É ela quem dá a cara do Natal de Belo Horizonte. Isso porque Cláudia Travesso assina os grandes projetos com o Papai Noel da capital. “Faço a decoração de muitos lugares por onde o belo-horizontino passa e o meu trabalho é como um presente para a cidade. Fico muito feliz de saber que as pessoas vão parar e ter um minuto de satisfação”, avalia a empresária, que respira a data há 20 anos. Com mente inovadora, sem perder a tradição, ela enfeita praças, prédios públicos e shoppings.
O projeto da Praça da Estação é o mais imponente deste ano. À frente da Futuro, Cláudia trabalhou para realçar a beleza do lugar que recebeu boa parte da programação do aniversário de 120 anos da cidade. “Quis transformar a Praça da Estação em um cartão-postal de Natal de BH, então coloquei guirlandas, laços, anjos, árvore e muitas luzinhas, que é o que as pessoas esperam do Natal”, descreve.
Para a decoradora, são as luzes que dão o brilho da data, por isso ela abusou da iluminação. A fachada do Museu de Artes e Ofícios se encheu de microlâmpadas brancas e amarelas.
Todos os elementos são posicionados na base do equilíbrio e na amarração de fitilho. Especialmente nesse projeto, já que existe a preocupação de preservar a fachada do museu, patrimônio cultural tombado da cidade, a decoradora não pode trabalhar com pregos ou cabos. Nem fita dupla face ela tem utilizado, depois que começou a perceber que a cola acaba estragando a pintura.
Dessa vez, Cláudia não criou a decoração da Praça da Liberdade, “apenas” coordenou a execução do projeto, mas continua a falar com muito carinho do lugar, afinal, ela foi a responsável pelos enfeites desse ponto turístico por muitos e muitos anos. Na opinião dela, é o Natal que mais está na memória do belo-horizontino. “Não estou triste, não, achei que estava na hora disso acontecer. Sempre tive uma preocupação muito grande com esse projeto, mais que os outros, de não ter ninguém para passar o bastão, de não poder nem adoecer.” A decoração, voltada para o aniversário de BH, é da arquiteta de Divinópolis Maria Carolina de Assis Quadros, que venceu concurso promovido pela Cemig.
O mérito de Cláudia foi mudar, no início da parceria com a empresa de energia, a cara do Natal da Praça da Liberdade, que antes se resumia a luzinhas. Pensando principalmente nas pessoas que saem de longe para o passeio, ela propôs incluir instalações interativas, atrações culturais e trabalhar temas diferentes a cada ano. “O Papai Noel exerce uma influência grande nas crianças, então a data não precisa ser fútil. Podemos fazer dela algo muito útil”, avalia. No ano em que se falou sobre preservação do patrimônio, ela lembra que houve o menor número de atos de vandalismo.
Outro projeto tradicional da cidade que está nas mãos de Cláudia é o da Avenida Barbacena.
ANO DOURADO
Para encontrar o Papai Noel no mês de dezembro, costuma-se ir aos shoppings. Tradicionalmente, eles recebem crianças que visitam o Bom Velhinho para tirar fotos, por isso não se pode dispensar uma bela decoração. Cláudia responde pelo projeto de três centros de compras de BH, entre eles o Minas Shopping, onde está o mais diferente que ela já fez. A inspiração é do belo-horizontino Marco Túlio Matos Vieira, criador do canal AuthenticGames no YouTube, que virou celebridade da internet e hoje tem mais de 11 milhões de seguidores. “Não tem Papai Noel, boneco de neve ou nenhuma outra tradição. É tudo muito tecnológico, com realidade aumentada, óculos 3D e projeção em 360 graus. A única coisa convencional que usei de Natal é o laço veludo de vermelho, porque coincidentemente a namorada do youtuber tem na cabeça”, comenta. Novidade também é uma versão do trono do Papai Noel para os pets.
Tempo de renovação Cláudia Travesso se define como uma apaixonada pelo Natal. Para ela, a data é marcante não apenas pelo significado de renovação, mas também pelos encontros familiares. “Penso que o Natal influencia muito a nossa vida, porque nos faz renovar as energias e acaba funcionando como um rito de passagem, fim e começo da história. Além disso, é uma das poucas datas em que, independentemente de religião, cria-se um momento de confraternização muito importante.” Desde pequena, ela sabia que era a época em que veria os tios mais distantes.
A empresária não se esquece da primeira árvore que decorou. Na época, com 19 anos e recém-casada, ela morava na Suíça e ficou fascinada com a variedade de enfeites. “A árvore era até pequena para tanta enfeite que queria colocar. Todo dia a gente acendia as luzes para jantar.” O acervo natalino aumentou ao longo dos anos e a decoração da sua casa ficou cada vez mais sofisticada. Até que um dia ela foi chamada para decorar a árvore de um amigo, depois do escritório do marido, e assim começou a oferecer o serviço para as empresas, batendo de porta em porta.
Depois de vender as suas lojas de roupa, Cláudia assumiu a missão de profissionalizar a decoração de Natal. Até então, eram as secretárias quem enfeitavam as árvores das empresas. Para que atendesse o mesmo cliente no ano seguinte, a empresária lançou a ideia de aluguel das peças. “Como acho que o Natal é uma data de renovação, gosto de variar a cada ano. Mesmo dentro do tradicional dá para fazer bem diferente, mudo o material, a forma de montar a árvore.” Escolhido o modelo, a equipe monta, decora, ilumina e depois do Natal desmonta. São tantas opções que as peças ocupam dois galpões.
Atualmente, além de decorações residenciais, a empresária desenvolve projetos para empresas, hotéis, hospital, clube, condomínio e até cidades inteiras (neste ano, ela ficou responsável pelos enfeitem que iluminam as ruas de Congonhas, Santa Bárbara e Contagem).
Natal segue moda? Seguir a tradição não é suficiente. O trabalho exige pesquisas constantes para descobrir o que tem sido lançado em todo o mundo. Cláudia participa todo ano de uma feira na Alemanha e já perdeu a conta de quantas vezes viajou para a China. Além de fazer decoração, ela atua como consultora de compras de uma importadora de produtos natalinos. “Isso significa ditar um pouco a moda do Natal no Brasil, então preciso estar um passo à frente. Qual cor vai pegar? Qual a proporção da árvore? Além disso, tento sempre considerar o que o brasileiro, principalmente o belo-horizontino, está buscando”, pontua.
Natal se resumia a Papai Noel, anjo e boneco de neve. Hoje até a rena, tão marginalizada, está ganhando mais espaço, assim como coruja, esquilo, borboleta, pássaro e outros bichos que viraram enfeite. Talvez por isso as árvores com tema pet venderam como água. Em termos de cores, tifany, que por estar entre dourado e prata consegue combinar com quase tudo, mas a tradição. “Como vou à China e compro mais de 40 containers de produtos posso dizer que o vermelho e o dourado predominam no Natal. Até tenho nas lojas Papai Noel azul, verde-água, mas representam pouco em termos de venda”, conta.