De modo a registrar tal efervescência sônica, gravadoras especializadas pipocaram em vários pontos do planeta, como a Moonjune Records, fundada em Nova York pelo iugoslavo Leonardo Pavkovic, que cresceu e estudou na Itália para, anos depois, se pós-graduar em literatura portuguesa e brasileira. Em 2001, a inspiração para batizar seu recém-criado selo veio da música 'Moon in june', da banda inglesa Soft Machine. Fã confesso de músicos como Frank Zappa, Egberto Gismonti e Keith Tippet, Leonardo agora vem abrir as portas da Moonjune para o trio paulistano Dialeto.
Já com 30 anos de estrada, a banda Dialeto sempre desafiou as categorizações estanques com uma sonoridade instrumental na qual o improviso e a intuição são usados como atiladas ferramentas de exploração. Se o rock progressivo talvez possa lhe servir de espinha dorsal, sua amplitude dos padrões vibratórios se mostra capaz de transcender eventuais limites impostos pelo corpo e pela matéria.
Além do líder, fundador e guitarrista Nelson Coelho, a formação do Dialeto que gravou o CD 'The last tribe' conta com o baterista Miguel Angel (ex-Durex, Sotaque e Okotô) e o baixista Jorge Pescara (que trabalhou com Eumir Deodato e Dom Um Romão, entre outros). Ao longo das 10 faixas, o grupo trava diálogos tão fustigantes e complexos que a única palavra que nos acode para expressar tal comunicação é telepatia. Uma montanha-russa de emoções, com sobressaltos rítmicos, sinistras aclimatações e solos em forma de vertigem.
Se para muitos artistas o virtuosismo se torna álibi para estéreis manifestações de ego, Dialeto se dispõe a subverter a regra, particularmente na devastadora 'Sand horses'. Como possesso por inominável energia sobrenatural, o trio se entrega a um maníaco exercício de domínio técnico. Enquanto blues, flamenco e tango são reduzidos a farrapos pelas estranhas cadências na melancólica 'Tarde demais', 'Windblaster', 'Dorian Grey' e 'Vintitreis' conseguem justapor sem aparente esforço levadas tribais, riffs angulares, sideradas melodias, estranhas permutações harmônicas e erupções de distorção controlada. Ousadias de cair o queixo que tornam Dialeto referência até mesmo entre os mais inclassificáveis valores sônicos de seu tempo.