Musica

Milton Nascimento comemora 70 anos com lançamento de CD duplo e DVD

Milton comemora também os 50 anos de carreira. Wagner Tiso e Lô Borges fazem participações especiais

Ailton Magioli

Com voz em excelente forma, Milton passa em revista sua trajetória, revisitando clássicos em novos arranjos

Os mais próximos diriam que, aos 50 anos de carreira e 70 de vida, Milton Nascimento está com tudo e não está prosa. Como, aliás, é do feitio discreto do cantor, compositor e instrumentista de origem carioca, que liderou o movimento musical moderno mais importante de Minas Gerais, o Clube da Esquina.


Depois de disponibilizar acervo pessoal, via portal do Instituto Antonio Carlos Jobim e de ter lançada a biografia musical, de autoria do compositor e saxofonista Chico Amaral, Bituca, como o artista é carinhosamente chamado pelos amigos, manda para as lojas o registro em disco (nos formatos CD duplo e DVD) da turnê com a qual já percorreu mais de 100 cidades do Brasil, Europa e América Latina, para comemorar sua travessia rumo ao estrelato.

A dificuldade de locomoção em cena, diante do tipo de diabetes rara que acometeu o artista, continua perceptível. Assim como o timbre de voz cristalino que, na noite de 25 de novembro, quando o projeto foi gravado, ao vivo, no Vivo Rio, com casa lotada. Wagner Tiso, o amigo de Três Pontas, quando ainda sequer sonhavam vir para Belo Horizonte, na década de 1960, e Lô Borges, o caçula da família belo-horizontina da qual se tornou uma espécie de filho mais velho, são os convidados especiais.

No mais, estão em cena com ele os fiéis companheiros de banda: Gastão Villeroy (baixo), Kiko Continentino (piano e teclado), Wilson Lopes (guitarra e violão) e Lincoln Cheib (bateria), além dos sopros de Widor Santiago (sax e flauta), que adotou desde o disco Pietá. Com repertório de clássicos como Vera Cruz, Canção do sal, Promessas de sol, Raça e Maria Maria, Bituca encontrou a formação perfeita para o acompanhar em show, rico em detalhes audiovisuais.

É a partir da genial Cais, no entanto, que o cantor abre o espetáculo, encerrado, naturalmente, com Travessia. Um dos belos momentos em meio a tantos? Canção da América, entoada em uníssono pela plateia, com Milton dando-se ao luxo de apenas segurar o microfone para os fãs. Por mais que a ausência de novidades de repertório deixe parte da crítica incomodada, Milton Nascimento – Uma travessia – 50 anos de carreira justifica-se pela data, marco na vida do artista.

Além do mais, ao próprio Bituca, com o auxílio luxuoso do parceiro Lô Borges, coube atualizar alguns arranjos, tais como os de Para Lennon e McCartney, O trem azul e Um girassol da cor do seu cabelo. Uma das mais recentes criações de Bituca, coincidentemente, inaugura a parceria do cantor com o diretor do show. Trata-se de Sofro calado, de Milton Nascimento e Régis Faria, filho de família historicamente ligada ao cinema brasileiro. Produção requintada, bem ao gosto da ocasião, o show – que será exibido na íntegra pelo Canal Brasil – cativa pelo bom gosto e musicalidade. Mas, a bem da verdade, as novidades fazem falta.

Milton Nascimento – Uma travessia – 50 anos de carreira
Canal Brasil, 15 de setembro, às 17h. A exibição no canal pago traz também bate-papo com a cantora Roberta Sá e exibição do making of da produção.