Musica

Cantores iniciantes investem em especialização e ganham espaço nos palcos da capital

Artistas em começo de carreira falam da emoção de pisar no palco pela primeira vez

Sérgio Rodrigo Reis

A professora de inglês Bela Almeida encontrou parceiros de banda nas redes sociais
Eles são jovens, têm talento e nasceram com lindas vozes. Mas até há pouco tempo, para subir no palco pela primeira vez faltavam espaços que abrissem as portas, escolas especializadas para aprimoramento e coragem… muita coragem. Em Belo Horizonte, a situação tem mudado. Quem hoje tem o sonho de soltar a voz e se tornar um cantor já encontra inúmeras possibilidades e facilidades. Os tempos de redes sociais são outros para os candidatos a cantores.


A professora de inglês Bela Almeida passou por todas as fases. Ela, que nasceu em Pará de Minas e vive e trabalha em BH, cresceu com as pessoas elogiando sua voz. “Por que não canta?” O desafio virou realidade quando a amiga e cantora Carol Romano, da banda Power Muzak, a intimou a procurar o estúdio da professora de canto Camila Jorge. A situação ocorreu em novembro passado e, em pouco tempo, o que era algo distante virou realidade.


A estreia foi em 29 de junho, quando fez a participação no projeto Cante conte comigo. Funciona assim: na apresentação, cada aluno faz um dueto com a professora e, em seguida, interpreta uma música. A experiência não foi fácil. “Passei duas semanas rouca. Era medo. Tinha pouca experiência e estava ansiosa. Quando comecei a aceitar a situação as coisas começaram a melhorar. Mas a tensão permaneceu até subir no palco. O coração ainda estava tão disparado que, na primeira canção, não consegui ter domínio da própria voz. Fiquei anestesiada com aquela luz no meu rosto e ao ver todo mundo ali. Quando acabou, decidi que era aquilo que queria fazer.”


Bela Almeida não só continuou os estudos como decidiu procurar músicos para formar uma banda, o que é um capítulo à parte em sua breve carreira artística. O acaso a levou a encontrar os novos parceiros. Estava na Savassi, comprando uma palheta para violão, quando ao comentar com o vendedor o desejo de formar um grupo para acompanhá-la ele sugeriu entrar numa rede social especializada no assunto. Deu certo. Foi lá que encontrou o guitarrista e violonista Rafael Pinheiro e o baixista Flávio Cardoso. Juntos, fundaram a banda Bela and Others, cuja estreia será nesta quarta-feira, 14, às 21h, no Alfândega Bar, com repertório baseado no pop internacional. Na ocasião, haverá participação do baixista André Borba.


Histórias como a da jovem cantora são cada vez mais recorrentes na capital. A também professora Mariana Magalhães, além do interesse por musicais e pelo teatro, desejava cantar. “Queria ter essa habilidade.” No início foi um “pouquinho difícil”, sobretudo porque não sabia se a própria voz estava soando bem. “A gente sempre acha que canta quando está sozinha. Mas na hora de colocar à prova é que são elas.”

 

Ainda em fase de aprendizado, ela já está se sentindo mais à vontade para se apresentar em público e agora busca um repertório mais autoral. O objetivo, a longo prazo, é se preparar para o teatro musical. Enquanto não chega lá, vai curtindo uma cena que tem tomado conta da noite da cidade, abrindo espaço para novatos. “Cada vez temos mais programas culturais gratuitos e as pessoas estão se sentindo motivadas a participar”, diz.


A prova de teste do pianista Spencer dos Santos será domingo, 18, às 19h, quando estreará como cantor em mais uma edição do projeto Cante conte comigo, no Centro Cultural Camila Jorge, no Bairro Anchieta. “Estou acostumado com o palco, mas, como cantor, será a primeira vez. Dá um pouco de ansiedade”, confessa ele, que se prepara para interpretar na ocasião canções da Legião Urbana e do U2. “Resolvi cantar primeiro para melhorar minha atuação como backing vocal de uma banda de rock local. Gostei.” A experiência de estar sozinho interpretando é desejo antigo. “Sempre tive vontade”, confessa.


Sem inibição

A agenda intensa da professora de canto Camila Jorge é boa medida da tendência que vem se firmando entre novos candidatos a cantores: ela não para. Todos os dias, de segunda a sexta, dá aulas até as 22h e já tem fila de espera de novos alunos. Além das aulas particulares, ainda desenvolve projetos que marcam a estreia dos jovens. No Cante conte comigo, os alunos fazem dobradinha com ela e em Um cantor a cada esquina o espaço é para apresentações solo dos iniciantes.

 

“Neste semestre serão 21 shows”, antecipa a professora, que começou a carreira aos 16 anos, profissionalizou-se dois anos depois e não parou mais. A primeira vez foi marcante. Quando estreou no palco, um espectador mais animado a abordou para cumprimentá-la e soltou uma frase que soou como lição. “Nossa! Parabéns! Por que não procura uma aula de canto?” Na hora ficou meio sem graça, mas depois acabou se sentindo estimulada. “No canto, é preciso insistir.”


O método que desenvolve nas aulas é personalizado. “Meu olhar é de semear. Não de colher. Planto sementes e vejo no que vai dar. É a melhor parte.” Para ela, o palco acaba potencializando as características individuais. “Coloca luz na essência real das pessoas.” Seu método parte de aulas semanais, de 50 minutos, quando ensina teoria e prática. “Trabalho com exercícios que desenvolvem a musculatura das pregas vocais.”

 

De acordo com ela, todo mundo tem um potencial a ser desenvolvido. O que falta, na maioria das vezes, é confiança. “A inibição que criamos impede a revelação do potencial.” Ao quebrar a barreira inicial, o que faz com os novos cantores é abrir caminhos para todos os palcos.