Musica

Duelo de MCs paralisa atividades por tempo indeterminado

Coletivo Família de Rua não decreta o fim do evento semanal, mas retorno ainda é indefinido

Fernanda Machado

O Duelo deu um novo significado a parte inferior do Viaduto
"É tempo de parar. E por isso, a partir de hoje, 07 de junho de 2013, o Duelo de MCs não acontecerá mais da forma como estamos acostumados, ocupando semanalmente as noites de sexta-feira no Viaduto Santa Tereza". Assim informou o coletivo Família de Rua na última sexta-feira, 7, através do Facebook. O principal movimento da cena hip hop de Minas Gerais, depois de 6 anos contínuos, não tem previsão para voltar à atividade.

 

Além de entraves na negociação com a prefeitura, a decisão tem como objetivo, segundo a nota, “olhar para trás e pensar” no movimento, que, ainda segundo comunicado, passa por um “distanciamento, ou perda, do seu propósito”.


Surgido espontaneamente em 2007, com intuito de levar a cultura hip hop aos espaços públicos de Belo Horizonte, o Duelo de MCs cresceu de forma surpreendente, tanto na produção artística do segmento, quanto na cena cultural da cidade. Referência nacional, o movimento conquistou público cativo dando novo significado a parte inferior do viaduto.

 

Entretanto, a burocracia para viabilizar de forma consistente uma ocupação urbana junto ao poder público, traz inúmeras dificuldades no momento da organização. Esse é um dos motivos centrais para a pausa. "Vamos completar 6 anos agora em agosto e, até agora, não há coisas básicas estabelecidas com o poder público como segurança, limpeza, licenciamento..." revela Pedro Valentim, responsável pela comunicação da Família de Rua. "O diálogo deles com nossa proposta sempre foi muito difícil", completa.


Além daquilo que é produzido artisticamente em música, dança e artes visuais, há também, em igual importância, a preocupação de promover o Duelo de MCs como encontro entre diferentes públicos para vivenciar e celebrar a cultura hip hop, conferindo novo significado à parte de baixo do Viaduto. Porém, com aumento do número de pessoas nos eventos, a relação entre a proposta da Família e o público ficou dispersa.

 

Família deixa incerto até logo aos apreciadores do Duelo
De espaço de celebração de uma ideal de cultura, as sextas viraram "points" também para pessoas que não valorizam e não se envolvem com as ideias inclusas nos eventos. Segundo Pedro "muitas pessoas não entendem a proposta, não respeitam a liberdade dos outros. Há pessoas que vão lá para consumir drogas. Não é essa a proposta do Duelo, é uma questão muito séria que temos que lidar". O representante do coletivo ressalta que o movimento propõe questionamentos sociais, de como as pessoas lidam com a diversidade e convivem com o espaço público.


Essas e outras questões levaram a conclusão de que é tempo de parar. Assim, a Família de Rua acredita obter o distanciamento necessário para analisar a situação e encontrar novas formas de ação. "Foi uma decisão madura e inteligente que tomamos. Sabemos que é importante o movimento para a cultura de rua da cidade, mas é preciso repensar a organização, a ocupação e a forma de comunicar as pessoas sobre os ideais”, esclarece Pedro Valentim, afirmando ainda que o Duelo de MC's não vai acabar. "Ele vai voltar, só não sabemos quando nem como, mas o hip hop continua, outras ações dentro da cena seguem sendo realizadas com o coletivo".

 

*Com Rafael Rodrigues