Musica

Disco de Noel Gallagher mostra quem sempre foi a espinha dorsal do Oasis

High Flying Birds foi lançado recentemente no Brasil

Arthur G.Couto Duarte

Noel Gallagher mostra seu talento longe da sombra do irmão Liam
Espécie de adaptação da história bíblica de Caim e Abel para o rock’n’roll, a saga dos irmãos Liam e Noel Gallagher – felizmente, ainda sem registro de homicídio! – não parece ter chegado a seu fim nem mesmo com a dissolução do Oasis. Ainda se digladiando na esfera jurídica, Noel move processo contra o irmão, no qual não só o acusa de ter interrompido vários shows de sua antiga banda, mas também de quase tê-lo nocauteado com sua guitarra em um camarim. Por seu turno, Liam se referiu a Noel como um “parasita desgraçado” e um “completo idiota” em recente depoimento à imprensa, acusando-o de abusar do repertório do Oasis durante a turnê de divulgação do seu primeiro trabalho solo.
 
Aliás, nesse novo campo de batalha, foi Liam quem saiu na frente com o Beady Eye e seu Different gear, still speeding (2011), porém a cômica fixação do cantor-compositor em John Lennon (vide a faixa The roller, um autêntico caraoquê de Instant karma) e pastiches do próprio Oasis colocam em xeque o talento daquele que um dia recebeu um prêmio da indústria fonográfica com a frase lapidar “aceito que agora sou um gênio, como Deus”. Ponto para Noel, que confrontou a marmita requentada do irmão com seu aditivado High Flying Birds.
 
Lançado há pouco no Brasil pela dobradinha Sour Mash/Universal em uma edição de luxo com um DVD bônus contendo videoclipes, making-offs e o documentário It’s never too late to be what U might have been, o álbum de estreia de Noel não deixa dúvidas sobre quem sempre foi a espinha dorsal do Oasis. Ainda que a voz e a irreverência de Liam sempre estivessem em primeiro plano, foram as superlativas composições de Noel – de estalo, impossível deixar de fora coisas como Don’t look back in anger, Wonderwall ou Live forever quando se pensa nas melhores músicas do rock inglês feitas nos anos 1990 – que proveram estofo ao mito brit-pop. Algo que pode ser atestado novamente na homônima gravação de Liam e seus novos acólitos.
 
Pródigo em referências inusitadas – ao longo da gravação, reverberações do jazz de New Orleans, batidas tecno, house e disco, orquestrações à la Burt Bacharach e Ennio Morricone, acordes lisérgicos e do rock rural norte-americano certamente vão provocar expressões de surpresa no ouvinte –, mas sem se furtar às esperadas retomadas da estética do Oasis, a High Flying Birds mostra seu mentor disposto a ampliar suas fronteiras sônicas. Se o Beady Eye soa como um Oasis sem as músicas daquele, faixas como AKA...What a life, The death of you and me, Dream on e Soldier boys and Jesus freaks mostram que os “pássaros” comandados por Noel Gallagher já alçaram voo para outras paragens, novas alturas.