberação, foi deixada de lado. Seria a única canção antiga do disco. Mas foi trocada por uma bossa ‘jamestayloriana’ novinha em folha. E adorei a troca. Música com burocracia não tem a menor graça, principalmente quando optamos por fazer arte do jeito que gostamos e acreditamos.”