O encontro foi em abril do ano passado na casa de shows Miranda, no Rio de Janeiro, e sai agora em CD, no ano em que o cantor, compositor e surfista celebra cinco décadas de vida musical. Fã de música brasileira, a ponto de estar estudando português para entender as letras e gravar melhor o repertório que tanto admira, Stacey achou no veterano admirador um eficiente comparsa para uma empreitada pautada pela sofisticação e pela gentileza mútua.
Os arranjos de Marcos e Jessé Sedoc trabalham nos tênues limites entre jazz e bossa nova e conseguem feitos como fazer com que o surrado Samba de verão soe como uma melodia nova, a caminho do mar. A banda, formada por Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Aldivas Ayres (trombone), Luis Brasil (guitarra), Alberto Continentino (baixo acústico) e Renato “Massa” Calmon (bateria) dialoga com o piano acústico de Marcos Valle e as vozes dele e de Stacey Kent com a intimidade de amigos antigos.
Com participação do marido e escudeiro de Stacey, o saxofonista Jim Tonlimson, o disco, de 14 faixas, tanto navega pelo suingue característico de temas antológicos como Pigmalião 70 e Os grilos, como revela um autor mais contido, mas não menos eficiente, como na belíssima La petit valse, com letra do poeta Bernie Beaupere, feita depois que o compositor ouviu a versão em francês que ela gravou de Águas de março. Uma mistura fina.